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Samarco quer retomar 60% de produção anterior à tragédia de Mariana até início de 2025

Mineradora responsável por desastre ambiental vê empilhamento de rejeito como principal desafio para expansão

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Belo Horizonte

A Samarco quer começar o ano que vem produzindo 60% da quantidade de minério de ferro que registrava antes da tragédia de Mariana, em 2015. A mineradora, que está em recuperação judicial, retomou as atividades na cidade ainda em 2020 e hoje opera com 30% de sua capacidade instalada.

Para chegar a esse nível de produção, a empresa espera expandir o processo de filtragem dos rejeitos gerados na operação, tecnologia adotada pelas mineradoras após os desastres de Mariana e Brumadinho. Isso porque a empresa quer manter 80% de seus rejeitos a seco e não mais lamoso, como era antes do desastre.

Usina de concentração de minério no complexo de Germano, da Samarco, em Mariana
Usina de concentração de minério no complexo de Germano, da Samarco, em Mariana - Credito Otávio Honorato/ divulgação.

Na maioria das operações de extração de minério de ferro em Minas Gerais, as mineradoras utilizam grandes quantidades de água e compostos químicos para aumentar o teor do minério extraído.

Esse procedimento, porém, resulta em rejeitos lamosos, como aqueles liberados após o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho –quanto menor o teor do minério, mais lama é gerada. Agora, para evitar tragédias semelhantes, algumas mineradoras, como Vale e Samarco, têm filtrado parte dessa lama e empilhado o produto a seco.

No caso da Samarco, só há filtragem de 80% do rejeito; os outros 20% são despejados em uma cava antes usada para a extração de minério. Especialistas pontuam, porém, que ainda que o empilhamento a seco seja mais seguro que o despejo em barragens, pode haver deslizamento das estruturas caso a umidade das pilhas não seja monitorada frequentemente.

De acordo com o diretor de operações da Samarco, Sérgio Mileipe, o processo de filtragem é a parte mais complicada da operação, o que faz a empresa planejar sua retomada de forma gradual até 2028, quando se espera que a produção volte ao total da capacidade instalada.

"A gente levou esse conceito de retomada gradual para garantir a segurança, e a maneira mais segura possível seria fazendo esse movimento de empilhamento a seco, o que requer licenciamento ambiental e muita área", diz Mileipe. Esse último ponto, aliás, é outro desafio para as operações, já que o empilhamento a seco dos rejeitos exige que a empresa tenha área suficiente para seu depósito.

Só quando essa expansão do empilhamento a seco estiver pronta é que a empresa poderá acionar suas outras usinas de concentração do minério em Mariana e, consequentemente, de pelotização no Espírito Santo.

Hoje, mais de 95% do minério de ferro extraído pela Samarco vai para a usina da empresa em Anchieta (ES), onde a mineradora transforma o minério em pelotas, material de maior valor agregado que é exportado, em grande parte, para siderurgias da Europa e do Oriente Médio. Ao contrário da Vale, maior mineradora de ferro do país, a Samarco exporta pouco para a China.

Nesses casos, a empresa precisa aumentar o teor do minério, ainda em Mariana, de 43% para mais de 66%, nível hoje cobiçado pelo mercado internacional, principalmente em meio à transição energética –para se produzir um aço com menor pegada de carbono, é necessário minério de ferro de alta qualidade. Essa é uma das justificativas da expansão da mineração de ferro, por exemplo, no Pará, onde o minério extraído tem teor mais alto.

Desde a semana passada, a Samarco também começou a comprar minério já concentrado, e com teor acima de 65%, de outras mineradoras em Minas Gerais para alimentar suas usinas de pelotização no Espírito Santo e, a partir daí, aumentar a fabricação de seu produto final.

"Isso aí é um movimento que a gente tem para buscar alternativas de fornecimento no mercado, para poder incorporar a nossa capacidade de produção. Mas em larga escala é pouco viável", diz Mileipe. Ele não quis revelar valores de quanto dos 15 milhões de pelotas a serem produzidas até o início do ano que vem virão de minério de terceiros.

O aumento da produção da Samarco é aguardado com ansiedade pela gestão municipal de Mariana. Conforme a Folha noticiou em julho, o município vive um crescimento populacional desde a tragédia devido à contratação de funcionários para as obras de reparação administradas pela fundação Renova, criada pela Samarco e custeada pela Vale e BHP Billiton, donas da mineradora.

Do rompimento até hoje, por exemplo, o número de atendimentos diários na saúde básica da cidade triplicou, saltando de 400 para 1.200, segundo a gestão municipal. Além disso, a prefeitura calcula que a cidade tenha hoje uma população flutuante de 35 mil habitantes (fixa é de 61 mil, segundo o IBGE).

"Essas pessoas vieram e não vão mais embora porque aqui ficou a expectativa de novas oportunidades, e hoje elas ocupam espaços irregulares. Há hoje mais ou menos 5.000 famílias morando em áreas irregulares", disse o prefeito da cidade, Celso Cota, à Folha em julho.

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