Bares, padarias e restaurantes servem comida de gente a pets

Opções incluem cervejas, bolos, pães e sorvetes adaptados para os animais

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São Paulo

Morador da Vila Mariana, na região sul de São Paulo, o veterinário Fabiano Miyahira foi até Santa Cecília, na região central da cidade, encontrar o irmão para um almoço de fim de semana num restaurante de comida típica. Como se tratava de um espaço pet friendly, saiu acompanhado de Zaya, sua cadela da raça cão de crista chinês.

Ao tentar entrar no salão, descobriu a pequena objeção: podia ficar com o cachorro, mas só nas mesas da calçada. "Já tive muita experiência ruim em lugar que diz que é pet friendly", lembra Miyahira. "Mas quando você chega, ou tem que ficar na calçada ou alguém diz, ‘você só pode ficar lá no cantinho, do lado do banheiro’", lembra.

Os cachorros Thor (American Bully) e Bono (Beagle) na Soma Cervejaria, espaço "pet friendly de verdade" em Moema, na zona sul de São Paulo
Os cachorros Thor (American Bully) e Bono (Beagle) na Soma Cervejaria, espaço "pet friendly de verdade" em Moema, na zona sul de São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

Além de veterinário, Miyahira é cervejeiro, um dos quatro sócios da Soma Cervejaria, inaugurada em 2020, em Moema, na zona sul. Lá, fez questão de que a casa fosse pet friendly "de verdade". E, desde o primeiro ano do brewpub, o menu inclui porções de carne, de frango e vegetariana para pets, que podem circular livremente no salão.

"É uma comida feita por nutricionista veterinária, toda balanceada, e a gente compra os produtos direto de uma empresa especializada", conta Miyahara, que ainda está trabalhando no desenvolvimento de uma opção de cerveja (sem álcool, claro) para cachorro.

No caso da Soma, a comida para o pet é mais um serviço do que exatamente uma fonte de receita. "O lucro com as porções ainda é incipiente", avisa o veterinário-cervejeiro.

De acordo com informações do Instituto Pet Brasil, o mercado pet teve faturamento bruto de R$ 60,2 bilhões em 2022, com projeção para R$ 64,7 bi até o fim deste ano. Deste montante previsto para 2023, R$ 37,3 bilhões —ou 55,3% do total— devem vir do pet food, ou segmento de alimentação pet.

Porém, este segmento ainda se enquadra como "item supérfluo" na carga tributária, o que aumenta sua taxação. "A tributação que recai sobre esses produtos é semelhante à de bebidas e cigarros, alcançando 50% de tributos no valor final. Essa comparação foge à realidade brasileira. Animais de estimação são considerados membros da família, e já passou da hora de o governo federal considerar a alimentação pet como item de primeira necessidade", afirma Nelo Marraccini, presidente do conselho consultivo do IPB.

Apesar da alta tributação, o mercado tem visto cada vez mais produtos para pets que imitam a gastronomia humana. São porções em bares, como o Soma, sorvete, cerveja, bolo, vinho, pães e outros quitutes imaginativos com cara de comida de gente.

Já na Meat e Downtown Burgers, lanchonete na rua Bela Cintra, próxima da avenida Paulista, cachorros que passeiam na região sempre são agraciados com um biscoitinho produzido na casa. Quem entra também pode encontrar dois sabores de sorvete. "Os gelatos [de banana ou melancia] são feitos aqui também", conta Eduardo Perrone, tutor de um vira-lata e um buldogue francês e sócio da casa, outra inteiramente pet friendly.

A lanchonete chegou a fazer uma espécie de festa junina para reunir tutores e pets. Em uma das paredes, há um mural com fotos da clientela fiel. Além das comidinhas e da tigela com água, o espaço tem caminhas para os cães que querem dar uma descansada enquanto o tutor saboreia algum hambúrguer.

Para quem busca uma linha mais vasta de comestíveis, a Padaria Pet abriu justamente com a intenção de desenvolver produtos humanizados, como panetones, sorvetes e bolos. Depois de inaugurar a primeira loja, em 2015, a marca tem hoje 22 franqueados e três estabelecimentos próprios, totalizando 25 unidades.

Fabiano Miyahira , dono da Soma Cervejaria, e sua cachorra, Zaya, posam para foto no estabelecimento, em Moema (zona sul de São Paulo)
Fabiano Miyahira , dono da Soma Cervejaria, e sua cachorra, Zaya, posam para foto no estabelecimento, em Moema (zona sul de São Paulo) - Lucas Seixas/Folhapress

"A ideia surgiu nos Estados Unidos, e acontece também na Europa", conta Arquelau So, sócio e diretor da Padaria Pet. "Desenvolvemos receitas voltadas para esse lado [de produtos humanizados] e essa experiência de compra. Também criamos uma linha de confeitaria pet, que vai de bolo de aniversário a docinhos e quitutes. Recentemente, lançamos o pãozinho para cachorros", diz So.

A Padaria Pet fechou 2022 com cerca de 40 funcionários e faturamento anual de R$ 3,5 milhões, "crescimento de 60% se comparado ao ano de 2021", contabiliza o empresário. "Nossa meta para 2023 é crescermos 25% comparado ao ano anterior."

So explica ainda que o investimento inicial de uma franquia no formato de loja física pode girar entre R$ 120 mil a R$ 300 mil, a depender do tamanho da unidade. "Lançamos no começo desse mês o modelo de microfranquia 'home based' Confeiteiro Padaria Pet, neste modelo o empreendedor pode começar o negócio com um investimento inicial de apenas R$ 10 mil, dependendo da cidade de atuação", completa.

Além das lojas, a marca abriu a própria fábrica, que produz toda linha de petiscos gourmetizados, incluindo uma cerveja de marca própria e outra, feita em parceria com a Colorado, marca conhecida de Ribeirão Preto que integra o portfólio da Ambev.

Chamada de Cãolorado, e vendida nos sabores carne e frango, trata-se de um líquido maltado, feito com o extrato de malte e com levedo de cerveja. A bebida é facilmente encontrada em lojas de produtos pets e também em unidades do Bar do Urso.

"A gente não fermenta e não passa pelo processo que resulta no álcool", explica So, que lembra que criou antes a cerveja da padaria.

"A diferença entre as duas está nas raízes que usamos na produção e no malte. No caso da Colorado, fizeram questão de incluir raízes brasileiras, como de mandioca e cará. Mas a produção é feita totalmente por nós", conclui.

O diretor da Padaria Pet afirma, no entanto, que os campeões de venda nas lojas são os biscoitos, a pipoca e a linha de confeitaria. "Fazemos mais de 200 bolos por mês para a loja própria de São Paulo". Afinal, cachorro faz aniversário.

Para Miyahira, da Soma, os produtos humanizados não oferecem riscos aos pets "desde que sua produção siga orientações de médicos veterinários da área de nutrição. Pois eles conseguem orientar o que pode e o que não pode, além de trazer uma qualidade nutricional direcionada a eles."


Padaria Pet (loja conceito)
R. Oscar Freire, 502, Cerqueira César, tel. 98817-8017. Instagram: @padariapetoscarfreire. E outras 24 unidades Vende linha completa de produtos que imitam quitutes humanos, incluindo pipoca, biscoito, leite e vários produtos de confeitaria, incluindo bolos

Meat Downtown Burgers
R. Bela Cintra, 1.783, Jardim Paulista. Instagram: @meatdowntownburgers. Além de biscoitos feitos na casa (sabor banana ou maçã), oferece sorvetes, que estão à venda, mas acabam distribuídos gratuitamente. São dois sabores, banana e melancia

Soma Cervejaria
Av. Miruna, 561, Moema, tel. 99186-5013. Instagram: @somacervejaria. Serve três opções para cachorros no menu, nos sabores carne, frango e vegetariano

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