Descrição de chapéu Argentina

Morre general Reynaldo Bignone, último presidente da ditadura argentina

Militar de 90 anos cumpria pena por delitos de lesa-humanidade

General Reynaldo Bignone durante julgamento em Buenos Aires em 2010
General Reynaldo Bignone durante julgamento em Buenos Aires em 2010 - Juan Mabromata - 20.abr.2010/AFP
Sylvia Colombo
Buenos Aires

Morreu na madrugada desta quarta-feira (7) o general Reynaldo Bignone, o último militar a exercer o cargo de presidente da Argentina antes da redemocratização do país, em 1983.

Bignone, que tinha 90 anos, estava internado num hospital militar, mas vinha cumprindo pena pelas cinco condenações que recebeu por delitos de lesa humanidade. As mais recentes ocorreram nos últimos anos.

Em 2016, foi condenado a 20 anos de prisão pela participação nos crimes cometidos pela Operação Condor (estratégia armada entre governos militares do Cone Sul, para troca de inteligência e coordenação de perseguição a opositores).

Em 2017, também foi condenado a prisão perpétua por sequestros, torturas e assassinatos ocorridos entre 1976 e 1977 num dos centros clandestinos de repressão do regime militar (1976-1983). Antes, também havia sido considerado culpado de delitos de roubos de bebês (filhos de opositores mortos pela repressão e entregues a famílias de confiança dos militares) e sequestros e torturas no centro de detenção clandestina Automotores Orletti.

Seu mandato como presidente foi curto, entre 1º de julho de 1982 e 10 de dezembro de 1983, e teve como objetivo lidar com as consequências da derrota do país para o Reino Unido na Guerra das Malvinas, iniciada pelo general Leopoldo Galtieri (1926-2003).

As Forças Armadas, porém, já estavam bastante desprestigiadas nesta época, e a pressão da sociedade e dos organismos internacionais por eleições diretas começou a ganhar força. Bignone, antes de convocá-las, promulgou uma lei de anistia. Porém, esta foi anulada logo depois, quando o presidente eleito, Raúl Alfonsín (1927-2009), da União Cívica Radical, deu início ao Julgamento das Juntas, em 1985, em que foram condenados tanto comandos militares como líderes guerrilheiros. Bignone depois foi beneficiado pelo indulto concedido durante o período da gestão do peronista Carlos Menem (1989-1999). 

Porém, quanto Néstor Kirchner chegou ao poder, em 2003, todas as anistias e indultas foram anulados e vários militares, incluindo Bignone, voltaram ao banco dos réus. Desde então, mais de mil foram julgados, e 700 condenados a penas de prisão. Bignone foi um deles.

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