Interatividade e produção sob demanda dão gás à literatura infantil

Gênero teve o maior faturamento do setor de janeiro a setembro do ano passado

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Mulher de óculos e camisa azul com cotovelo apoiado em livros
Gislene Gambini, dona da livraria especializada em livros para crianças NoveSete - Jardiel Carvalho/Folhapress
Tatiana Vaz

A literatura infantil no Brasil teve um salto de qualidade estética, visual e narrativa nos últimos anos, segundo especialistas na área. A mudança resultou em prêmios no exterior e em maior interesse do público.

De acordo com um estudo do Sindicato Nacional de Editores de Livros, com base em dados da Nielsen até outubro de 2018, o gênero tem o maior faturamento do setor —24,01% do total, de janeiro a setembro do ano passado. Comparado ao mesmo período do ano anterior, os preços dos títulos subiram 7,30%.

Aberta em 2007 na zona sul de São Paulo, a livraria NoveSete conta com um acervo de 15 mil livros infantojuvenis. 

A proprietária, Gislene Gambini, 63, é quem faz a curadoria de todas as obras, recebidas tanto de grandes editores quanto de autores independentes. “Minha preocupação é vender um produto de qualidade”, diz.

Gislene diz que é difícil fechar a conta. Segundo ela, a NoveSete não indica livros a pedido de editoras e fica com uma margem pequena das vendas. Houve épocas em que teve prejuízo, mas hoje a livraria fecha as contas no azul.

A concorrência no segmento tem crescido nos últimos anos. Clubes de assinatura que entregam obras em casa têm ganhado espaço e alcançado lugares onde não há lojas físicas —apenas 1.527 dos 5.570 municípios brasileiros têm livrarias e 55% delas estão nas regiões Sul e Sudeste.

Um dos primeiros clubes de leitura destinado à primeira infância, A Taba foi idealizado pela pedagoga Denise Guilherme, 41, em 2013.

Ela deu aula para professores antes de trabalhar com curadoria de livros em bibliotecas de instituições públicas e privadas. Decidiu abrir o clube depois de criar um blog com resenhas de livros e detectar o interesse pelo tema.

“Montei um grupo de especialistas em literatura para crianças e, no primeiro ano, lemos centenas de livros para selecionar os melhores. Ter mais concorrentes nos ajuda a divulgar a ideia do clube, mas nosso diferencial é a curadoria”, diz.

A Taba não faz divisões de leitores por idade e sim por experiência. As opções vão de livros para bebês até obras para crianças maiores.

Denise não abre números, mas diz que os assinantes triplicaram no último ano e duplicaram no anterior. O kit de assinaturas chega com um livro selecionado, uma explicação sobre o autor e a obra e mapa de atividades.

“Não fechamos acordo para enviar livros recorrentes de uma única editora, prezamos pela qualidade e diversidade e pretendemos seguir assim”, afirma a empresária.

O mercado parece promissor também para startups, como é o caso da Dentro da História, criada em 2012 por quatro empresários de ramos distintos. Um deles, André Campelo, 34, chegou a criar um divulgador de histórias em vídeo, na época chamado de YouTube dos livros.

“A ideia não vingou, mas foi a semente para o surgimento da Dentro da História, que agora estamos levando para a Europa com a nossa marca internacional, a Playstories”, diz.

Na Dentro da História, pais e filhos podem personalizar uma das 30 narrativas disponíveis na plataforma com personagens licenciados, como os da Turma da Mônica e Show da Luna.

Desde sua criação, a empresa já vendeu mais de 250 mil livros. Hoje conta com 30 funcionários e um faturamento de R$ 12 milhões. Os custos só são gerados a partir do pagamento da impressão dos livros.

Com três sócios, Campelo investiu R$ 300 mil na nova empreitada. No Brasil, o conteúdo custa R$ 69,90 mais frete; na Inglaterra e Espanha custará € 29 (R$ 124,10).

Enquanto há startups que fazem produção em série de livros, profissionais independentes trabalham em grupo para criar volumes costurados à mão, cheios de dobraduras e feitos de papéis especiais. É o caso da BabaYag, criada em 2016 por profissionais do setor editorial.

As obras mais artesanais são vendidas em feiras independentes. “Essa liberdade de criação acaba por nos ajudar também no nosso trabalho para as editoras”, diz a escritora Carolina Moreyra, 43, sócia-colaboradora da BabaYag.

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