Após série de escândalos, chefe de agência ambiental dos EUA renuncia

Scott Pruitt é acusado de mau uso de fundos públicos e de favorecimento a familiares

O chefe da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, em depoimento no Congresso americano, em Washington - Pablo Martinez Monsivais - 26.abr.2018/Associated Press
Washington | Reuters, AFP e The New York Times

​Encarregado de desmantelar o legado ambiental do governo Barack Obama, o chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), Scott  Pruitt, renunciou nesta quinta-feira (5) após escândalos envolvendo o uso de fundos públicos, afirmou o presidente Donald Trump. Há 13 investigações federais contra ele.

"Aceitei a renúncia de Scott  Pruitt", afirmou Trump nas redes sociais, acrescentando o administrador fez um "trabalho excepcional". 

O sub de Spruitt na agência, o  ex-lobista do carvão Andrew  Wheeler, assume a chefia interinamente na segunda-feira. 

Protesto pede a saída de Scott Pruitt durante audiência dele no Congresso americano em Washington, em abril - Brian Snyde/Reuters

Ex-procurador do estado de Oklahoma, Pruitt vinha sendo questionado por suas frequentas viagens em primeira classe e seu relacionamento com lobistas. Ele também foi acusado de ter encarregado assessores de obter favores especiais para ele e familiares e de retaliar aqueles que o contestavam.

Segundo o ​New  York Times, Pruitt procurou o executivo da rede de fast-food Chick-fil-A para conseguir ajudar para que sua mulher, Marlyn, abrisse uma franquia do restaurante. 

Pruitt tentou ainda obter um emprego para a mulher na Associação de Procuradores Republicanos por um salário de US$ 200 mil (R$ 786 mil), segundo o Washington Post.

Além disso, ele teria pago US$ 43 mil (R$ 169 mil) em uma cabine telefônica à prova de som em seu escritório e alugado um apartamento de luxo da mulher de um lobista do setor de energia. 

Outra acusação é de que ele teria gasto cerca de US$ 3,5 milhões (R$ 14 milhões) em salários, horas extras e despesas de viagens de sua equipe de segurança, composta de 20 pessoas apenas no primeiro ano no cargo, de acordo com o NYT.

Uma denúncia recente é de que Pruitt pode ter usado a equipe de segurança em viagem privada para a Disneylândia e durante um jogo de futebol americano.  

Apenas duas semanas de suas viagens em junho de 2017 teriam custado aos contribuintes americanos mais de US$ 120 mil (R$ 470 mil).

Durante audiência no Congresso em abril, Pruitt não ofereceu desculpas por suas ações, culpando assessores por quaisquer problemas na EPA. Tanto democratas quanto republicanos vinham pressionando por sua saída do governo. 

Cético sobre as mudanças climáticas, Scott Pruitt entrou na Justiça 14 vezes contra decisões da EPA quando era procurador-geral de Oklahoma, entre 2011 e 2017. À frente da agência, liderou o maior retrocesso da história da EPA, incluindo o bloqueio de uma série de regulações para mitigar os efeitos das emissões de veículos e usinas elétricas. 

Um decreto assinado por Trump desmantelou o Plano de Energia Limpa, que restringe a emissão de gases por usinas a carvão, e um outro pedia a revisão da norma que limita a poluição de rios e lagos.

Pruitt também teve papel crucial em insistir para que Trump seguisse sua promessa de campanha e abandonasse o Acordo de Paris sobre o clima, assinado em dezembro de 2015 por 195 partes. A decisão foi tomada apesar de outros assessores do presidente o advertirem de que a saída do país poderia prejudicar sua credibilidade mundial.

Em 2017, Pruitt apareceu nas manchetes questionando a ciência estabelecida do papel humano no aquecimento global, contrariando décadas de pesquisa por instituições científicas, como a que ele mesmo dirigiu. 

O deputado democrata Gerry Connolly disse após a renúncia: "O reinado de venalidade de Scott Pruitt finalmente acabou. Ele fez com que criaturas do pântano corassem com seus excessos desavergonhados. Todos toleraram porque Trump gostava de seu fanatismo. Vergonhoso".
 

Ex-lobista do carvão vira chefe interino

O vice de Scott Spruitt na EPA (agência ambiental dos EUA), o ex-lobista do carvão Andrew Wheeler, assume a chefia interinamente na segunda-feira. 

Ambos compartilham a vontade de desfazer regulações ambientais. Mas, diferentemente de Pruitt, que se mudou para Washington como um outsider e aspirante a político, Wheeler é visto como alguém do meio que evita os holofotes e conhece bem as regras do jogo. 

Por isso, tanto amigos como críticos dizem que ele pode se mostrar mais apto do que seu ex-chefe no cargo. 

"Muitos temem que Wheeler seja mais eficaz em implementar a agenda antiambiente de Trump", disse Paul Bledsoe, assessor para o clima deo ex-presidente Bill Clinton.

Wheeler deve ficar interinamente à frente da EPA até que Trump nomeie um novo chefe, que deve ser confirmado pelo Senado. O processo pode levar meses.

A carreira de Wheeler foi construída ao redor da obtenção de avanços de interesse da indústria de combustíveis fósseis, como a protelação e o enfraquecimento de regulações federais. 

Ele trabalha em Washington há mais de 20 anos. Foi chefe da equipe do senador de Oklahoma James Inhofe, conservador republicano que ficou conhecido como um dos mais políticos mais proeminentes a negar a responsabilidade humana sobre o aquecimento global. 

Em 2010, ele criticou o IPCC (painel da ONU para mudança climática), dizendo em um post em um blog que o órgão vinha funcionando mais como uma entidade política do que científica. 

Wheeler também trabalhou na EPA na gestão de George Bush pai. Mais recentemente, atuou como lobista da empresa Murray Energy, cujo chefe, o magnata do carvão Robert E. Murray, é assessor e conselheiro de Trump.
 

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