Descrição de chapéu Financial Times

China precisa atacar desinflação com US$ 1,4 tri, dizem economistas

Analistas estimam que valor seria necessário para reaquecer economia e vender estoque de imóveis

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Joe Leahy Thomas Hale
Pequim | Financial Times

A China precisa gastar até US$ 1,4 trilhão (R$ 7,83 trilhões) em dois anos em fundos de estímulo para reaquecer sua economia e retomar o crescimento sustentável, disseram economistas de bancos de investimento, à medida que crescem as preocupações de que as pressões deflacionárias estão se fortalecendo.

O estímulo, que seria até 2,5 vezes o que foi gasto no país após a crise financeira global de 2008, precisaria ser voltado para as famílias com gastos em bem-estar social em vez de investimentos e infraestrutura, avaliam os especialistas.

Centenas de apartamentos vazios em Zhengzhou, na região central da China
Centenas de apartamentos vazios em Zhengzhou, na região central da China - Pedro Pardo/AFP

Eles alertaram que a questão estava se tornando mais urgente —quanto mais a deflação se enraizasse, mais custaria dissipá-la através de medidas de estímulo. As estimativas destacam o tamanho do desafio dos formuladores de políticas chineses enquanto tentam recuperar o crescimento na segunda maior economia do mundo.

"Quanto mais tempo a deflação permanecer, maior será a necessidade de reaquecer a economia," disse Robin Xing, economista-chefe da China no Morgan Stanley.

Em decorrência de uma prolongada desaceleração do setor imobiliário, as famílias reduziram os gastos e aumentaram as economias, com a taxa de poupança das famílias ajustada sazonalmente no segundo trimestre em cerca de 31%, de acordo com o Goldman Sachs.

O governo chinês respondeu à queda na confiança do consumidor injetando empréstimos no setor industrial, confiando na manufatura e nas exportações para manter a economia funcionando enquanto o setor imobiliário lida com um enorme excesso de casas não vendidas. Mas isso também aumentou a oferta de bens de consumo em um momento de baixa demanda, agravando a deflação.

O país estima um crescimento real do PIB de 5% este ano. Mas os economistas disseram que as pressões deflacionárias estavam atingindo o crescimento nominal, que foi de 4% no segundo trimestre na comparação anual, prejudicando os lucros corporativos e levando a demissões e cortes salariais.

O índice de preços ao produtor da China está em território deflacionário há 23 meses, com dados divulgados na segunda-feira (9) mostrando que ele caiu 1,8% em agosto na comparação com o mesmo período de 2023, pior do que previam os analistas. O índice de preços ao consumidor teve um desempenho um pouco melhor devido aos custos voláteis dos alimentos, mas tem sido principalmente estável.

Xing, do Morgan Stanley, disse que em um "cenário otimista", Pequim poderia emitir US$ 1,4 trilhão em fundos de estímulo ao longo de dois anos — US$ 980 bilhões para aumentar os gastos com bem-estar social para os 250 milhões de chamados trabalhadores migrantes da China, que recebem benefícios pelos sistemas de pensão e saúde existentes. Os outros US$ 420 bilhões seriam usados para acelerar a venda do enorme estoque de imóveis da China e estabilizar no menor tempo os preços das propriedades.

Ele calculou que isso exigiria um aumento anual no déficit orçamentário ampliado da China —que inclui todos os níveis de gastos do governo— de 11% para 14% do PIB. Mas eliminaria as pressões deflacionárias e impulsionaria o crescimento econômico nominal acima de 5% nos próximos anos. Se a China seguir o status quo, disse ele, as pressões deflacionárias empurrariam o crescimento real para cerca de 4% em 2024 e 2025.

Hui Shan, economista-chefe da China no Goldman Sachs, afirmou que a China precisa de cerca de US$ 420 bilhões para estabilizar o mercado imobiliário e mais US$ 140 bilhões para governos locais com dificuldades financeiras, o que permitiria ao governo realizar reformas sociais necessárias, como o aumento do seguro-desemprego.

"Você precisa dar às pessoas a confiança de que o governo está ajudando o povo, não apenas construindo mais infraestrutura ou seguindo o antigo manual de estímulo. Então você precisa de cerca de US$ 700 bilhões apenas para ter um impacto significativo," disse ela.

Chris Beddor, vice-diretor de pesquisa da China na Gavekal, estimou que a China precisava de entre US$ 420 bilhões e US$ 1,12 trilhão em transferências diretas para as famílias para "retornar o consumo das famílias à tendência pré-pandemia".

Larry Hu, economista-chefe da China no Macquarie, concorda que um valor entre US$ 700 bilhões e US$ 1,4 trilhão seria uma estimativa "razoável" para o dinheiro necessário para reaquecer a economia.

O valor final dependeria do objetivo a ser alcançado: atingir a meta de crescimento real do PIB de 5% ou acabar com a deflação agora. "O último exige muito mais do que o primeiro", avaliou Hu.

Fred Neumann, economista-chefe da Ásia no HSBC, disse que US$ 700 bilhões seria um número "básico" para estabilizar os preços.

"Há um fenômeno aqui onde há uma falta de confiança, essa taxa de poupança das famílias muito alta, por exemplo. As pessoas não querem gastar. Então, é realmente sobre trazer a confiança de volta, em vez do tamanho do pacote," analisou.

A China anunciou uma série de medidas menores para aumentar a confiança, como esquemas de troca de eletrodomésticos e atualizações de equipamentos industriais para impulsionar o consumo, mas medidas relevantes muitas vezes perdem seu impacto, disse Neumann. "É por isso que 'choque e pavor' às vezes é a abordagem certa," definiu.

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