Digitalização é prioridade do 4º mandato de Angela Merkel

Na Alemanha, bases de dados não se integram, e estrutura de internet é defasada

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Folhapress
Berlim

Um casal que acaba de ter um filho na Alemanha e pensa em dar entrada no Elterngeldajuda estatal para pais que desejem interromper ou restringir sua atuação profissional– deve se preparar para uma saga burocrática.

Dependendo do caso, é necessária a entrega de até 17 documentos, emitidos por diferentes setores da administração pública e privada.

Se o cidadão deixa uma igreja e quer parar de pagar o Kirchensteuer, imposto cobrado de todos os fiéis registrados, também serão precisos paciência, idas e vindas a três escritórios diferentes e cerca de 20 euros em taxas.

O mesmo vale para quando se muda de endereço, ainda que na mesma cidade. O registro deve ser atualizado, sob pena de multa.

Em comum nessas três situações, papelada e bancos de dados que não conversam entre si. 

A digitalização se impõe como um dos grandes desafios alemães, especialmente na administração pública, mas também na economia e na infraestrutura de banda larga, quesito no qual o país aparece atrás de outros mais pobres, como Romênia, Bulgária e Espanha.

A palavra em alemão, “Digitalisierung”, é ouvida frequentemente entre as prioridades do recém-iniciado quarto mandato de Angela Merkel. Pela primeira vez, as atribuições dessa área estarão concentradas em uma pessoa, a secretária para Digitalização, Dorothee Bär.

Aos 39 anos, ela é a mais jovem no novo gabinete e disse que pretende criar um grupo formado por jovens “não envolvidos na burocracia” para aconselhá-la.

Um dos mais atuantes deputados na questão da digitalização, Konstantin von Notz (Verdes) não se entusiasmou muito com a medida. 

À Folha, ele disse que “enquanto parece que criaram um novo cargo apenas por motivos de relações-públicas, todas as outras responsabilidades permanecem nos ministérios individuais”.

A falta de coordenação também se faz presente na gestão dos dados pelos governos federal, estaduais e municipais, como apontou relatório publicado em outubro pela consultoria McKinsey e elaborado a pedido de uma entidade criada em 2006 com o objetivo de reduzir a burocracia no país.

Especialistas do Escritório Federal de Estatísticas contaram 214 bases de dados de cidadãos e empresas nas três esferas de governo. Poucas se comunicam entre si, o que faz com que as mesmas informações sejam coletadas mais de uma vez.

SEGURANÇA DO PAPEL

Jeanette Hofmann, do Instituto para Internet e Sociedade da Universidade Humboldt, vê “algum nível de desconfiança” da administração pública em relação ao digital. 

“Quando fazem o trabalho em papel, sentem que é mais sólido e confiável, em termos de assegurar que você pode recuperá-lo uma semana, um mês ou um ano depois.”

Caso exemplar da digitalização a passos lentos é o de Düsseldorf, cidade de 600 mil habitantes no oeste da Alemanha. Em 2016, ela se tornou uma das pioneiras ao implementar uma experiência de governo eletrônico.

Mesmo assim, em agosto de 2017, 57% dos principais serviços para cidadãos ainda eram realizados só em papel —para as empresas, esse índice era de 53%.

A digitalização custaria € 2,5 bilhões, estima o estudo da McKinsey. Mas, como resultado, a economia seria de € 6 bilhões anuais.

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