Putin é reeleito com votação recorde, e fica no poder até 2024 

Eleição presidencial russa tem comparecimento de 67%, dentro da meta traçada pelo Kremlin

 
Moscou

A Rússia reelegeu o presidente Vladimir Putin com 76,7% dos votos, um recorde desde o fim da União Soviética em 1991.

Ele ficará até 2024 à frente da segunda maior potência nuclear do planeta, quando completará 25 anos de poder, 4 anos e 4 meses deles como premiê.

A votação foi grandiloquente, com pouco mais de 56 milhões de eleitores apoiando Putin. O comparecimento, maior preocupação do governo em busca de legitimidade para o resultado, ficou em 67,7%, acima dos 65% da eleição de 2012 e dentro da meta traçada pelo Kremlin.

Faltando duas horas para o fim do pleito, que só acabou às 21h no horário de Moscou devido à votação no território europeu de Kaliningrado, a Comissão Central Eleitoral indicava que havia 59,5% de comparecimento, o piso indicado por políticos da campanha de Putin como confortável para a retórica oficial. Não houve nenhuma atualização no número até por volta da meia-noite, quando o número saltou oito pontos percentuais.

A notável coincidência, por assim dizer, foi explicada pela comissão como resultado do fato de que houve o cômputo atrasado de dados de áreas em que a apuração foi mais lenta, mas o hiato de horas para a divulgação do novo número não foi comentado.

O pleito apenas referendou uma campanha inexistente, na qual Putin mal apareceu. O processo político russo engessou-se nos últimos anos, o que foi evidenciado no nanismo da oposição.

A eleição também foi marcada por diversas acusações de fraude, mas nada que parecesse decisivo para o resultado.

Putin celebrou a vitória subindo ao palco do evento que celebrava o quarto aniversário da anexação da Crimeia da Ucrânia. “Essa vitória é um sinal de confiança e de esperança”, disse antes de puxar o coro “Rússia, Rússia, Rússia!” da plateia sob um frio de oito graus negativos.

A reabsorção do território, que fora russo até 1954, ajudou a dar a Putin popularidade acima de 80% com sua imagem de defensor dos interesses nacionais. Na Crimeia, Putin teve 90% dos votos.

O evento é tão central para o grupo no poder que o Parlamento atrasou a data da eleição em uma semana para que coincidisse com a celebração.

Putin também assoprou. Em entrevista, afirmou que está aberto para conversar com Londres sobre a crise envolvendo o envenenamento do ex-agente duplo Serguei Skripal e sua filha em uma cidade inglesa.

E negou que vá mudar a Constituição para ficar mais tempo no poder. “Isso que que você está falando é ridículo. Você espera que eu fique aqui até os 100 anos?”, afirmou Putin, 65.

Em segundo lugar na disputa veio o candidato do Partido Comunista, Pavel Grudinin, com 11,8%, seguido por Vladimir Jirinovski (Partido Liberal Democrático), com 5,7%.

Ksenia Sobchak, socialite e jornalista de oposição, que marcou 1,6%. Outros quatro candidatos ficaram de 1% para baixo. Esse resultado foi divulgado com 99,9% das urnas apuradas, e a comissão informou que irá proclamar a contagem oficial em até dez dias, após analisar recursos e denúncias.

Grudinin, um empresário conhecido como o Rei do Morango que nem comunista ou filiado ao partido é, se disse decepcionado e apontou para fraudes.

Ksenia acusou irregularidades. Ela vai agora montar um novo partido, e rachou de vez com o líder dos megaprotestos contra o Kremlin do ano passado, o blogueiro e ativista Alexei Navalni.

Barrado de concorrer por questões judiciais que ele diz serem uma armação, apesar de ter apenas 1% das intenções de voto, ele e Ksenia bateram boca em um debate online após o pleito. Ele a acusou de ser um “instrumento de Putin” –seu pai foi o mentor político do então tenente-coronel da KGB, em 1991.

Vladimir Vladimirovitch Putin, com o novo mandato, só perderá para o ditador soviético Josef Stálin (de 1924 a 1953) em longevidade no poder desde o fim do Império Russo, em 1917.

Putin tem um partido para chamar de seu, o Rússia Unida, mas concorreu como independente. Na entrevista, ressaltou diversas vezes que o país passa por “enormes dificuldades”.

Elas vêm da economia, que saiu de uma recessão profunda em 2015 e 2016, e agora cresce de forma limitada, o que dificulta a recomposição da renda.

Além disso, sanções decorrentes da ação na Ucrânia tolheram significativamente a tomada de crédito de empresas privadas e estatais.

Para Putin, um ator político racional, as “grandes dificuldades” podem servir para conter seus mais recentes movimentos de agressividade em relação ao Ocidente –que são parte central da criação do mito em torno de si.

A questão é que, emprestando um termo do mercado financeiro, Putin está muito alavancado. Sua presença militar na Síria recolocou a Rússia como potência no Oriente Médio.

Mas com tropas turcas da Otan em operação, fora forças especiais americanas e aviões de todos os lados, sempre arrisca um conflito direto no país árabe.

A situação ucraniana ainda não está resolvida no leste do país, de maioria russa e separatista. A Ucrânia é visto como um tampão essencial entre as forças da Otan (aliança militar ocidental) e a Rússia.

A ação lá, onde um golpe derrubou o governo pró-Moscou em 2014, e a guerra contra a Geórgia em 2008 estabeleceram os limites que Moscou aceita no que considera sua esfera de influência.

Mesmo a retórica militarista contra os EUA, com os novos “mísseis nucleares invencíveis” de Putin, é uma propaganda que sempre pode gerar reações exageradas, em especial quando do outro lado há um líder mercurial como Donald Trump.

Há espaço para erros, com tantas frentes abertas. A disputa com o Reino Unido no caso do espião é um exemplo, e com a Copa do Mundo à frente em junho, é dado certo em Moscou que as tensões irão seguir alta por algum tempo.




 

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