Alemães têm maior 'baby boom' em 20 anos

Imigração recente, estímulo financeiro estatal a novos pais e estabilidade econômica são impulsos

De terninho vermelho, a chanceler alemã, Angela Merkel, acaricia mão de bebê que é segurada por uma mulher de preto; outra mulher observa as duas no meio da imagem e outras duas pessoas aparecem à direita carregando as gêmeas da primeira criança
A chanceler alemã, Angela Merkel, brinca com uma das trigêmeas que visitou durante evento na Fundação Bosch em Berlim - Fabrizio Bensch - 6.mar.2017/Reuters
Guilherme Magalhães
Berlim

O país mais populoso da União Europeia experimenta um "baby boom". Pelo quinto ano consecutivo, a Alemanha registrou crescimento no número de nascimentos.

Foram 792.131 bebês nascidos em 2016, 7% a mais que no ano anterior, segundo números divulgados pelo governo alemão nesta quarta-feira (28). Desde 1997 não nasciam tantos bebês no país.

A curva ascendente estável contribuiu para levar a taxa de natalidade ao patamar de 1,59 filho por mulher, a maior para o país desde 1973.

Comparado ao de outros membros da União Europeia, porém, o índice alemão é menor que o francês (1,92), o sueco (1,85) e o britânico (1,79).

Para Sebastian Klüsener, do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, o recente "baby boom" pode ser explicado em parte pelos bons ventos na economia: o PIB alemão, que cresce desde 2010, passou quase incólume pela recessão na região.

"Condições econômicas favoráveis atraem imigrantes, que também contribuem para o aumento das taxas de natalidade", afirmou.

De fato, os dados de 2016 mostram crescimento de 25% no número de nascimentos de crianças de mães não alemãs em comparação com 2015, ano mais agudo da crise imigratória e quando a Alemanha recebeu cerca de 1 milhão de refugiados.

O aumento entre os filhos de mães alemãs foi de apenas 3% no mesmo período.

A taxa de bebês nascidos de mães sírias, por exemplo, subiu de 4,8 a cada mil nascimentos em 2015 para 18,5 em 2016 —ficou atrás apenas do número de nascidos de mães com nacionalidade turca, a maior comunidade estrangeira na Alemanha.

Filhos de mães polonesas e romenas aparecem em seguida no ranking.

Klüsener cita ainda a política familiar do governo alemão e modelos de horários de trabalho mais flexíveis nas empresas como fatores que estimulam a natalidade.

Por meio do Elterngeld (dinheiro dos pais), casais com um recém-nascido podem receber de € 300 a €€ 1.800 por mês no primeiro ano de vida do bebê. O valor varia conforme o salário líquido médio pago pelo empregador da mãe ou do pai nos 12 meses antes do nascimento.

Mais de 8 milhões de pessoas receberam o subsídio, implementado em 2007, durante o primeiro mandato da chanceler Angela Merkel.

Em 2015, foi introduzido o Elterngeld Plus, que paga a metade do subsídio tradicional, porém pelo dobro de tempo, 24 meses. A ajuda é voltada a autônomos que retomem a atividade profissional em meio período pouco após o nascimento do filho.

ENVELHECIMENTO

Os números trazem certo alento ao país de 82 milhões de habitantes onde, de acordo com projeções do governo, um terço da população terá mais de 65 anos em 2040.

O principal desafio, segundo o pesquisador do Instituto Max Planck, está relacionado a essa outra geração de "baby boomers", nascidos nos anos 50 e 60 do século 20.

"Eles atingirão a idade de aposentadoria na década de 2020. É muito importante para a viabilidade da Alemanha manter essa safra integrada no mercado de trabalho pelo maior tempo possível. Caso contrário, a proporção entre contribuições de aposentadoria e aposentados poderia mudar drasticamente."

Se isso não se concretizar, alerta Klüsener, "poderá haver desaceleração econômica, o que também poderia ter impacto negativo sobre as futuras taxas de natalidade e imigração" no país.

A previdência alemã passa por uma transição, iniciada em 2012 e com previsão de término em 2029, na qual a idade mínima de aposentadoria está sendo gradualmente elevada de 65 para 67 anos.

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