Presidente do Haiti cumpre acordo e deixa o posto, mesmo sem sucessor
O presidente haitiano Michel Martelly deixou o posto neste domingo (7), mesmo sem um sucessor definido, e, em seu último discurso, lamentou ter tido que adiar o segundo turno das eleições presidenciais do país.
"Meu maior pesar é que a eleição presidencial tenha sido adiada", disse Martelly em cerimônia no Parlamento, neste domingo, dia em que, oficialmente, teria que terminar o seu mandato.
Andres Martinez Casares/REUTERS | ||
Martelly (à dir.) entrega a faixa presidencial ao presidente do Senado, Jocelerme Privert, neste domingo (7) |
A polícia haitiana fez um cordão de isolamento no prédio, que já havia sido alvo de tentativas de invasão nas últimas semanas por manifestantes contrários a Martelly.
No sábado (6), o presidente e líderes parlamentares chegaram a um acordo de última hora para formar um governo transitório. Foi definido que o Parlamento elegerá um presidente interino, que ficará no cargo por 120 dias, e que os legisladores apontarão, por consenso, um primeiro-ministro assim que possível.
Até que se escolha um novo premiê, o atual, Evans Paul, seguirá no cargo. Paul foi indicação de Martelly e não teve aprovação do Parlamento -que havia sido dissolvido em janeiro de 2015 após o término do mandato da então legislatura e sem a previsão de novas eleições.
Pelo acordo, o segundo turno do pleito, que deveria ter sido realizado no último dia 24, ficou agora marcado para 24 de abril. A data de posse do novo presidente foi adiada para 14 de maio.
No discurso no Parlamento, Martelly defendeu seu governo, dizendo ter trabalhado "dia e noite" por um Haiti melhor, e afirmou que está "pronto para prestar contas ao tribunal da história".
Ele foi alvo, nas últimas semanas, de violentos protestos, que o acusavam de fraude e exigiam sua saída na data prevista pela Constituição.
A oposição, puxada pelo candidato Jude Célestin -que ficou em segundo lugar no primeiro turno-, contesta o resultado das urnas e ameaçava boicotar o segundo turno, se ele fosse realizado no último dia 24.
No domingo, o presidente do Senado, Jocelerme Privert, pediu a todos uma "trégua" para que se tenha o mínimo de estabilidade para tentar concluir o ciclo eleitoral.
CONFRONTO
Apesar da decisão de Martelly de deixar o poder mesmo sem sucessor, manifestantes antigoverno foram às ruas neste domingo na capital, Porto Príncipe, e houve confronto com a polícia. Até a conclusão desta edição, não havia informações sobre feridos ou detidos.
No local que é o centro das comemorações de carnaval na cidade -a praça Champ de Mars, em frente ao palácio presidencial-, a festa foi adiada por temor de mais enfrentamentos.
À Folha, na última sexta (5), o comandante das forças da ONU no país, o brasileiro Ajax Pinheiro, disse que suas tropas estavam preparadas "para o pior" no fim de semana e após a saída de Martelly.
Segundo ele, o adiamento das eleições já atrasou o calendário para a retirada das tropas e pode ameaçar a saída da força militar, prevista para 2016. Hoje há 2.370 militares no país, sendo 970 brasileiros.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis