França diz que está disposta a discutir um novo tratado com Irã

Em visita à Casa Branca, Emmanuel Macron muda de opinião após dizer que não havia plano B

Donald Trump e o presidente francês Emmanuel Macron se cumprimentam após entrevista na Casa Branca, em Washington
Donald Trump e o presidente francês Emmanuel Macron se cumprimentam após entrevista na Casa Branca, em Washington - Andrew Harnik/AP
Washington

O americano Donald Trump parece ter dobrado o charme do presidente francês: nesta terça-feira (24), em meio à troca de abraços, elogios e calorosos tapinhas nas costas do republicano, o mandatário da França, Emmanuel Macron, declarou que está disposto a discutir um novo acordo nuclear com o Irã.

“Nós queremos trabalhar a partir de agora em um novo acordo para o Irã”, disse Macron, durante uma entrevista na Casa Branca.

É uma mudança completa de rumo, depois de o francês afirmar que “não havia plano B” para o Irã e que a melhor opção era a atual. 

“Estamos levando em conta a posição e os interesses recíprocos de nossos países”, declarou ​Macron. “Nós discordamos em relação ao atual acordo, mas estamos superando essa diferença ao decidirmos trabalhar juntos rumo a um novo pacto.”

Para ele, as novas negociações devem contemplar soluções para a estabilidade política do Oriente Médio, incluindo a situação da Síria, que vive uma guerra civil há sete anos e que deve precisar de esforços de reconstrução em breve. 

O francês, porém, defende que o atual acordo continue de pé, e que um novo tratado contemple o período após 2025, quando a maior parte das atuais disposições expira.

“Não é que vamos rasgar e começar do zero, mas vamos construir algo novo que contemple todas as nossas preocupações”, afirmou Macron.

NAMORO

O atual acordo, que impõe travas ao programa nuclear do Irã em troca de alívio nas sanções internacionais, foi costurado em 2015, pelo então presidente americano Barack Obama e pelos líderes do Irã, França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia.

Macron defende a importância do atual acordo e alertou nesta semana que, se os EUA ou outros países deixarem o pacto, pode haver repercussões na estabilidade política da região.

Mas o francês disse nesta terça que o país “não é ingênuo” em relação ao tema e que não quer cometer os mesmos erros do passado —pedindo que as negociações incluam o fim dos testes nucleares pelo Irã.

Trump, um dos principais críticos do atual acordo, abraçou Macron ao final do pronunciamento do francês e disse: “Eu gosto muito dele”.

“Nós temos muito em comum. Nós podemos mudar, ser flexíveis. Na vida, é preciso ser flexível”, declarou o republicano. “A França é um grande país, e será elevada a novas alturas com esse presidente.”

O americano, de fato, não poupou afagos ao francês de 40 anos, eleito em maio do ano passado. Momentos antes, Trump chegou a ajeitar o terno de Macron no início de um encontro, dizendo ter um relacionamento “muito especial” com o presidente.

“Eu vou tirar esse pedacinho de caspa dele. Nós temos que deixá-lo perfeito: ele é perfeito”, afirmou.

Trump tira caspa do terno do presidente francês Emmanuel Macron durante visita na Casa Branca
Trump tira caspa do terno do presidente francês Emmanuel Macron durante visita na Casa Branca - Kevin Lamarque/Reuters

​Macron, apelidado na Europa de “encantador de Trump”, retribuiu os afagos de forma discreta, e agradeceu as conversas “francas e frutíferas” que tiveram ao longo do dia.

A França é uma das principais aliadas dos EUA na Europa, e participou do recente ataque à Síria, em represália ao uso de armas químicas pelo governo de Bashar al-Assad. 

Os dois países afirmam estar unidos na luta contra o terrorismo e contra o Estado Islâmico, e dizem atuar em prol da estabilidade política no Oriente Médio.

O presidente americano insistiu que outros países da região contribuam para uma eventual reconstrução da Síria, e voltou a criticar duramente a atual negociação com o Irã. Os EUA ameaçam deixar o acordo caso nada seja alterado.

Ele ainda afirmou que, se o Irã continuar a ameaçar os EUA, “vai pagar um preço que poucos países jamais pagaram”.

Trump e Macron deixaram o salão abraçados, apoiando as mãos nas costas um do outro. 

O francês faz a primeira visita de Estado de um líder estrangeiro nos EUA desde a eleição de Trump, em novembro de 2016. Ele ficará no país por três dias. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.