França vive 'Terça Negra' com greve de ferroviários

Paralisações contra reforma do setor vão durar três meses; estudantes fazem protesto

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Passageiros caminham pela estação de trem de Saint-Lazare, em Paris, durante greve - Benoit Tessier /Reuters
Madri

Em uma “terça-feira negra”, como já tem sido chamada pela imprensa local, ferroviários franceses iniciaram o primeiro dia de sua greve de três meses contra o presidente Emmanuel Macron. Esse pode ser um dos desafios mais severos ao mandato do centrista de 40 anos, que venceu as eleições de 2017 com 66% dos votos.

As paralisações causaram caos no transporte público, e imagens veiculadas pelas televisões locais mostravam a estação Gare du Nord, a mais movimentada de Paris, abarrotada. Passageiros tropeçavam nas plataformas e precisavam de ajuda para se levantar do chão.

Outros setores da economia francesa, como a aviação e a energia, aderiram a outras greves, dificultando o cenário. Algumas universidades tiveram paralisações.

Macron, como havia prometido em campanha, está promovendo uma série de liberalizações da economia, tocando inclusive os direitos trabalhistas, considerados sacrossantos na França.

A greve dos ferroviários é uma resposta específica ao plano do governo de reformar a companhia estatal de trens, a icônica empresa SNCF.

Ferroviários planejam fazer paralisações de dois dias a cada cinco. Na estreia da greve, na noite de segunda-feira e durante a terça-feira, quase metade dos funcionários da SNCF não trabalhou, diz a firma.

Apenas um oitavo dos trens de alta velocidade circulou. As linhas para Suíça, Itália e Espanha foram totalmente interrompidas, e houve uma diminuição também nos serviços com direção à Alemanha e ao Reino Unido.

A imprensa francesa relatou, durante a jornada, longos engarrafamentos em Paris durante a hora do rush, de manhã. Os trens que circularam estavam lotados, e franceses buscavam alternativas de transporte.

Em paralelo, sindicatos na Air France aderiram também nesta semana a uma greve por melhores salários, mas 75% dos voos seguiam com normalidade, segundo o jornal francês Le Monde.

Policiais antidistúrbio tentam conter manifestantes durante protesto de ferroviários e estudantes, em Paris - Gonzalo Fuentes /Reuters

  HISTÓRICO

Greves de ferroviários têm um simbolismo particular na França.

Em 1995, esses sindicatos paralisaram Paris e forçaram a renúncia do então premiê conservador Alain Juppé. O histórico desestimulou os antecessores de Macron a insistir nessas reformas -- que o centrista promove hoje com decretos executivos acelerados por sua maioria legislativa.

Entre as propostas do presidente Macron está rever os benefícios dados a ferroviários, como emprego vitalício e aposentadoria antecipada. Pesquisas mostram o apoio da população à medida.

A SNCF recebe subsídios anuais equivalentes a R$ 40 bilhões, mas deve R$ 185 bilhões -- prova, para o governo, de que ela já não é eficiente e de que não está pronta para o rompimento de seu monopólio.

Caso tenha sucesso em sua queda de braço, Macron terá o caminho livre para outras de suas reformas, como a do sistema de educação e da aposentadoria. Por isso mesmo os setores públicos veem essa disputa como fundamental para os seus próximos anos.

O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, prometeu no entanto seguir adiante com as reformas. A França teve em 2017 seu melhor ano para investidores corporativos estrangeiros desde 2001, disse, “e faremos de tudo para incrementar essa dinâmica.”

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