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Brasil sobe 10 posições em ranking global de liberdade de imprensa

Repórteres Sem Fronteiras apontam melhora em relação de jornalistas e Executivo após fim do governo Bolsonaro

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São Paulo

O Brasil subiu dez posições no ranking mundial da liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras e chegou ao 82º lugar entre 180 países, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (3).

A normalização do relacionamento entre jornalistas e o Poder Executivo foi determinante para a melhora no ranking. "O Brasil tem confirmado expectativas de um cenário mais favorável para o exercício do jornalismo, na comparação com o governo Jair Bolsonaro", disse à Folha Artur Romeu, diretor do escritório da entidade para a América Latina.

O país chegou a entrar na "zona vermelha" do ranking em 2021, pela primeira vez em 20 anos, ao lado de países como Bolívia, Nicarágua, Rússia e Índia. Segundo a RSF, o país era considerado de "situação difícil" para a imprensa porque Bolsonaro "atacou sistematicamente jornalistas e meios de comunicação durante todo o seu mandato".

Equipe de jornalistas na Redação da Folha - Gabriel Cabral - 2.out.22/Folhapress

Apesar da melhora nas condições políticas para o exercício da profissão no Brasil, elas pioraram em grande parte dos países. Entre os cinco indicadores que compõem a pontuação, o político foi o que mais caiu em 2024. "Em escala global, uma coisa é clara: a liberdade de imprensa está ameaçada pelas mesmas pessoas que deveriam ser os seus garantidores: as autoridades políticas", diz o relatório.

Segundo a ONG, a liberdade de imprensa está sob pressão crescente das autoridades políticas e os governantes não têm garantido acesso a justiça nos casos de crimes ligados ao exercício da profissão. Além disso, cresce o uso de campanhas massivas de desinformação, por parte de autoridades, para aumentar a desconfiança da sociedade na imprensa. "Com isso, há menor escrutínio dos governos e um aumento na polarização, o que gera ganhos eleitorais", diz Romeu.

A Argentina, por exemplo, teve a maior queda no ranking nas Américas –26 posições. O país está agora em 66ª colocação, ainda bem acima do Brasil. Segundo Romeu, o presidente Javier Milei faz ataques sistemáticos contra jornalistas e ameaça asfixiar financeiramente a imprensa, como ao determinar o fechamento da agência pública de notícias Telam.

Entre os países com melhor colocação no ranking de liberdade de imprensa estão Noruega, Dinamarca e Suécia. Na lanterninha ficam Irã, Coreia do Norte, Afeganistão, Síria e Eritreia.

Na América Latina, os piores colocados são países de regimes autoritários: Cuba (168ª), Nicarágua (163ª) e Venezuela (156ª), onde "o jornalismo está sujeito à censura com base em decisões arbitrárias que podem assumir a forma de detenções, interrupções de radiodifusão e obstáculos administrativos." O relatório também alerta para a situação na Guatemala (138ª) e El Salvador (133º) , onde há criminalização e prisões de jornalistas.

Os Repórteres Sem Fronteiras alertam ainda para a situação do Peru (125º), que perdeu 48 posições em dois anos, porque "as condições para a prática do jornalismo estão se deteriorando à medida que o sistema político se torna cada vez mais opaco".

Os Estados Unidos (55º) perderam 10 posições no ranking e entram na campanha eleitoral em um contexto de crescente desconfiança nos meios de comunicação e hostilidade aberta de líderes políticos.

O relatório da RSF destaca também a gravidade dos ataques contra jornalistas em Gaza. "Mais de cem repórteres palestinos foram mortos pelo Exército israelense, incluindo pelo menos 22 no exercício das suas funções", diz o relatório. No ranking, a Palestina ficou em 157º lugar.

Há ainda menções às ameaças à liberdade de imprensa em países como China, Vietnã, Belarus, Rússia e Turquia.

Apesar da melhora da colocação do Brasil no ranking, os jornalistas do país ainda enfrentam muitas dificuldades, ressalta Romeu. Segundo ele, o Brasil não avançou mais devido a problemas estruturais como a situação financeira dos veículos de mídia, a precarização do trabalho jornalístico, a vulnerabilidade das empresas de comunicação a pressões econômicas (anunciantes) e a concentração da mídia, que prejudicaria a pluralidade.

Segurança é outro fator –o Brasil é o segundo país da América Latina com o maior número de profissionais de imprensa mortos na última década (30), atrás apenas do México (mais de 100).

O ranking da organização mede as condições para o livre exercício do jornalismo em 180 países do mundo. A liberdade de imprensa é medida a partir de cinco indicadores: impacto político, social, econômico, marco legal e segurança sobre a profissão. Com base na pontuação de cada um destes indicadores, é definida uma pontuação geral por país. Essa pontuação é o que define a posição relativa de cada um dos países no ranking.

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