Sem esperança, haitianos queimam corpos no subúrbio de Porto Príncipe
Os moradores da favela de Morne-Lazarre, no subúrbio da capital do Haiti, Porto Príncipe, perderam a esperança de encontrar sobreviventes sob os escombros e botaram fogo em diversas partes para eliminar os corpos.
Cinco dias após o terremoto que devastou na terça-feira a capital haitiana e as imediações, os moradores deste bairro não têm mais esperança.
ONU pode elevar tropas de paz no Haiti, diz Amorim
Bill Clinton e George Bush unem forças para ajudar o Haiti
Espanha doa US$ 7,2 milhões para serviços públicos no Haiti
"Achamos que não podemos retirar aqueles que ainda estão embaixo da ruínas de suas casas, então colocamos fogo usando pneus usados e um pouco de combustível", explica Emmanuel, um morador da favela.
Um odor insuportável de carne podre toma conta do ar. As casas destruídas formam amontoados de ferro e concreto.
Neste domingo, equipes de resgate da Holanda auxiliadas por cães não conseguiram detectar a presença de sobreviventes. "É indescritível o que aconteceu aqui", disse Bernard, um outro morador do local, que se propôs a guiar o jornalista da agência de notícias France Presse nesta parte que as autoridades ainda não visitaram.
Bernard mostra e extensão dos estragos. "Participamos do resgate de algumas pessoas na noite do tremor, mas depois disso, não conseguimos fazer mais nada. Era muito tarde para alguns", disse.
As imagens de guerra chocam o visitante: a área está totalmente devastada, quase todas as casas estão destruídas, centenas de pessoas morreram.
"Noventa por cento da favela foi destruída", assegura Germain Pressoir, um deputado que mora no bairro.
Aqueles que não deixaram Morne-Lazarre estão desesperados e imploram por assistência médica, água e comida. Várias outras favelas nas imediações de Porto Príncipe também foram destruídas pelo terremoto.
Tragédia
O terremoto aconteceu às 16h53 desta terça-feira (19h53 no horário de Brasília) e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, a capital do país.
Ainda não há um dado preciso sobre o número de mortos. A Organização Pan-americana de Saúde, ligada à ONU, diz que pode ter morrido cerca de 100 mil pessoas. Já o Cruz Vermelha estima o número de mortos entre 45 mil e 50 mil. Nesta sexta-feira, governo do Haiti afirmou estimar em 140 mil o total de vítimas.
Mais de 25 mil corpos de vítimas já foram enterrados, declarou neste sábado o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive. "Vinte mil corpos foram oficialmente retirados pelo Estado, sem contar aqueles retirados pela Minustah [missão de paz da ONU no Haiti], pelas ONGs e pelos voluntários, que somam por volta de 5.000 a 6.000", declarou.
15 militares brasileiros morreram no terremoto e, segundo o ministro Nelson Jobim (Defesa), mais três civis: a médica Zilda Arns, o chefe-adjunto civil da missão da ONU no Haiti, Luiz Carlos da Costa, e um terceiro que não foi identificado.
Mais 16 militares brasileiros ficaram feridos no terremoto. Eles chegaram ao Brasil nesta sexta-feira, e desde então estão internados no Hospital Geral do Exército, em São Paulo, para um período de quarentena.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis