Ativista do Pussy Riot provavelmente foi envenenado, diz médico alemão

Crítico ao Kremlin, Pyotr Verzilov foi transferido de Moscou para hospital de Berlim

Berlim | Reuters e AFP

O ativista do grupo anti-Kremlin Pussy Riot transferido na semana passada para a Alemanha após ser internado em Moscou provavelmente foi envenenado com uma substância que afetou seu sistema nervoso, afirmou nesta terça-feira (18) um de seus médicos em Berlim.

Pyotr Verzilov foi um dos ativistas que invadiram o campo durante a final da Copa do Mundo na Rússia, em julho. 

Ele foi internado após perder a visão, a fala e os movimentos, segundo o grupo. 

O ativista Pyotr Verzilov chega ao aeroporto de Schönefeld, em Berlim - Cinemaforpeace - 15.set.18/Reuters

"É altamente provável que ele tenha sido envenenado", afirmou o médico Kai-Uwe Eckardt, do Hospital Charité. 

O hospital informou que Verzilov já não enfrenta risco de morte, está consciente e consegue falar, mas ainda precisa de cuidados intensivos. 

Eckardt afirmou que Verzilov provavelmente teria morrido se não tivesse sido prontamente hospitalizado.

Segundo o médico, ele estava sofrendo de uma síndrome anticolinérgica, uma situação em que a passagem de certos neurotransmissores é bloqueada. O início súbito dessa condição era forte indicativo de envenenamento. 

A substância que teria sido usada não foi identificada.

Segundo Eckardt, "os sintomas que sofre podem ter sido provocados por uma incrível diversidade de substâncias", entre elas plantas ou diversos tipos de drogas.

A possibilidade de conseguir determinar a natureza dessas substâncias "não é muito elevada", admitiu, já que as análises foram realizadas seis dias depois do envenenamento.

Eckardt disse que o paciente está sofrendo de uma síndrome anticolinérgica, que bloqueia alguns neurotransmissores.

A manifestação rápida dos sintomas —que incluem grande dilatação das pupilas, pressão alta e secura das membranas mucosas— é um indício forte de envenenamento, disse.

O médico descartou a possibilidade de uma overdose provocada pelo próprio paciente. "Este tipo de substância é muito raro em ambientes de droga e não temos indícios de que [Verzilov] tivesse um problema com drogas", completou.

"Se alguém toma drogas em tais quantidades, seria unicamente com tendências suicidas. E não temos nenhuma indicação de que este é o caso".

O ativista de 30 anos, que também tem nacionalidade canadense, havia chegado a Berlim em um estado classificado como "grave", a bordo de um avião ambulância, na madrugada de domingo. Estava acompanhado por membros de sua família.

"Parto do princípio de que foi vítima de um ato de intimidação, incluindo uma tentativa de assassinato" por envenenamento, declarou ao tabloide alemão Bild sua mulher, Nadezhda Tolokonnikova.

"Ninguém que esteja participando de atividades políticas na Rússia hoje está realmente seguro", acrescentou. 

Verzilov é editor do Mediazona, site de notícias russo que revela violações de direitos humanos dentro do sistema penal do país. 

O Pussy Riot ganhou fama em 2012, quando suas integrantes foram presas por fazerem um protesto contra o presidente russo, Vladimir Putin, em uma catedral ortodoxa de Moscou. Desde então o grupo se tornou símbolo de ações de protesto anti-Kremlin.

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