Franqueadoras exploram demanda crescente fora do Sudeste

Dados coletados por associação de franchising no pós-pandemia revelam tendência de pulverização das marcas pelo território nacional

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Giulia Luchetta
São Paulo

O ranking das 50 redes de franquias com mais unidades no Brasil, elaborado em fevereiro passado pela ABF (Associação Brasileira de Franchising), mostra que 88% das marcas com mais de 350 operações têm suas sedes na região Sudeste.

Apesar da concentração, essa é a região do país onde o setor menos cresceu no último trimestre de 2022, com alta de 8,2% em relação ao mesmo período de 2021. A média nacional foi de 12,6%.

Nordeste e Centro-Oeste, por outro lado, obtiveram um crescimento superior à média no mesmo período. O segmento gerou R$ 32 bilhões no Nordeste, alta de 14,6% na receita, e o faturamento do Centro-Oeste cresceu 14,4% e gerou R$ 18,5 bilhões.

Bruna Vasconi, CEO e fundadora do brechó Peça Rara, em unidade da franquia em Brasília (DF). 20-06-2023 - Gabriela Biló /Folhapress

Os dados coletados pela ABF no pós-pandemia revelam tendência de pulverização das marcas de franchising pelo território nacional.

Na opinião do presidente da ABF, Tom Moreira Leite, a retomada da atividade econômica em diferentes regiões do país representa oportunidades de consolidação de negócios franqueados.

"O crescimento regional fora do Sudeste é devido aos setores que se desenvolvem acima do PIB, e o que vemos é uma parcela grande associada ao agronegócio. No primeiro trimestre, o PIB brasileiro cresceu 1,9%, mas no agro há um crescimento de 21,6%. Os locais com maior concentração de atividade desse setor serão polos que puxarão a atividade empresarial, independentemente do segmento do negócio", afirma.

Em 2010, a franquia Casa de Bolos abriu sua primeira unidade em um pequeno espaço no centro de Ribeirão Preto (interior de SP). A ideia era ganhar experiência na confecção e comercialização de bolos até estruturar uma produção em grande escala.

"Estrategicamente, iniciamos o processo de expansão no estado de São Paulo, onde tínhamos conhecimento de mercado e proximidade logística para poder construir o negócio e consolidar a marca de maneira a garantir o mesmo suporte de qualidade a todos os franqueados", diz Mariana Monroy, gerente comercial da franquia.

Na avaliação do presidente da ABF, o ideal é que as redes em estágio inicial priorizem uma lógica de proximidade no processo de expansão da franquia.

Abrir um negócio em regiões mais distantes pode encarecer custos de monitoramento e suporte ao franqueado, e a empresa pode acabar não capturando o valor investido na unidade nem padronizando suas operações, diz ele.

Como o Brasil possui um mercado fragmentado, cada cidade e estado têm lógica comercial diferente. Os custos mudam, a renda per capita varia, o número de concorrentes pode ser outro, a tributação e a legislação estadual diferem. Isso além das rotas de abastecimento das unidades, que são específicas, e os costumes dos consumidores, diferentes em cada localidade.

De acordo com Monroy, a Casa de Bolos atingiu escalabilidade a partir dos próprios clientes, que se tornam entusiastas da marca e levam o negócio para novas cidades. O faturamento total da rede em 2022 foi de R$ 410 milhões.

"Temos especial atenção às especificidades de cada região e às mais diversas características de perfil de nossos franqueados, o que nos permitiu a criação de modelos de negócio que podem ser implantados em diferentes cenários", afirma a gerente.

A franquia está em 19 estados, com mais de 400 lojas. Neste ano a companhia chegou a todas as regiões do país com abertura de uma unidade no Pará.

No modelo de negócio do brechó Peça Rara, os próprios clientes são fornecedores em potencial. Eles deixam suas roupas nas lojas para serem revendidas e recebem parte de uma futura transação —em forma de dinheiro ou desconto no próprio brechó. A Peça Rara fica com a outra parte do lucro.

A marca foi fundada há 16 anos e permaneceu durante a maior parte desse tempo apenas com lojas próprias.

O investimento em gestão de processos e em um sistema operacional despertou a demanda pelo franqueamento do negócio, o que aconteceu em 2019.

A rede, que está em todas as regiões do país, está prestes a chegar a sua centésima unidade. Hoje, são 99, distribuídas por 15 estados, 72 delas abertas em 2022. O plano é chegar a 140 até o fim do ano.

De acordo com Bruna Vasconi, fundadora e CEO da marca, há espaço para "triplicar ou quadruplicar" a operação ao longo dos próximos anos.

"Em Brasília tínhamos a primeira loja, inauguramos a segunda, terceira, quarta, até a sétima por uma necessidade de atender mais pessoas, e o que tem acontecido nessa expansão nacional é muito parecido", afirma ela.

"Quando abrimos mais unidades em determinados estados, é para atendermos a demanda das pessoas que abraçam a nossa causa e usufruem do nosso serviço", explica.

Em 2021, o fundo especializado em franquias SMZTO se tornou sócio da Peça Rara e, além de chancelar o projeto da marca, ajudou a acelerar o negócio.

No ano passado, a companhia faturou R$ 95 milhões e espera fechar 2023 com R$ 190 milhões de receita.

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