Descrição de chapéu Venezuela

Governo brasileiro não aceita texto que insinua sanções contra Venezuela

Recusa acontece porque legislação do país só autoriza punição se determinada pela ONU

Ditador Nicolás Maduro comemora resultado da eleição que lhe deu novo mandato na Venezuela
Ditador Nicolás Maduro comemora resultado da eleição que lhe deu novo mandato na Venezuela - Juan Barreto - 20.mai.2018/AFP
Clóvis Rossi
São Paulo

O governo brasileiro recusou-se a assinar documento emitido nesta segunda-feira (21) em Buenos Aires, no qual um conjunto de países insinua a adoção de sanções contra a Venezuela.

Esse novo texto —que se soma ao divulgado logo pela manhã pelo chamado Grupo de Lima—  foi uma iniciativa da Argentina, encampada por Estados Unidos e Austrália, além de Canadá, Chile e México, os três últimos também firmantes do documento do Grupo de Lima.

A recusa brasileira se deveu ao fato de que a legislação brasileira veta a imposição de sanções a qualquer país, a menos que tenham sido determinadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Não é o caso da ameaça presente no texto proposto pelos argentinos. Não especifica que tipo de punição seria adotada, mas faz a ressalva —comum nesse tipo de proposta— de que, seja qual for, não deve afetar a população venezuelana, e, sim, apenas os governantes.

Uma iniciativa com esse propósito jamais passaria no Conselho de Segurança porque seria vetada pela China e pela Rússia, os dois membros permanentes que são aliados do governo de Nicolás Maduro.

Os outros três membros (EUA, França e Reino Unido) em princípio seriam favoráveis, na medida em que os países europeus não reconheceram a eleição de domingo (20) na qual Maduro obteve a reeleição, mas teve menos votos do que a abstenção.

Coube ao vice-chanceler brasileiro, Marcos Galvão, explicar o motivo da recusa brasileira em participar desse documento que dá um passo a mais na pressão sobre o regime venezuelano, na comparação com as notas oficiais tanto do Grupo de Lima, de que o Brasil faz parte, como do próprio Itamaraty isoladamente.

No caso do Grupo de Lima, o item que mais se aproxima de propor sanções limita-se a chamar a atenção das autoridades competentes de cada país para que “transmitam ao setor financeiro e bancário o risco em que poderão incorrer caso realizem com o governo da Venezuela operações que não tenham o endosso da Assembleia Nacional, incluindo acordos de pagamento e créditos recíprocos para operações de comércio exterior —inclusive bens militares e de segurança".

A Assembleia Nacional é dominada pela oposição, mas seus poderes foram sabotados pelo governo Maduro que, inclusive, convocou uma eleição sem respaldo legal para uma assembleia constituinte que se tornou, em tese, o poder supremo.

A nota do conjunto de 14 países que formam o Grupo de Lima também sugere “coordenar ações para que as organizações financeiras internacionais e regionais procurem não conceder empréstimos ao governo da Venezuela, devido à inconstitucionalidade de contrair dívida sem o endosso da Assembleia Nacional, exceto quando o financiamento é utilizado em ações de ajuda humanitária".

Ou seja, há um esforço para sufocar o governo venezuelano, sem chegar no entanto a sanções específicas, ao contrário do que fez Donald Trump, antes e depois do pleito em Caracas.

O Brasil, diz Marcos Galvão, não condena as sanções já adotadas, mas não pode seguir esse caminho, vetado pela legislação interna.

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