Comércio cria estratégias para minimizar uso de plástico e embalagens

Soluções variam de acordo com o setor de cada empresa

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São Paulo

Reduzir o lixo produzido por embalagens demanda tempo e dinheiro. Em momentos de crise, em que os recursos são escassos, a tarefa é ainda mais desafiadora.

O esforço em encontrar alternativas sustentáveis, porém, é valorizado por número crescente de consumidores, segundo Fernanda Iwasaka, do instituto Akatu, que difunde o consumo consciente. 

Cada setor tem seu caminho para minimizar o impacto das embalagens, afirma a analista. Um exemplo é o investimento no comércio a granel, solução encontrada por empresas no varejo de alimentação.

A Isso É Café, que vende grãos no atacado e no varejo em um galpão no centro de São Paulo, oferece desconto de 15% para quem levar o próprio recipiente em vez de comprar o café embalado.

Com isso, o pacote de 250 gramas cai de R$ 24 sai para R$ 20. 

Funcionou: hoje, a maioria dos consumidores finais já adotou o sistema. Já entre os quase 80 clientes de atacado distribuídos pelo país, o processo ainda está no começo e esbarra na logística, porque o recipiente que abriga o café precisaria ir e voltar, o que pode encarecer o preço.

Empresa de cosméticos veganos e naturais, a Baims usa estratégias de combate à produção de lixo desde seu lançamento, em 2015.

A marca faz embalagens de bambu, em vez de plástico, e oferece refil para produtos em pó, como sombra e blush.

Há dois anos, o isopor usado para preencher espaço nas embalagens que envolvem a maquiagem vendida pela internet, foi substituído por um material feito a partir do milho, que se desfaz em contato com a água e pode ser descartado com lixo orgânico.

"Não lançamos novidades a cada dois meses, mas investimos em tecnologia, em laboratórios orgânicos e em trabalhar melhor a reciclagem", diz Fabiana Kherlakian, responsável pela comunicação.

A Amaro, loja online de roupas femininas, vai começar a substituir o plástico comum, que envolve as peças enviadas para a casa do comprador, por uma versão feita com material reciclado retirado do oceano.

Esse saco ainda é revestido por outra embalagem, que pode vir em versão ecológica se o cliente quiser. São duas opções 100% recicláveis a depender do tamanho do pedido: uma embalagem de papelão e outra tipo envelope, que ocupa menos espaço no caminhão e permite diminuir o número de entregas.

"Estamos dispostos a fazer esse movimento e sabemos que a reação das clientes está sendo positiva. A mudança não tem impacto na decisão de compra, mas muda a percepção da marca ao longo do tempo", diz Denise Door, diretora de marketing da Amaro.

A marca ainda tem uma versão de embalagem não ecológica, para presentes.

Mesmo lojas de presentes têm buscado alternativas. É o caso da Amoreira, instalada no Alto de Pinheiros, que vende desde cadernos de R$ 25 a joias de R$ 3.000.

Há cinco anos, as sócias, Cristina Rogozinski e Fernanda Rezende, resolveram colocar em testes o sistema usado hoje. "Abra mão da sua sacola", diz uma mensagem no caixa da loja.

O consumidor pode optar por reutilizar sacolas de outras marcas, que a Amoreira recebe e oferece.

Toda vez que um cliente aceita, a Amoreira faz uma doação de R$ 3 para a ONG Trapézio, que trabalha com educação. Em datas como Natal, quando o movimento é mais intenso, cerca de 150 sacolas são economizadas.

Com a ideia, a Amoreira consegue atender tanto a pessoa que não abre mão da embalagem tradicional quanto aquele que vem para uma compra mais simples, como uma granola, diz Fernanda.

Com um ano de vida, a Mapeei —uma Vida sem Plástico, dedicada a produtos que incentivam a diminuição de lixo residencial, dobrou sua loja física de tamanho e ganhou um ecommerce nacional.

As sócias Lívia Humaire e Lori Vargas vendem entre outros itens escova de dentes de bambu, bioembalagens) e bag de geladeira (armazena folhas e legumes), sem nada de plástico.

Essa exigência —evitar o plástico— também faz parte do protocolo seguido pelos fornecedores da loja, que fica em uma galeria da rua Augusta, no centro de São Paulo. Tampas, caixas, sacolas e qualquer item com esse material não são aceitos na entrega.

Além disso, a marca também não dispõe de sacolas ou embalagens, não usa plástico para revestir lixeiras e adota retalhos de papelão para marcar valores dos produtos.

Para entregar as peças compradas pelo site, a Mapeei reaproveita caixas utilizadas pelos fornecedores ou caixas de sapato coletadas pelas sócias.

"Não é que o plástico seja vilão. Ele não pode ser cortado de muitos setores, como o hospitalar. Mas a indústria criou tantos usos para esse material, que virou um problema ambiental. Hoje conseguimos encontrar diferentes soluções para evitá-lo no comércio", diz Livia Humaire.

"Não devemos demonizar as embalagens", afirma Fernanda Iwasaka, do Akatu. "São parte importante da logística dos produtos. Mas começamos a mudar um paradigma."

Cristina Rogozinski, da Amoreira, afirma: "Você pode se inspirar em modelos novos, em algo supermoderno que está sendo feito Japão. Mas, às vezes, a solução está no cotidiano. Nós nos inspiramos na nossa avó, que guardava embalagens de presente em uma gaveta e as reutilizava. Não são coisas diferentes e loucas, não pagamos uma consultoria chique", diz.

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