Descrição de chapéu The New York Times

Queixa de atiradora do YouTube mostra como é a briga por dinheiro de anúncios

Nasim Aghdam reclamava que recebia pouco dinheiro por seus vídeos na plataforma

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Jack Nicas Nellie Bowles
San Francisco | The New York Times

As autoridades acreditam que uma mulher que atingiu com tiros três pessoas na sede do YouTube antes de se matar na terça-feira (3) estava irritada com as políticas da plataforma de vídeo.

Embora a polícia não tenha dito especificamente quais eram essas políticas, provavelmente tinham a ver com um conceito chamado "desmonetização". Reagindo à pressão de anunciantes e consumidores, o YouTube tem retirado anúncios de milhares de vídeos que, na opinião da empresa, não cumprem seus padrões de conteúdo. Isso provocou a revolta de muitas pessoas que postam vídeos na plataforma.

Um desses criadores era Nasim Najafi Aghdam, a mulher que, segundo a polícia, atirou contra funcionários do YouTube em San Bruno, na Califórnia. Ela postava com frequência vídeos no YouTube e estava ficando cada vez mais irritada com o dinheiro que ganhava com eles.

"Minha renda por 300 mil visualizações é US$ 0,10 (R$ 0,33)????", escreveu Aghdam em seu site na web, chamando o YouTube de ditadura. "Não há oportunidades de crescimento iguais no YOUTUBE ou em qualquer outro site de compartilhamento de vídeos, seu canal crescerá se eles quiserem!!!"

As reclamações de Aghdam repercutiram o que um amplo leque de participantes do YouTube —de pessoas que se declaram ativistas dos direitos dos animais, como ela, a agitadores políticos de extrema-direita— tem protestado cada vez mais no último ano.

Quando o YouTube começou, em 2005, adotava uma abordagem liberal do que era publicado, desde que o conteúdo não fosse violento ou sexual. Em 2012, a empresa começou a autorizar que quase qualquer vídeo incluísse propagandas, permitindo que os anunciantes alcançassem os consumidores onde estivessem na internet. Também deu aos criadores de vídeos, de gigantes comerciais a um indivíduo gravando em um laptop, uma maneira de ganhar dinheiro com seu trabalho.

Mas uma série de reportagens na mídia revelou anúncios de grandes marcas publicados ao lado de vídeos extremistas, racistas e de ódio, levando algumas companhias a retirar seu dinheiro do site. O YouTube começou então a reprimir e a retirar anúncios de milhares de vídeos polêmicos.

O YouTube não respondeu a um pedido de comentários para esta reportagem na quarta-feira (4).

Os criadores de vídeos ganham uma porcentagem do dinheiro dos anúncios que rodam antes ou junto com seus vídeos. Mas o YouTube vem estreitando os critérios para apresentar anúncios.

Em abril passado, a companhia disse que estabeleceria uma exigência de 10 mil visualizações acumuladas antes de permitir que os vídeos ganhem publicidade. Em janeiro, a empresa aumentou essa exigência para 4.000 horas de visualizações no último ano e 1 mil assinantes.

Quando o YouTube retira anúncios, ele diz aos criadores quais vídeos violaram os critérios, mas não dá muita explicação do que eles fizeram errado. Não está claro se o YouTube retirou anúncios dos vídeos de Aghdam.

A irritação em torno da desmonetização vem crescendo há mais de um ano.

Em fevereiro de 2017, uma das personalidades mais populares do YouTube, Felix Arvid Ulf Kjellberg, que atende por PewDiePie, publicou vídeos com imagens nazistas, incluindo uma placa que dizia "Morte aos judeus". Como punição, o YouTube desmonetizou alguns de seus vídeos, mas não o bloqueou. Kjellberg, que hoje se diz "amigo das famílias", ainda publica regularmente e tem um negócio florescente na plataforma.

Em dezembro, a executiva-chefe do YouTube, Susan Wojcicki, disse que a empresa vai contratar 10 mil pessoas para aplicar suas políticas sobre vídeos.

Mais ou menos na mesma época, outro astro do YouTube, Logan Paul, postou um vídeo dele mesmo rindo nervosamente diante do cadáver de um homem que parecia ter se suicidado. A companhia mais uma vez teve de pedir desculpas e anunciou que estava removendo Paul da camada superior de seu sistema de pagamentos e cancelando planos de lhe pagar para fazer um programa.

Wojcicki disse em janeiro que o YouTube pretendia contratar uma equipe ainda maior de monitores para examinar minuciosamente o conteúdo da plataforma e decidir o que deve ser incluído.

Um amplo espectro de criadores do YouTube, dos que fazem vídeos sobre conspirações aos astros mais populares, se manifestaram sobre o que consideram censura na plataforma.

Depois que um autor de um popular canal que publica notícias, Philip DeFranco, viu seus vídeos serem desmonetizados, ele chamou o processo de "censura com outro nome". No Twitter, ele escreveu: "O produtor acaba de falar com o YouTube e não foi um engano. Parece um pouco com uma punhalada nas costas, depois de dez anos".

Luke Rudkowski, um jornalista independente que descreve teorias da conspiração para seus mais de 500 mil assinantes no YouTube, queixou-se diversas vezes de que o site retirava anúncios de seus vídeos. Em agosto, ele postou um vídeo criticando notícias de que o YouTube começaria a remover mais conteúdo terrorista.

"Estamos vendo o expurgo, a limpeza dessa grande instituição online, para ser mais favorável às corporações e aos governos", disse Rudkowski. "Agora é por isso que eu penso que finalmente estamos chegando ao último tempo dessa linda e maravilhosa plataforma."

Alguns dias depois, ele disse que o YouTube tinha tirado anúncios de 660 de seus vídeos, "basicamente eviscerando minha principal fonte de renda para esta organização noticiosa".

Rudkowski continuou postando vídeos em seu canal no YouTube, WeAreChange, com intervalos de dias. Em uma mensagem na quarta-feira, ele se distanciou e a outros criadores do YouTube de Aghdam.

"Na minha opinião ela estava falhando e culpando o YouTube por seus problemas", disse ele. "Eu não acho que seja realmente uma censura, mas mais uma mulher desiludida que não conseguiu aceitar o fracasso."

Em seu site, Aghdam frequentemente se queixava das políticas do YouTube, sua influência e políticas com funcionários. Particularmente, ela disse que seu ativismo pelos direitos animais a tornava um alvo de escrutínio. Ela incluiu mais um vídeo, chamado "Estou sendo censurada. A guerra do YouTube contra os veganos", feito pela videoblogueira Emily Moran Barwick, que dirige um site chamado Bite Size Vegan.

Aghdam postou um vídeo afirmando que o YouTube tinha estabelecido restrições de idade, o que exigiria que muitos visitantes tivessem mais de 18 anos, em um vídeo de ginástica, apesar de vídeos de estrelas pop como Nicki Minaj serem muito mais provocantes. E ela acreditava que a empresa matriz do YouTube, Google, a estava visando.

"Quando se procura meu site no Google, acima do link eles colocam 'Ocorreu um erro', mas não há erro!", escreveu ela em seu site em fevereiro de 2016. "Eles acrescentam isso para impedir que você visite meu site."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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