Casa Branca diz que Egito precisa honrar acordo de paz com Israel
Horas após a renúncia do ditador Hosni Mubarak, no Egito, a Casa Branca pediu que as novas autoridades do país respeitem os acordos de paz com Israel, assinado em 1979 após os dois países travarem três guerras.
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"É importante que o próximo governo do Egito reconheça os acordos que foram assinados com o governo de Israel", declarou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
O Egito reconhece o Estado de Israel e é visto como um aliado estratégico do país hebreu, apesar de no passado as duas nações já terem travado guerras. Em 1979, tornou-se o primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com o Estado hebreu.
Mais cedo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que as Forças Armadas do Egito devem ajudar na transição à democracia após a renúncia do ditador Hosni Mubarak, no poder desde 1981.
O anúncio da renúncia foi feito pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, na TV estatal. Em poucos minutos, centenas de milhares estavam em festa e aos gritos na praça Tahrir, no Cairo, epicentro das manifestações de oposição. O Conselho Supremo das Forças Armadas comandará o país na transição.
Em um discurso de cerca de seis minutos e inúmeras referências históricas, Obama afirmou ainda que os protestos populares mudaram não apenas o Egito, mas o mundo. "As Forças Armadas agiram patrioticamente ao proteger os interesses do Egito e devem garantir que a transição será feito para o rumo certo", disse o presidente, na Casa Branca.
Carolyn Kaster/AP | ||
Presidente Barack Obama diz que revolta popular mudou não apenas o Egito, mas o mundo |
Ele afirmou ainda que o caminho "claro" para o país são "eleições livres e justas". "Nada mais guiará os próximos dias que a democracia genuína".
Obama reconheceu que a renúncia de Mubarak é apenas o começo do complexo processo para instaurar uma democracia em um país que passou três décadas sob mão de ferro e Lei de Emergência.
"Muitas questões continuam sem resposta, mas estou confiante que o povo egípcio pode achar as respostas, no espírito de unidade que definiu estes dias", disse o presidente americano, se referindo aos 18 dias de protestos que levaram milhares de pessoas às ruas do Cairo e de outras cidades egípcias para pedir a queda imediata de Mubarak.
Obama citou diretamente o ditador egípcio apenas para dizer que ele acatou "a fome do Egito por mudança". Mubarak foi um importante aliado dos EUA e do Ocidente na região. Os americanos investiram bilhões em dólares de ajuda militar e outras assistências desde que o Egito se tornou o primeiro estado árabe a fazer a paz com Israel, ao assinar um tratado em 1979.
Washington adotou um tom cauteloso na crise egípcia desde o início e apenas recentemente subiu o tom para pedir claramente a transição à democracia.
Obama reiterou que os EUA continuam um "amigo e parceiro" do Egito, disse que está disposto a ajudar na transição e pediu que o governo árabe continue um ator importante no cenário mundial.
"Egito teve um papel crucial em 6.000 anos, embora nos últimos anos tenha seguido um caminho cego no que se refere ao pedido das pessoas por direitos humanos", disse Obama, num tom excepcionalmente duro.
Ele afirmou que a revolta popular permitiu que, pela primeira vez, os egípcios sentissem que sua voz conta. "É assim que a democracia funciona". "Nenhum evento fechará este abismo imediatamente, [...] mas isto mostra que podemos ser definidos pela nossa humanidade comum".
Obama comparou ainda a revolta a eventos históricos como a derrubada do Muro de Berlim, que encerrou a divisão da Alemanha, a campanha de não-violência de Mahatma Ghandi na Índia e, um ícone que aparece frequentemente em seus discursos, Marthin Luther King. "Tem algo na alma que clama por liberdade", citou Obama, dizendo que são estes os clamores que vêm do Egito.
"Sempre lembraremos do povo egípcio, o que defenderam e como mudaram seu país e o mundo", completou.
NOVO LÍDER
O ministro de Defesa do Egito, Mohamed Hussein Tantawi, deve ser o novo chefe de governo. Segundo a agência de notícias Reuters, que cita fontes militares, Tantawi é o chefe do Conselho Superior das Forças Armadas, a quem Mubarak entregou a administração do país. Ele fez um tour pela área do palácio presidencial que pertencia a Mubarak nesta sexta-feira, de acordo com a rede de TV Al Arabyia.
O Conselho afirmou nesta sexta-feira que não pretende substituir "a legitimidade desejada pelo povo" egípcio e que irá anunciar em breve medidas para uma fase de transição no país. A afirmação foi feita em breve comunicado na emissora de TV estatal.
Na nota, a cúpula militar, que comandará a transição até realização de eleições, elogia ainda a saída de Mubarak, dizendo que a medida está de acordo com "os interesses do país". Os militares também saudaram os "mártires que perderam suas vidas" durante os violentos confrontos e protestos, que entraram hoje no 18º dia.
"O conselho irá soltar um comunicado detalhando os passos e procedimentos e diretivas que serão tomadas, confirmando ao mesmo tempo que não há nenhuma alternativa para a legitimidade aceitável pelo povo."
Na nota, o conselho também cumprimentou Mubarak "por tudo o que deu ao país em tempos de guerra e paz, e por seu patriotismo, priorizando os mais altos interesses da nação".
Tara Todras-Whitehill/AP | ||
Egípcios celebram o anúncio de que o ditador do país, Hosni Mubarak, renunciou ao poder após 30 anos |
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