Avanço de partido populista divide extrema direita na Alemanha

Grupos têm diferentes visões sobre a nacionalista AfD, terceira maior força do Parlamento

Berlim

Ao se transformar na terceira maior bancada do Parlamento alemão, há sete meses, o partido de direita ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha) trouxe para o conhecido plenário de cadeiras azuis a retórica anti-imigração e anti-islã que alavancou a sigla em eleições regionais nos últimos anos.

Para uma parcela de membros da extrema direita, pela primeira vez no pós-guerra suas opiniões estavam representadas no Bundestag.

Outros, porém, consideram que a AfD é um partido de um único tema, imigração, apesar de verem com bons olhos a ascensão de uma sigla mais à direita que a tradicional CDU (União Cristã-Democrata) da chanceler Angela Merkel.

É o caso de Sebastian Schmidtke, 33, do NPD (Partido Nacional Democrático da Alemanha), sigla classificada como neonazista e que já foi alvo de duas tentativas de banimento pela Justiça.

“São sempre os mesmos temas, o islã. A AfD não fala nada sobre justiça social, sobre como existem tantas pessoas pobres neste país”, disse ele, que foi deputado distrital em Berlim entre 2014 e 2016.

Enquanto a AfD defende um teto de 200 mil pedidos de asilo por ano —ideia também defendida pela CSU (União Cristã-Social), partido aliado de Merkel no estado da Baviera—, o NPD rejeita a proposta.

“Estrangeiros que vêm aqui para ganhar dinheiro fácil, isso é errado”, disse Schmidtke.

Sobre o rótulo de neonazista, ele disse que o partido “segue um caminho democrático, por meio de eleições”.

No pleito federal de 2017, o NPD, fundado em 1964 e que já chegou a ter representantes em Parlamentos estaduais, perdeu força com a ascensão da AfD e recebeu 0,4% dos votos. Atualmente conta com cerca de 4.500 filiados.

Schmidtke disse acreditar que até a próxima eleição federal, em 2021, “os eleitores da AfD vão perceber que ela não é a solução, apenas luta contra sintomas”.

Visão oposta tem os jovens do Movimento Identitário. “Estou positivamente surpreendido”, disse o estudante de administração Alex Malenki, 25, de Leipzig (leste).

“Sobre imigração, discutiam-se detalhes, mas a questão essencial ninguém debatia. Até então, os 13% que votaram pela AfD não eram representados no Parlamento.”

O Movimento Identitário, de raízes francesas, chegou à Alemanha por grupos na internet em 2012, antes do auge da crise de refugiados. 

Para Robert Timm, 26, estudante de arquitetura e chefe do movimento em Berlim, “o esforço de integração diminuiu. Temos comunidades paralelas, em que essas pessoas podem ter uma vida sem precisar falar uma palavra em alemão no dia a dia”.

O grupo, que se define como a nova direita, tem no seu cerne a discussão da identidade alemã. “A esquerda diz que não temos uma identidade comum como europeus ou alemães, mas quando vem a questão sobre quem é responsável por manter a memória do Holocausto, eles dizem: os alemães. Como você define alemão? Cidadania. Então, o cara que chegou nos anos 1960 da Turquia e hoje tem cidadania alemã é realmente responsável por manter a memória do Holocausto? Claro que não.”

Timm, que costumava votar para o partido A Esquerda, votou na AfD em 2017.

Os identitários, assim como o NPD, foram colocados sob vigilância dos serviços de inteligência do governo alemão pela ligação com indivíduos radicais da extrema-direita.

Protestos do movimento, que hoje tem cerca de 600 membros, também costumam terminar em confrontos com a polícia.

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