ONG vê risco de ebola avançar na República Democrática do Congo

Epidemia, que já matou 27, atingiu com força centro urbano importante, o que não ocorreu antes

Sentada a uma mesa, enfermeira vestida de azul com máscara cirúrgica conversa ao fundo com um homem vestido de camiseta azul e colete branco; à frente, homem espera em fila
Enfermeiras que trabalham com a Organização Mundial da Saúde conversam com pacientes antes de vaciná-los em Mbandaka, na República Democrática do Congo - Junior Kannah - 21.mar.18/AFP
Patrícia Campos Mello
São Paulo

Mais duas pessoas morreram após serem infectadas pelo vírus ebola na República Democrática do Congo (RDC), elevando para 27 o total de mortos na epidemia, que começou em abril. O governo da RDC anunciou que já há 51 infectados

A maior preocupação é o aumento de casos detectados em Mbandaka, que tem 1,2 milhão de habitantes. Quatro casos foram confirmados na cidade, e há suspeita de outros dois. As oito epidemias de ebola anteriores que atingiram o país restringiram-se a regiões isoladas; apenas duas chegaram até Kinshasa (a capital do país) e foram contidas rapidamente.

"Existe a possibilidade de a epidemia sair do controle, porque a doença está se espalhando em um centro urbano em um país com estrutura de atendimento médico muito precária", disse à Folha Joan Tubau, diretor do centro de operações dos Médicos Sem Fronteiras em Barcelona.

O MSF mandou 50 toneladas de equipamentos e montou duas áreas de isolamento no país para infectados pela doença. A organização, com longa experiência em epidemias de ebola, tem cem pessoas na RDC.

O grande medo é que, ao se espalhar por uma grande cidade, a doença saia do controle, como aconteceu no oeste da África. Entre 2014 e 2016, mais de 11 mil pessoas morreram de ebola em Serra Leoa, Libéria e Guiné.

Além disso, Mbandaka é um centro comercial no rio Congo, com ligações por terra, água e ar para Kinshasa.

O vírus é inicialmente transmitido de animais selvagens, como morcegos e macacos, para humanos. O contágio entre pessoas se dá por meio de contato com saliva, sangue ou suor.

O ebola leva à morte por hemorragia interna e externa. Para algumas cepas do vírus, o índice de mortalidade chega a 90%. Não existe remédio específico contra o vírus.

"Estamos muito preocupados, mas acredito que o mundo aprendeu bastante com a última grande epidemia do vírus, em 2014", diz Tubau.

A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, está agindo de forma muito mais rápida. E, desta vez, existe uma vacina para a doença.

Na segunda-feira (21), médicos, enfermeiras e pessoas que entraram em contato com infectados começaram a ser vacinados no Congo. A vacina é experimental, mas os últimos testes foram muito animadores, com alto índice de imunização.

A Merck, fabricante da vacina, doou 8.640 doses, e outras 8.000 estarão disponíveis nos próximos dias.

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