Oposição mede forças com o Kremlin em protesto contra posse de Putin

Ativistas dizem que polícia começou a prender líderes regionais antes de ato neste sábado

São Paulo

A oposição ao governo de Vladimir Putin prepara para este sábado (5) um protesto nacional contra a posse do presidente russo, marcada para a segunda-feira (7)

O líder oposicionista Alexei Navalni durante protesto contra Putin em janeiro deste ano em Moscou
O líder oposicionista Alexei Navalni durante protesto contra Putin em janeiro deste ano em Moscou - Ievguêni Fledman - 28.jan.2018/AP

Será um teste decisivo para as pretensões de Alexei Navalni, o blogueiro ativista que comandou os maiores protestos recentes contra o Kremlin no ano passado, quando suas manifestações levaram dezenas de milhares às ruas em regiões de toda a Rússia.

O ânimo dos manifestantes arrefeceu, culminando com o fracasso do boicote pregado por Navalni à eleição que deu um quarto mandato presidencial ao líder russo, ocorrida no dia 18 de março. Ao contrário: o pleito registrou um alto comparecimento de 67,7% e deu a vitória a Putin, com 76,7% dos votos.

O resultado, previsível numa corrida em que a estrutura política engessada evitou qualquer competição real e registrou algumas fraudes, teve também a mãozinha dada pelas acusações britânicas de envenenar um ex-espião russo na Inglaterra.

Como disse o chefe da campanha de Putin, Londres lhe deu uns dez pontos percentuais de comparecimento a mais, já que o eleitorado identificou uma ameaça externa e o presidente trabalha bem a imagem de defensor da pátria. 

O grande derrotado foi Navalni, que não pôde concorrer por ter sofrido condenação judicial que atribui a perseguição política. Não que ele pontuasse acima dos 1% em pesquisas anteriores, mas sua tentativa de boicote foi amplamente divulgada e falhou.

Agora, ele tenta emular o sucesso dos atos de 2017 em um contexto mais simbólico. Em 2012, Putin foi eleito facilmente, mas enfrentou grande desconfiança em centros urbanos importantes como Moscou e São Petersburgo.

Na capital, um ato realizado na véspera de sua posse acabou atraindo milhares de pessoas, dando origem a uma série de protestos que se estendeu por meses, acabando após algumas sinalizações de liberalização política como a possibilidade de eleição de governadores, além do indiciamento e prisão de organizadores.

Se fracassar, Navalni ficará em posição bastante fragilizada em sua campanha anticorrupção, que em 2017 curiosamente poupava a figura de Putin e mirava Dmitri Medvedev, o premiê russo acusado de enriquecimento ilícito. Isso e a opacidade das operações de sua rede de apoio levaram a especulações, na oposição institucionalizada, de que Navalni trabalhava sob ordens de algum rival de Medvedev no Kremlin.

Agora, a campanha fala em "Ele não é nosso czar", direcionada a Putin, que chegou ao poder em 1999 e tem mandato até 2024, contando suas duas passagens como primeiro-ministro. Para o Kremlin, a dosagem da repressão em caso de sucesso dos atos terá de ser cirúrgica, já que a Rússia está sob intenso escrutínio político de seus críticos no Ocidente e terá as lentes do mundo apontadas para si em junho, quando começa a Copa do Mundo de futebol no país.

De seu lado, apoiadores de Navalni já apontam repressão prévia da polícia russa. Segundo o movimento Rússia Aberta, que trabalha com o blogueiro, ativistas foram detidos nesta sexta em Krasnodar e São Petersburgo.

Como não obteve autorização legal para fazer atos em Moscou, Navalni terá de partir para o enfrentamento. A cidade terá ensaios da parada militar do dia da vitória na Segunda Guerra Mundial, 9 de maio, o que também dificultará deslocamentos na região central. A data é o ponto alto das comemorações anuais do Kremlin, e um sobrevoo com 63 aviões está previsto para esta edição.

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