Descrição de chapéu maternidade

Roupas para grávidas aliam design inclusivo e sustentabilidade

Mercado da moda não vê a mulher gestante como potencial consumidora, afirma especialista

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São Paulo

Comprar roupas na gravidez é um desafio para muitas mulheres, que não se sentem atendidas pelos negócios. Faltam marcas que aliem informação de moda, funcionalidade e sustentabilidade às peças, cujo ciclo de vida tende a ser mais curto.

De acordo com Bianca Dramali, professora de comportamento do consumidor da ESPM, isso acontece porque a grávida não é vista como compradora em potencial por maior parte do mercado. Em sua tese de doutorado, ela estudou essa relação.

"Muito se fala de enxoval para criança. Até mesmo o mercado de segunda mão, que é uma tendência no varejo, já apresenta um crescimento de marcas e brechós infantis. Mas ainda são poucas as iniciativas para a gestante. Ela não é colocada como um elemento central do consumo", afirma.

Juliana Franco (esq.) e Cintia Cavalli, fundadoras da Bumpbox
Juliana Franco (esq.) e Cintia Cavalli, fundadoras da Bumpbox - Lucas Seixas/Folhapress

Juliana Franco Semino, 43, conta que viveu a falta de opções de roupas para trabalhar durante a gravidez. Na época, ela era editora de moda em uma revista. Em 2017, depois de ter seu primeiro filho, ela se uniu à publicitária Cintia Cavalli, 45, para lançar a Bump Box, empresa de aluguel de roupas por assinatura para esse público com sede em São Paulo.

"Nossa primeira tentativa foi buscar peças que já existissem, mas enfrentamos duas barreiras. Primeiro, não encontramos as peças que gostaríamos de oferecer para as mulheres. O desenvolvimento das peças e a modelagem que a gente passou a fazer eram algo de que o mercado carecia", conta Juliana.

A segunda foi a grade de numeração existente, que não atendia diferentes corpos e necessidades. As sócias investiram inicialmente R$ 150 mil para o desenvolvimento de peças, com design e tecidos escolhidos por elas e confecção de ateliês parceiros. A ideia era juntar informação de moda, conforto e responsabilidade ambiental, motes que até hoje direcionam a empresa.

"Da união de tudo isso nasceu esse modelo da Bump Box, que não só oferece a posse das peças, mas dá a possibilidade do reúso. Em uma ocasião em que a roupa vai ter uma função durante um período específico, não faz sentido ela trocar todo um guarda-roupa e buscar tantas peças novas", diz Cintia.

A circularidade das roupas diminui o consumo de água, energia e matéria-prima para a produção de novas peças, além de reduzir o descarte. As empreendedoras contam que ainda hoje têm produtos de 2017 em bom estado e disponíveis para escolha. Novos modelos são desenvolvidos a partir de sugestões e necessidades das próprias clientes.

Modelo usa peça criada pela marca Bump Box
Modelo usa peça criada pela marca Bump Box - Larissa Felsen/Divulgação

Disponível online, o serviço começa com a seleção de um pacote com quatro peças. Há opções com vestidos, calças, casacos e blusas. Depois vem a escolha do plano, que pode ser mensal (R$ 349 por mês), trimestral (R$ 319 por mês) ou semestral (R$ 299 por mês). A numeração vai do PP ao GG e do 36 ao 46.

As caixas são entregues na casa da gestante e retiradas ao final do período do aluguel. Por causa da logística, a atuação se concentra nas regiões Sul e Sudeste. De acordo com as empreendedoras, são atendidas cerca de 700 clientes por ano, com tíquete médio de R$ 720.

Determinada a não comprar novas peças durante sua primeira gestação, a influenciadora Mariana Bombonato Moraes, 38, conheceu a Bump Box enquanto procurava alternativas. Junto com suas irmãs, ela é idealizadora do Verdes Marias, que produz conteúdo sobre vida sustentável, incluindo perfis nas redes e palestras em empresas..

Ela conta que conseguiu mostrar a outras mães um caminho em que não é preciso comprar a todo momento. "A circularidade das roupas na época da gravidez é muito importante, porque você não sobrecarrega o seu armário e não tem que descartar depois. Você simplesmente usa as coisas pelo período em que faz sentido e depois repassa."

Para ela, empreendedores interessados em desenvolver um trabalho voltado à sustentabilidade devem comunicar a importância de seu negócio.

"Eles precisam atrelar tudo que forem fazer a uma comunicação que ensine e apoie o consumidor nessa transição, para que ele veja valor naquilo que se está fazendo. Não só o valor financeiro, mas o ecológico, o social e todos os outros valores que são invisíveis, mas muito importantes nesse processo", afirma.

A analista de marketing Bia Mendes, 37, é fundadora da Agora Sou Mãe, marca de roupas para gestantes que se popularizou na internet. A empresa começou em 2011 como um blog onde ela compartilhava suas primeiras experiências com a maternidade. Ao perceber que tinha um público fiel, decidiu empreender.

Bia Mendes (esq.) e Lauren Baumgaertner, sócias da Agora Sou Mãe
Bia Mendes (esq.) e Lauren Baumgaertner, sócias da Agora Sou Mãe - Diorgenes Pandini/Folhapress

Depois de ter lançado uma coleção de camisetas com estampas divertidas por conta própria, Bia se uniu a Lauren Baumgaertner, 33, para profissionalizar o negócio, em 2015. A sócia trabalhava em uma agência de publicidade. Elas investiram R$ 9.000, que foram usados para desenvolvimento do site, produção de fotos e confecção dos produtos. A partir daí, todo o lucro foi reinvestido.

As etapas que vão até o corte do tecido são feitas no galpão da empresa, em Florianópolis. Já a costura é terceirizada.

"Eu vejo a Agora Sou Mãe como uma loja que oferece uma curadoria de roupas normais, que você encontraria numa não especializada em gestantes, mas com recortes que funcionam para todos os tipos de corpos, modelagens muito bem pensadas, tecidos que se adaptam às curvas", diz Bia.

"O termo moda gestante tem muito a ver com a descartabilidade das roupas. Parece que eu vou usar por nove meses e depois jogar fora ou passar para a frente, mas eu sempre acreditei que dava para ter roupa atemporal, versátil e, claro, que dure bem mais que nove meses", diz.

A empresa recebe mais de 5.000 pedidos por mês, com uma média de 3 a 5 peças cada. Os preços variam de R$ 39,90 a R$ 299,90.

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