Empreendedores de sucesso contam suas histórias de fracasso

Empresários explicam de que maneira as tentativas e os erros os ajudaram a seguir adiante nos negócios

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São Paulo

Fracassar faz parte da carreira de quem empreende. E aprender com experiências que não deram certo é fundamental para prosperar nas empreitadas seguintes. As afirmações podem parecer clichês, mas histórias de empresários que já foram à falência e depois tiveram sucesso reforçam essas ideias.

Hoje à frente da DataRisk, que fornece soluções de inteligência artificial e deve faturar R$ 5 milhões neste ano, Jhonata Emerick, 38, conta que já teve que fechar uma empresa de vendas de bijuteria porque, à época, não sabia fazer fluxo de caixa. 

Já Tatiana Pezoa, 45, fundadora da Trustvox, faliu duas vezes antes de vingar no mercado. Ela conta que começou o novo negócio não do zero, mas do “menos R$ 200 mil”, em referência ao valor de suas dívidas à época. O negócio prosperou e foi vendido no ano passado. 

Os dois dizem que levam em conta os percalços que já enfrentaram na tomada de decisões em suas empreitadas atuais. Veja abaixo essas e outras histórias.

 Nosso maior erro foi não ter investido em marketing

Eu tinha uma pequena produtora web junto com o meu marido e, em 2008, resolvemos mudar de ares: criamos uma empresa, chamada Client 2 Central, e desenvolvemos uma ferramenta para comunicação interna nas empresas. 

O nosso maior erro foi não investir em marketing e achar que o produto se expandiria organicamente porque ele era  bom. Nem Big Mac se vende sem marketing. Falimos. 

Anos depois, fundamos a Ledface, plataforma que se propunha a responder dúvidas online. Mas não conseguíamos uma forma de monetizar, e o negócio foi à falência também. 

Em 2013, eu tinha uma dívida de R$ 200 mil, com escola do filho e aluguel atrasados. Cogitei ir para o mercado de trabalho, mas resolvi tentar de novo. Comecei a Trustvox, que gerencia reviews confiáveis para lojas que vendem online. É confiável porque nos certificamos de que só quem de fato comprou um produto pode falar sobre ele. 

A plataforma deu certo e chegamos a ter 28 funcionários e 1.500 clientes. No fim do ano passado, vendemos a empresa para o Reclame Aqui, onde trabalho agora. Sempre falo para as pessoas que não comecei a Trustvox do zero, mas sim do menos R$ 200 mil, por causa das dívidas.

Tatiana Pezoa, 45, fundadora da Trustvox

Trustvox 
Serviço que gerencia resenhas online, vendido para o Reclame Aqui em 2018

2013 é o ano de fundação; a companhia chegou a ter 28 funcionários


Estava dando certo, mas os sócios discordavam em tudo

Fundei, com quatro amigos, um clube de compras para um centro empresarial na zona sul de São Paulo, chamado Centroff. A ideia era oferecer cupons de descontos só para as lojas que atuavam nesse lugar. 
Na época, os empresários dessa área engatinhavam. 

Não tínhamos barreira de entrada nem competidor. Fechamos parcerias com alfaiate, lava-rápido, lanchonetes etc. Nosso maior case de sucesso foi com uma academia.

Estava indo muito bem, mas com quatro meses de operação vimos que os sócios não estavam nem um pouco alinhados. Um já queria vender a empresa, outro queria continuar no centro comercial, outro queria expandir a atuação para outros lugares. Não estava mais dando certo. Tivemos que fechar a Centroff para cada um seguir seu caminho. 

Hoje, sou sócio da Promobit, uma plataforma que reúne as melhores ofertas da internet e as audita: descobre se realmente existem, se é ou não golpe etc.

Aprendi na época da Centroff que os sócios precisam estar alinhados. Para isso, é necessário ter muita paciência, saber ouvir bastante e conversar. Até por ter tido uma experiência que não deu certo, sou até meio que o moderador entre os outros dois sócios hoje em dia. 

Nossa empresa já vai fazer seis anos. Claro que tem problemas, mas não são nem um pouco parecidos com os que tínhamos na Centroff.

Leandro Menezes, 28, sócio da Promobit

Promobit
Plataforma que reúne ofertas da internet

30 funcionários

R$ 150 milhões gerados em vendas para ecommerces


Fali porque não sabia fazer fluxo de caixa

Eu montei em 2010 uma empresa que vendia bijuterias de porta em porta. Se chamava Maria Leva. A ideia era aproveitar a força de trabalho das mulheres que já fazem isso com outras marcas (Avon, Natura etc.) e oferecer uma margem maior que essas empresas dão. A ideia começou a dar muito certo, e eu cheguei a estar em vários estados. Só que eu não soube fazer fluxo de caixa. Vendia os produtos e recebia muito depois. Isso é normal nesse mercado. As mulheres não pagam na hora. Só que para repor o estoque eu ia na rua 25 de Março e pagava na hora o fornecedor. Colocava dinheiro do meu próprio bolso. Quando eu vi estava quebrado, mesmo vendendo bem. A empreitada durou cerca de um ano e meio. A questão de fluxo de caixa é importantíssima hoje pra mim. Se meus clientes pagarem já no primeiro mês, melhor. Alguns demoram para pagar. Temos um fundo que investiu em nós, o que ajuda nesse sentido. Minha empresa atual é a DataRisk, de soluções de inteligência artificial. O negócio ficou seis vezes maior neste ano.

Jhonata Emerick, 38, fundador da DataRisk

Datarisk
Empresa especializada em soluções de inteligência artificial

20 funcionários

R$ 5 milhões é a previsão de faturamento

2017 é o ano de fundação


Às vezes, a melhor estratégia é fechar as portas

Em 2009, aos 22, montei um ecommerce de sapatos femininos, que se chamava Ela Brilha. Em quatro meses não vendi nenhum par. Transformei a empresa num outlet online, vendendo coleções passadas. Virou um clube de compras de sapatos, o Shoes Club, e estava dando muito certo. Vendia uns 500 pares por mês. Mas a margem de lucro era espremida, e eu precisava de fluxo de caixa, o que não tinha. O empreendimento morreu. Optei por fechar porque vi que não tinha jeito.

Em 2012, resolvi que não queria ser uma empresa que usa tecnologia para vender, mas que vende a própria tecnologia. Criei a Wevo, primeiro como consultoria, depois como fornecedora de tecnologia de integração [para automatização de negócios]. Hoje, nossas soluções estão em muitos setores, mas comecei no de ecommerce, e ajudou demais ter trabalhado nessa área. 

Durante o Shoes Club, aprendi a negociar, a ler contratos. A lição que fica é a de que é necessário se adaptar. Você deve estar disponível para mudar a estratégia quantas vezes precisar, e a estratégia pode ser fechar as portas se for necessário.

Diogo Lupinari, 32, fundador da Wevo

Wevo
Plataforma de integração de sistemas

80 pessoas trabalham na companhia, que tem 120 clientes, em 10 países

R$ 7 milhões foi o faturamento no último ano; o negócio deve crescer 50% em 2019


Meu primeiro negócio foi na Argentina, o Cenaplus. Era uma plataforma na internet para reserva de restaurantes. Ainda estávamos na época do Blackberry, não tinha aplicativo. Éramos o primeiro negócio nesse sentido no país, e fomos bem no começo, mas não conseguimos nos preparar para o caso de surgir um concorrente. E surgiu um com muito mais dinheiro que nós. 

Tentamos por algum tempo, mas não conseguimos competir, e eles acabaram nos comprando. Não falimos nem nada, mas não atingimos o resultado esperado no sentido de que essa venda foi a nossa opção, mas não era o que a gente queria. 

Já no Brasil, abri a InstaCarro, plataforma de negociação de carros online. Uma das minhas preocupações hoje vem exatamente desse aprendizado na outra empresa, quando não previmos riscos.

Temos uma reunião mensal na qual discutimos os problemas que podem surgir e o que concorrentes podem fazer. 

Luca Cafici, 28, fundador da InstaCarro

InstaCarro
Plataforma de negociação de carros online

120 funcionários

R$ 360 milhões de faturamento por ano

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