Redes de franquias se adaptam e seguem em expansão mesmo com a crise

Juros baixos e falta de oportunidades no mercado de trabalho levam mais pessoas a investir no setor

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São Paulo

Um ano após o início da pandemia, as franquias seguem sentindo os efeitos das medidas de restrição à circulação de pessoas e ao funcionamento dos shoppings. O setor sofreu uma queda de 11,4 % no faturamento no período de abril de 2020 a março de 2021 em relação aos 12 meses anteriores.

Os impactos foram diferentes de acordo com o segmento. O de hotelaria e turismo, por exemplo, registrou a maior redução de receita (-60,2%), seguido pelo de entretenimento e lazer (-33,7%).

Na contramão, existem os setores que cresceram, como o de casa e construção (19,6%) e o de saúde, beleza e bem-estar (6,1%). Isso sinaliza uma clara mudança de comportamento do consumidor, que passou a investir mais em reforma da casa e mobiliário e priorizou compras essenciais, como medicamentos e outros itens associados à saúde.

Jairo Malta

“Com shoppings fechados e as pessoas só comprando comida e remédio, podemos dizer que as redes foram resilientes”, diz André Friedheim, presidente da ABF (Associação Brasileira de Franchising). Antes da pandemia, o setor havia projetado um crescimento de 8% para 2020.

No início de 2021, as franquias ensaiavam uma recuperação, mas a segunda onda de restrições impactou os números do primeiro trimestre, com queda na receita de 4% em relação ao mesmo período de 2020. Porém, continuaram expandindo, com alta de 3,3% na abertura de unidades, contra 2,3% no mesmo período do ano passado.

Segundo Friedheim, o aumento na abertura de lojas é reflexo tanto da falta de perspectivas no mercado de trabalho, o que leva muitos profissionais a buscar nas franquias uma oportunidade para empreender, quanto do cenário macroeconômico de juros baixos, que empurra investidores para taxas de retorno mais altas a partir do aporte em novos negócios.

No primeiro trimestre de 2021, alguns segmentos permaneceram em alta, como casa e construção (36,5%), saúde, beleza e bem-estar (12,7%), limpeza e conservação (6,6%) e serviços e outros negócios (6,1%) —alavancado pelas áreas de meios de pagamento e operações digitais.

Com base no movimento dos ramos que já experimentam crescimento da receita e na expectativa do aumento da vacinação, a ABF e especialistas projetam que o setor de franchising encerre o ano com alta de 8% no faturamento em comparação a 2020.

“O ano de 2021 ainda está comprometido pela baixa cobertura vacinal, então é esperado um aumento de faturamento entre 5% e 8% e de 3% no número de lojas. Uma retomada mais agressiva deve vir só em 2022”, diz Pedro Almeida, diretor da Franchise Solutions, consultoria especializada em franquias.

A queda no faturamento no último ano só não foi mais acentuada porque as lojas se adaptaram rapidamente à transformação digital e contaram com a estrutura das redes, que ofereceram apoio em renegociações com fornecedores e shoppings.

“A franquia tem custo maior em comparação a um negócio independente, mas tem risco menor para o empreendedor, em razão de oferecer respaldo da marca para renegociar custos e taxas como royalties, aluguéis, além do apoio para marketing e acesso a crédito”, afirma Almeida.

Exemplos são os dois convênios firmados pela ABF com a Caixa para linhas de crédito e condições especiais em produtos e auxílio para que franqueados tivessem acesso ao Pronampe, programa de apoio a micro e pequenas empresas do governo federal.

A associação também contratou parecer jurídico para que os aluguéis não fossem ajustados conforme o IGP-M —índice de inflação que subiu 32,02% durante a pandemia, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas).

As vendas em canais múltiplos também ajudaram a evitar perdas maiores. “O misto do presencial com o digital ajudou sobretudo segmentos do comércio não essencial, mas também ajudou a turbinar as vendas de setores essenciais, como supermercados, que passaram a explorar possibilidades que estavam na gaveta”, diz Luis Fernando Martins Pingueiro, consultor da Complement, especializada em varejo.

Isso ficou evidenciado nas cidades que adotaram medidas como o lockdown, restringindo até atividades essenciais. De acordo com os dados da ABF, a área de comércio e distribuição de alimentos ficou praticamente estável no primeiro trimestre de 2021, com queda de 0,6% no faturamento em relação ao mesmo período de 2020.

Enquanto a recuperação não vem, o franchising vive um momento de adaptação de modelo de negócio, com a procura dos franqueados por pontos de venda menores, que demandam custos mais baixos de locação.

Eles também têm buscado pontos comerciais alternativos aos shoppings, que ainda abrigam 20,6% das lojas, número que caiu 8% em relação a 2020. Estações de metrô, hospitais, clubes e edifícios corporativos estão entre as apostas dos empreendedores.
Outra tendência são os movimentos de fusões e aquisições entre redes e de abertura de capital, que têm crescido desde o início da pandemia.

Em abril, o Grupo Somma, dono de marcas de moda feminina como Farm e Animale, fechou um acordo para incorporar a tradicional Hering. Em outubro do ano passado, a rede de artigos esportivos Track & Field fez sua estreia na Bolsa e, em fevereiro deste ano, foi a vez da rede de depilação Espaçolaser lançar sua oferta inicial de ações.

A abertura de capital da marca foi considerada uma novidade pelo mercado, uma vez que é incomum a oferta de ações por franquias de beleza e estética, o que ajudou a Espaçolaser a levantar R$ 2,64 bilhões em sua estreia na Bolsa.

A rede fechou 2020 com 587 unidades, 13% a mais em relação a 2019. Dois terços dessas lojas são próprias, e o plano após a abertura de capital é aumentar a proporção para 80% de unidades próprias e 20% franqueadas, além de expandir na América Latina. A empresa já está na Argentina, na Colômbia e no Chile.
“Após a abertura de capital, continuamos investindo os recursos no crescimento nacional, com a retomada no ritmo de abertura de novas lojas próprias e trazendo ganhos de gestão e eficiência”, diz Paulo Morais, presidente da Espaçolaser.

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