Após boicotar a eleição presidencial deste domingo (20) na Venezuela, a coalizão oposicionista MUD (Mesa da Unidade Democrática) exigiu a realização de um novo pleito no último trimestre deste ano e prometeu convocar protestos pelo país.
“Continuamos lutando por eleições livres e transparentes, com todas as garantias e que se celebrem no final do ano para que o povo se expresse”, afirmou o presidente da Assembléia Nacional, Omar Barboza, em entrevista à imprensa.
O parlamentar falou na condição de porta-voz da Frente Ampla, que pregou o boicote eleitoral e reúne a MUD, a Igreja Católica venezuelana e grêmios de estudantes universitários, entre outras organizações pró-democracia.
Barboza disse que a oposição continuará apoiando manifestações de rua contra o ditador Nicolás Maduro para pressionar por eleições “limpas e transparentes”.
À Folha o coordenador da MUD Angel Oropeza que as manifestações do ano passado, que deixaram ao menos 121 mortos, “não resistiram à repressão do Estado”, mas que protestos pontuais continuam pelo país.
“Vamos tentar fazer com que os protestos tenham relação entre si. O país já está em ebulição”, afirma.
Questionado sobre o que a MUD classifica de um processo eleitoral limpo, Oropeza mencionou um Conselho Nacional Eleitoral (CNE) independente do governo, observadores internacionais e revisão dos registros eleitorais.
Com 98,8% das urnas apuradas, a abstenção chegou a 54%, a mais alta registrada em eleições presidenciais na Venezuela. No pleito anterior, em 2013, 20,3% deixaram de votar.
O ditador Nicolás Maduro obteve 67,7% dos votos, ante 21% para o oposicionista Henri Falcón, que rompeu com a MUD para se lançar candidato.
No cômputo geral, 24% dos 20,5 milhões de venezuelanos aptos a votar escolheram Maduro, acusado por Falcón de coagir os eleitores no dia de eleição. O ex-chavista não reconheceu o resultado e também pediu nova eleição.
Derrotado em 2013 e impedido de concorrer no domingo, o líder opositor Henrique Capriles publicou um texto em redes sociais no qual afirma que a abstenção é “uma manifestação contundente do verdadeiro clima político vivido na Venezuela” e pediu a união da coalizão oposicionista.
Para o cientista político John Magdaleno, apesar da alta abstenção, Maduro foi o grande vencedor de domingo.
“O oficialismo não ganhou no sentido eleitoral, todo mundo sabia que não era uma votação competitiva”, diz. “Mas o processo gerou um processo amargo no seio da oposição, que tornou impossível realizar uma estratégia conjunta."
É uma referência à candidatura de Falcón, que abandonou a MUD para se candidatar, gerando um intenso debate entre os que decidiram votar e os que optaram pela abstenção. Magdaleno defendeu a participação.
Dono de uma consultoria privada, o cientista político tem defendido que, para redemocratizar o país, é preciso “produzir uma fratura na coalizão dominante”.
Magdaleno fez um levantamento de 61 casos de transição de regimes autoritários para a democracia. Destes, 46 processos ocorreram após uma fratura na estrutura de poder, incluindo o Brasil, ao sair da ditadura militar.
Outras 15 transições ocorreram por meio de uma intervenção armada estrangeira. Desses países, 14 viviam uma guerra civil. Apenas o regime de Manuel Noriega, no Panamá, foi deposto pelos EUA mesmo sem um conflito interno, afirma o cientista político.
Para provocar fratura no chavismo, ele defende que a oposição ofereça baixar o custo de abandonar o oficialismo e ter interlocutores confiáveis para o cumprimento de acordos.
"Até onde chega o meu nível de conhecimento e informação, esses elementos não foram abordados exaustivamente. A operação não está pronta.”
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