Aceleradoras de startups ficam mais valorizadas após crise no setor

Modelo que prioriza conteúdos e formações de qualidade vem crescendo, segundo especialista

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São Paulo

A crise recente que afetou o setor de startups impactou de uma forma diferente as aceleradoras do setor, que fazem investimentos em empresas com grande potencial de crescimento.

Diferentemente de outros agentes, que tiveram alto número de demissões e mudanças na forma de trabalho, essas companhias ganharam mais valor no mercado.

Além do aspecto econômico, o financiamento pode ser feito por meio de mentorias, fornecimento de infraestrutura ou conexão com outras empresas e investidores.

Luiza Leite, 30, coordenadora do braço de aceleração da ACE Ventures, na sede da empresa em Porto Alegre (RS) - Daniel Marenco/Folhapress

Segundo Luiz Othero, CEO da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), não há dados específicos que comprovem os impactos do cenário atual para aceleradoras. No entanto, ele afirma que a crise é global e trouxe efeitos para diversos agentes do ecossistema de inovação.

"Acredito que as aceleradoras estão muito mais preocupadas em investir tempo e recursos em startups que realmente tragam retorno financeiro no futuro mais próximo."

Por outro lado, Othero considera que os programas de aceleração se tornam uma opção atraente para os empreendedores em um momento no qual é mais difícil conseguir recursos. Isso traz novas oportunidades para o setor.

Para Ney Cavalcante, coordenador do Núcleo de Empreendedorismo e Inovação da ESPM, com a inflação e a taxa de juros alta, investidores passam a ter uma menor aptidão a riscos.

"O conceito que se tinha de crescimento e aceleração a qualquer custo foi substituído pelo de empresas financeiramente sustentáveis. Crescer é interessante, vai ser importantíssimo para a economia, mas tem que ser feito com responsabilidade."

Segundo Luiza Leite, coordenadora do braço de aceleração da ACE Ventures, o processo de aceleração vem se transformando. Hoje a prioridade é entregar para as startups conteúdos e formações de qualidade antes de pensar em "equity", quando a aceleradora passa a ter uma participação societária na startup.

Esse tipo de aceleração, conhecido como equity free, tem crescido no mercado, de acordo com ela. "O dinheiro é importante, não sejamos hipócritas, mas conteúdo de qualidade, metodologia de trabalho, apoio direto e conexão com as startups também são fundamentais", diz.

Uma pesquisa realizada pela ACE mostra que 67,6% dos fundadores de startups que tiveram grande crescimento realizaram mentorias mensais. Esse tipo de trabalho também auxilia na formação de novas conexões e na aproximação com possíveis investidores.


O Acelera+, de Salvador (BA), existe desde 2017 e já atendeu cerca de 350 startups. A empresa realiza projetos que podem incluir ou não algum investimento direto. Segundo Rodrigo Paolilo, fundador e CEO da Rede+, a crise aumentou a procura pela aceleração.

"Essa é uma crise de acesso ao capital, que não deixou de existir, só está mais rigoroso. Por conta dessa exigência, as startups precisam estar mais robustas e estruturadas para trilharem o caminho do
venture capital."

Em Campinas (interior de São Paulo), a Baita já acelerou mais de 120 startups, sendo 65 delas com investimento financeiro. Segundo a sócia Rosana Fernandes, a crise traz ensinamentos para o setor.

"Um aprendizado é que a startup precisa ser sustentável para depois ser escalável. Não dá para crescer a qualquer custo. Os investidores estão buscando empresas que conseguem sobreviver com o dinheiro que elas geram."

Rosana diz ainda que, mesmo com as mudanças nos investimentos, o número de startups que procuram a Baita não diminuiu, principalmente por indicações de pessoas que já passaram pelo processo e de investidores.

Em Fortaleza (CE), o Instituto Atlântico realiza o Praia (Programa em Rede de Apoio à Incubação e Aceleração de Startups). O projeto surgiu há três anos e hoje trabalha com 15 empresas.

Segundo Luiz Alves, gerente de inovação e novos negócios do Atlântico, muitas startups conseguiam investimentos sozinhas em um cenário anterior e não cogitavam a possibilidade de procurar uma aceleradora. Mas a situação está diferente.

Segundo ele, o Praia reduziu em 33% seus investimentos, em função da crise. Apesar disso, a procura pelos serviços está alta. Nos últimos dois meses, 48 empresas se inscreveram em um edital.

Alves considera que, atualmente, estão chegando para o programa startups mais maduras. "A gente acabou subindo um pouco a barra, passamos a ser mais criteriosos."

Leonardo Melo, diretor de novos negócios da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), considera que alguns setores seguem em alta independentemente da crise. É o caso de startups ligadas à inteligência artificial e à bioeconomia.

"A inovação está ligada à solução de problemas, então este é um momento para que essas aceleradoras revejam seus modelos de negócio e passem a atuar com startups de áreas que estão em destaque, como aquelas voltadas à agenda ambiental."

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