Fermentado de mel e drinque de cachaça chegam à latinha para ampliar consumo casual

Empresas buscam quebrar monopólio das cervejas neste tipo de embalagem

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Jéssica Moura
São Paulo

O setor de bebidas alcoólicas vendidas em lata, dominado pela cerveja, começa a se abrir para outros produtos. Agora, hidromel (bebida feitaa partir da fermentação do mel), coquetel pronto, drinque de cachaça e hard seltzer (água com gás alcoólica e saborizada), por exemplo, são vendidos enlatados. Pequenos empresários estão entre os responsáveis pela mudança.

Havia um monopólio e, por isso, a entrada de outros tipos de bebidas em lata é inovador. Os fabricantes perceberam essa fatia do mercado e foram pioneiros nessa produção. É uma tendência que vem para ficar", diz o bartender e consultor de negócios gastronômicos Renato Bomben.

Alexandre Pelegini, 44, dono da Old Pony, empresa que produz hidromel em lata
Alexandre Pelegini, 44, dono da Old Pony, empresa que produz hidromel em lata - Raul Spinassé/Folhapres

A venda dessas bebidas em embalagens de alumínio se reflete na alta de 5% no consumo de latinhas registrado entre 2020 e 2021. Segundo a Abralatas (Associação Brasileira de Produtores de Lata de Alumínio), 33,4 bilhões de latinhas foram vendidas no país em 2021. A associação avalia que a maior variedade de bebidas enlatadas contribuiu para a alta: são pelo menos 20 tipos.

Grandes fabricantes também ingressaram no nicho. Em 2022, Jack Daniel's e Coca-Cola lançaram um drinqueue que mistura uísque e refrigerante e é vendido em latinha. Mesmo com a concorrência, Renato Bomben diz que há espaço para os pequenos. "Fazem em menor quantidade, mas com mais qualidade. Com mais controle da produção, o resultado das bebidas é mais padronizado."

Desde 2020, a cachaçaria Triunfo, situada em Areia (PB), vende a Ice limão. O drink em lata combina cachaça de alambique, limão, açúcar e gás carbônico. O teor alcoólico é de 5,5%, inferior aos 40% da cachaça. A empresa investiu R$ 500 mil na compra do maquinário de uma pequena cervejaria com capacidade de envasar mil latinhas por hora. "Já tive retorno de 60% do investimento", calcula o engenheiro químico Thiago Baracho, sócio da Triunfo. O primeiro lote, de 60 mil unidades, acabou em cinco meses.

"Produzir a cachaça na lata agrega valor ao produto. Conquista o público mais jovem nas festas, onde o vidro não entra. Ele depois migra para a cachaça de mais qualidade, e assim atingimos um mercado que antes perdíamos", diz Baracho.

Como as latinhas são mais acessíveis e práticas para o consumo em baladas, parques e praias, a demanda é crescente, avalia a gestora de alimentos e bebidas do Sebrae, Michelle Melo. "A bebida deixou de ser consumida e degustada em ocasiões especiais, houve uma popularização. O consumo subiu entre os jovens, que não precisam comprar garrafa para tomar só uma dose e podem diversificar com outras bebidas".

Por isso, Melo afirma que o investimento nessas versões é uma oportunidade para que marcas artesanais ampliem o faturamento.

Há nove anos, em Mogi Guaçu (SP), Alexandre Pelegrini fundou a Old Pony, empresa especializada em hidromel. Em 2019, decidiu investir na lata para ampliar o nicho de clientes. Hoje, a venda das latinhas representa 20% do faturamento da empresa.

Pelegrini ressalta que, enquanto cervejarias consomem 50% dos lotes e promotoras de eventos 45%, restaurantes demandam apenas 5% da produção. "Preferem a garrafa para o consumo mais intimista e harmonização com a gastronomia. Também pedem a bebida em barris. É outra oportunidade de consumo".

Para elevar esses índices, Pelegrini investe na promoção dos produtos nos pontos de venda. "Em negociações para introdução do produto, custeamos promotores para exposição e apresentação da bebida nos pontos de vendas do cliente".

Outro gargalo é em relação à comunicação das marcas. "Ainda existe bastante caminho para ser trilhado, nem todo mundo conhece ou confia nas latinhas, mas, com ações de marketing, a venda pode crescer exponencialmente", diz o consultor Renato Bomben.

A Joví lançou a versão enlatada da hard seltzer em 2020 e apostou na divulgação do produto nas redes sociais para alavancar vendas. Em um mês, o lote de 100 mil latinhas se esgotou. "A lata tem um alinhamento melhor com valores do nosso público jovem, de consciência ambiental, saúde, com menos aditivos e açúcares e sem corantes, e praticidade de ter produto gelado mais rápido. Falamos diretamente com o consumidor final", diz Virginia Vilela, gerente comercial da empresa.

Vilela diz que usa ferramentas das redes para fazer pesquisa de mercado. "Somos uma empresa pequena, não temos agência. Fazemos enquetes, respondemos perguntas. Quando lançamos o sabor de tangerina, usamos as redes para saber o que as pessoas estavam pensando."

Além da comunicação pelo Instagram e TikTok, a marca também aposta na relação com embaixadores locais para atingir público-alvo. "São clientes que se identificam com a marca, usam o produto no dia a dia, em ocasiões de consumo, e divulgam a bebida em seus perfis".

Folha abre canal para receber dúvidas sobre empreendedorismo

A Folha passou a disponibilizar um canal para receber dúvidas de leitores sobre empreendedorismo. As mensagens devem ser enviadas para mpme@grupofolha.com.br ou para este formulário.

A equipe da seção MPME, que produz reportagens sobre micro, pequenos e médios empreendedores, selecionará algumas delas para serem respondidas por especialistas na área.

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