Descrição de chapéu mudança climática

Conab projeta alta de 12,8% na nova safra de soja do Brasil, mas alerta para clima

Entidade destaca que ainda não se sabe como vai se desenvolver o La Niña; depois do recorde neste ano, produção de carne deve cair em 2025

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Roberto Samora
Reuters

A safra de soja do Brasil na temporada 2024/2025 poderá atingir um recorde de 166,28 milhões de toneladas, alta de 12,82% ante o ciclo anterior, segundo uma avaliação inicial publicada nesta terça-feira (17) pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que alertou para eventuais impactos do clima.

Num cenário de condições climáticas normais, a safra de soja no maior produtor e exportador mundial poderia crescer com uma combinação de maior área plantada e melhores produtividades, apontou a Conab, em seu relatório Perspectivas para a Agropecuária.

A área plantada com soja no Brasil pode crescer 3%, para históricos 47,4 milhões de hectares, acrescentou a Conab.

A imagem mostra uma vista aérea de uma paisagem agrícola, com campos de diferentes tonalidades de marrom e verde. Há uma grande área circular de solo arado em marrom escuro, cercada por campos verdes e um caminho de terra que se curva ao longo da borda da área cultivada. O céu está parcialmente nublado, com algumas nuvens visíveis.
Canal de irrigação atravessa uma lavoura de soja em uma fazenda na zona rural de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. - Lalo de Almeida/Folhapress

A produtividade tende a apresentar recuperação, após problemas climáticos nos principais estados produtores brasileiros, disse a estatal. Mas o clima é fator de atenção.

"Não sabemos como vai se desenvolver [o La Niña], como estamos em processo de mudanças climáticas muito acentuado, principalmente com elevações expressivas das temperaturas", afirmou o diretor-executivo de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto, durante a apresentação dos dados.

NOVO ATRASO NO PLANTIO

Ele citou que o Brasil esteve com temperaturas nos últimos 14 meses acima das médias históricas.

"Isso é muito significativo", declarou. "Estamos de certa forma vivendo este momento agora [de mudanças climáticas], algo bastante preocupante."

Porto notou que "possivelmente" o Brasil terá um novo atraso no plantio "em função das chuvas que ainda não chegaram".

"Não sabemos se este atraso será intenso, ou se as chuvas serão muito irregulares, temos aí grande complexidade em relação ao acompanhamento da safra que vai se iniciar", disse ele.

No ano passado, o plantio da soja também atrasou e as chuvas foram bastante irregulares, de forma atípica em Mato Grosso, gerando problemas de produtividade.

"Portanto, diria que o que está sendo lançado é um olhar a partir de dados históricos. Irá acontecer efetivamente? A Conab estará acompanhando", comentou.

A produtividade média foi estimada em 3,5 toneladas por hectare, alta de 9,6% após a seca e as enchentes terem afetado os resultados das lavouras no ciclo anterior.

Neste primeiro momento, a Conab utilizou modelos estatísticos para realizar as estimativas da nova safra, cujo plantio está sendo iniciado nas áreas que receberam as primeiras chuvas.

O primeiro levantamento da companhia, com base em pesquisas de campo, será divulgado em meados de outubro.

Segundo a Conab, mesmo com a pressão baixista nos preços nacionais e os desafios de rentabilidade, a oleaginosa continua a ser uma "cultura lucrativa e com alta liquidez."

"A crescente demanda global, impulsionada pelo aumento do esmagamento e pela expansão da produção de biocombustíveis, tanto no Brasil quanto internacionalmente, alimenta expectativas de crescimento nas exportações e no esmagamento interno", afirmou.

MILHO EM ALTA

A safra total de milho foi estimada em 119,8 milhões de toneladas, alta de 3,58% versus o ciclo passado, considerando um aumento marginal de 0,14% na área plantada, para 20,99 milhões de hectares, com o restante do aumento previsto vindo de melhorias na produtividade.

A segunda safra de milho, plantada somente no início do próximo ano, após a colheita da soja, teve uma área estimada em 16,49 milhões de hectares, com alta de 0,92%.

Com isso, a safra de inverno do cereal cresceria 4,14%, para cerca de 94 milhões de toneladas.

A Conab estimou a produção de algodão em pluma em novo recorde de 3,675 milhões de toneladas (pluma), alta de 1%, com a área plantada superando 2 milhões de hectares, com avanço de 3,2%.

A produção total de grãos e oleaginosas foi estimada em recorde de 326,9 milhões de toneladas em 2024/25, alta de 8,2%, com expectativa de recuperação da soja.

De acordo com a análise da Conab, a projeção é de um incremento na área destinada ao arroz na temporada 2024/2025 "mais intenso" do que o identificado na safra 2023/2024, por conta de preços e melhora na rentabilidade. Com isso, a perspectiva é de uma alta de 11,1% na área destinada para o grão, e uma produção estimada em 12,1 milhões de toneladas, "recuperando o volume obtido na safra 2017/2018".

A companhia destacou ainda que, pela primeira vez, o estudo Perspectivas para a Agropecuária é realizado em parceria com o Banco do Brasil.

"Trata-se da materialização do início de parceria inédita firmada entre a Companhia e o Banco do Brasil, por meio de Acordo de Cooperação Técnica, que abrangerá atividades de pesquisa, de desenvolvimento, de treinamento, de intercâmbio de tecnologias e de metodologias, de produção de informações agropecuárias e de ações promocionais conjuntas em feiras e eventos estratégicos para as instituições", afirmou.

PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA DEVE CAIR EM 2025

A produção de carne bovina do Brasil, que deve bater recordes em 2024 na esteira de exportações históricas e um consumo interno firme, está estimada em 9,78 milhões de toneladas em 2025, queda anual de 4,3% com uma reversão do ciclo de oferta de gado, avaliou Conab.

"Vemos um início do movimento de reversão do ciclo pecuário, após intenso descarte de fêmeas em 2024 e 2023", disse a Conab, notando que a oferta de animais para abate deve ser revertida no ano que vem.

Em 2024, os abates estão em níveis recordes, e a produção de carne bovina deverá superar 10 milhões de toneladas (equivalente carcaça) pela primeira vez na história em um ano, com aumento de cerca de 7,5% ante 2023.

Segundo o especialista da estatal Gabriel Rabello, os pecuaristas tendem a segurar mais as fêmeas em 2025 após um período de intenso descarte.

Ele citou que preço do bezerro parou de cair, o que faz com que os produtores retenham suas fêmeas, reduzindo a disponibilidade para abates.

A exportação de carne bovina do Brasil, maior exportador global desse produto, foi estimada em 3,66 milhões de toneladas no ano que vem, ainda com um avanço de 2,5% na comparação com 2024, apesar de uma queda na produção.

Já a produção brasileira de carne de frango deverá aumentar 2,1% ante 2024, para um recorde de 15,5 milhões de toneladas, enquanto a exportação deverá avançar 1,9% no ano que vem para 5,2 milhões de toneladas.

O Brasil, que também é o maior exportador de carne de frango, deverá se beneficiar da "enorme vantagem competitiva" em relação a outros países que vêm registrando casos de gripe aviária. Além disso, a conjuntura de câmbio deixa o produto nacional mais competitivo no mercado internacional, disse Rabello.

A produção de carne de frango também deverá ser impulsionada por uma possível alta de preço na carne bovina, cuja produção se espera que recue.

"A carne de frango é opção mais barata, e com os preços de soja e milho mais controlados, ela tende a ter custo mais baixo, vai resultar em preço mais acessível", disse o especialista.

Já a produção de carne suína do Brasil deverá aumentar 1,6% no ano que vem, para 5,45 milhões de toneladas (equivalente carcaça), para novo recorde, mantendo trajetória de crescimento dos últimos anos.

O Brasil, terceiro exportador global de carne suína, atrás de Estados Unidos e União Europeia, deverá embarcar para o exterior 1,27 milhões de toneladas, com alta anual de 3%.

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