Setor do turismo espera recuperar prejuízo causado pela pandemia até o final deste ano

Analistas dizem que o pior já passou e preveem movimento em alta no verão

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Belo Horizonte

Apesar do prejuízo de mais de R$ 395 bilhões trazido pela pandemia ao turismo, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a perspectiva para o futuro é otimista. Segundo a entidade, o setor deve se recuperar até o fim do ano.

A empresária Vivianne Braga, 44, dona de oito franquias da agência CVC, aposta em uma demanda reprimida de brasileiros que querem viajar após serem vacinados.

“A abertura da fronteira com os EUA vai ser o grande momento da retomada, mas o ritmo de vendas já acelerou. Quando Dubai voltou a receber brasileiros, começamos a vender muitas viagens para lá. Agora é a vez da França.”

Vivianne Braga, dona de franquias da agência de viagens CVC
Vivianne Braga, dona de franquias da agência de viagens CVC - Jardiel Carvalho/Folhapress

A maior procura tem sido por destinos nacionais, segundo Vivianne. “As pessoas ainda estão perdendo o medo. Elas têm preferido viagens menores, com voos mais curtos. Vai ser uma volta gradativa até vendermos viagens internacionais mais elaboradas, principalmente por causa do dólar.”

Uma pesquisa da consultoria EY mostra que, em fevereiro deste ano, apenas 23% dos brasileiros se sentiam confortáveis para viajar de avião.

Embora otimista, a empresária diz não saber quando conseguirá recompor o caixa e voltar ao patamar de faturamento pré-pandemia.

“Em julho, tivemos uma procura acima do esperado, mas nada comparado aos anos anteriores”, diz.

O que pesou no orçamento foram os custos para manter o negócio com as lojas fechadas. Em novembro de 2020, o melhor mês desde o início da pandemia, o faturamento chegou a apenas 50% do mesmo mês de 2019, afirma ela.

Vivianne não demitiu nenhum funcionário durante a crise. Segundo ela, as medidas provisórias editadas pelo governo federal, que permitiram a redução de jornada e de salários, foram uma ajuda importante para manter toda a equipe.

Para Mariana Aldrigui, presidente do conselho de turismo da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do estado de São Paulo), o verão 2021-2022 será o melhor da história do turismo do Brasil, graças à combinação de demanda reprimida com vacinação avançada e dólar caro.

André Friedheim, presidente da ABF (Associação Brasileira de Franchising), também acredita que “o pior já passou”. Para ele, a retomada do setor trará um consumidor com novas preferências e demandas, entre elas uma maior preocupação com higiene e protocolos sanitários.

“Isso vai gerar um custo a mais para toda a indústria, mas será também um grande diferencial para a escolha do consumidor. A gente não ligava muito para essas coisas antes da pandemia.”

Vivianne confirma que isso já está acontecendo e que teve que preparar sua equipe para tirar dúvidas dos clientes e ajudá-los a encontrar opções que os deixassem confortáveis. “Temos ligado para os hotéis para saber como está sendo cada refeição, quais são os protocolos. Precisamos passar essa segurança para o consumidor”, diz ela.

Outra grande mudança prevista pelas empresas do setor é a diminuição das viagens de negócios, que caíram muito durante a pandemia e devem ser cada vez mais substituídas por reuniões online.

A cidade de Atibaia, a cerca de 65 km de São Paulo, sentiu esse movimento —seus hotéis costumavam sediar grandes eventos corporativos e treinamentos. Na quarentena, eles deram lugar a hóspedes que moram em centros urbanos próximos e procuravam um lugar tranquilo para fazer home office.

De acordo com Bruno Leal, secretário de turismo de Atibaia, entre 10 e 15 mil famílias vieram para a cidade durante a crise sanitária. “Elas alugaram imóveis de temporada ou se instalaram definitivamente em casas que só usavam para férias”, afirma.

As viagens de negócios correspondem à grande maioria do fluxo de estrangeiros que vêm ao Brasil, e, mesmo aqueles que visitam o país a passeio, devem passar a priorizar outros destinos, diz Aldrigui, que também é professora na USP, onde desenvolve pesquisas sobre o setor.

“A imagem do Brasil como destino de negócios ou lazer, seja para viagens imediatas ou no futuro, está manchada”, diz ela, citando como exemplo as turbulências políticas e a condução da pandemia pelo governo federal. “Essa imagem pode levar a adiamentos e mesmo cancelamentos de planos de viagens.”

A pesquisadora prevê ainda outro obstáculo à retomada, principalmente para empreendimentos menores: a falta de pessoal qualificado. Ela cita como exemplo garçons, camareiras e colaboradores envolvidos na produção de eventos —pessoas que teriam migrado para outras áreas durante a pandemia.

“Embora esse movimento ainda não esteja mapeado com números, a perda dessa competência técnica é algo que vai diminuir nossa produtividade”, diz Aldrigui.

Ela prevê que as empresas do segmento passarão a pagar salários menores e a contratar pessoas mais jovens e menos qualificadas. “O tempo que um empresário vai demorar para treinar novamente esse funcionário e retomar a velocidade de atendimento vai ser maior”, afirma.

Para Vivianne, resta comemorar as vendas de julho, que foram melhores que as do ano passado, e apostar na reabertura das fronteiras. “Os cruzeiros voltam a operar em novembro, já começamos a vender essas viagens.”

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