Descrição de chapéu The New York Times

Xi Jinping usa viagem como chance para se alçar ao pedestal de Mao Tsé-tung

Visitas serviram para reacender imagem populista e revidar protecionismo de Trump

Javier C. Hernández
Pequim | The New York Times

Ele segurou espigas de trigo e conversou à vontade com os agricultores. Ficou lado a lado com trabalhadores em uma refinaria de petróleo e falou em construir uma China invencível. Pediu que a China se torne mais autoconfiante na disputa comercial com os Estados Unidos.

O líder chinês, Xi Jinping, visitou nesta semana o nordeste do país, no que a mídia estatal chamou de turnê de inspeção de três dias. Mas a viagem foi muito mais que isso.

Foi uma oportunidade para Xi se colocar sobre um pedestal junto com Mao Tsé-tung, reacender uma imagem populista e revidar os tiros do presidente dos EUA, Donald Trump, e suas políticas protecionistas.

Homem no comando

Xi Jinping aparece no meio da foto, com quatro funcionários uniformizados do lado esquerdo e cinco do lado direito. Ao fundo, uma área aberta de campo com uma colheitadeira vermelha.
O líder chinês, Xi Jinping, aparece ao lado de trabalhadores de uma fazenda em Jiansanjiang, no noroeste do país - Xie Huanchi/Xinhua
Mao aparece à frente de lavradores com enxadas e outras ferramentas de campo, em uma área aberta de uma lavoura
Pintura mostra o líder chinês Mao Tsé-tung visitando uma área de plantação em Cantão, no sul da China, em 1958 - Reprodução

Mao foi um mestre da propaganda nas áreas rurais, usando imagens e canções para salientar sua preocupação pelo trabalhador comum e cultivar uma imagem atenciosa, paternal.

Xi, que foi criticado por inspirar um culto da personalidade com paralelos com a era Mao, tomou nota. Em uma imagem de sua turnê por uma fazenda na província de Heilongjiang, o presidente é visto sob um céu azul idílico, avançando confiantemente sob o olhar de uma multidão de agricultores em adoração.

A imagem é conhecida. Sua disposição imita o visual e a sensação de cartazes de propaganda pintados dos anos 1950, que com frequência mostravam Mao em ambientes bucólicos.

“Esse é um sinal visual não apenas da atual predominância de Xi, mas de sua reivindicação à grandeza histórica”, disse David Bandurski, codiretor do China Media Project, um programa de pesquisa afiliado à Universidade de Hong Kong.

Ele disse que Xi acrescentou um viés moderno ao imaginário rural, com uma fila de colheitadeiras ao fundo para exibir o progresso tecnológico da China. 

Pang Laikwan, professora na Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que Xi, que cresceu durante o caos da Revolução Cultural, parece ter aprendido muito com o culto à personalidade de Mao, incluindo seu apelo populista.

“O próprio Mao tem esse interesse genuíno por se comunicar com as pessoas comuns, o que constitui parte de seu carisma”, disse ela. 

Pregando autoconfiança

Em um vídeo, Xi, com as mãos cruzadas nas costas, conversa com um trabalhador em uma fábrica de equipamentos em Qiqihar, uma cidade no nordeste do país. 

“Essas matérias-primas são feitas aqui?”, pergunta ele. 

“Sim, todas elas”, responde o trabalhador. Xi balança a cabeça em aprovação.

Xi usou sua visita para reiterar pedidos de que a China se mova mais depressa para produzir suas próprias tecnologias, para que seja menos dependente dos EUA.

Com as tensões comerciais crescendo entre os dois países e ameaçando as redes de abastecimento, Xi falou com frequência sobre a necessidade de a China desenvolver seus próprios microchips, softwares e outras tecnologias, parte de sua estratégia para se tornar uma superpotência do século 21.

Durante a turnê, Xi pediu autoconfiança. A certa altura, pegou uma tigela de arroz e disse: “Arroz chinês, tigela de arroz chinesa”, enfatizando seu apelo por produtos nacionais. 

“O grande rejuvenescimento da nação chinesa depende de nossa competitividade econômica”, disse ele, usando uma frase preferida para descrever a ascensão da China, enquanto uma multidão de trabalhadores aplaudia com fervor. “Só então a China será invencível para sempre.”

Amigo do Estado

Desde que chegou ao poder, em 2012, Xi enfrentou críticas por fazer muito pouco para sacudir as empresas estatais inchadas, que dominam setores como telecomunicações e aço. 

Xi deixou claro durante sua visita ao nordeste, que foi quase totalmente dominada por companhias estatais, que não pretende mudar de rumo.

“Qualquer ideia e opinião que duvidem ou manchem o nome das empresas estatais está errada”, disse ele, falando a uma multidão de trabalhadores na petroquímica Liaoyang, na província de Liaoning, na quinta-feira (27).

As firmas estatais muitas vezes são criticadas por se concentrar em manter o emprego dos trabalhadores, em vez de criar modelos de negócios inovadores. 

Xi afirmou que o setor privado terá “apoio inabalável”, mas que as companhias estatais “devem continuar sendo mais fortes, melhores e maiores”. 

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.