Descrição de chapéu Financial Times

Michael Bloomberg estuda possibilidade de disputar presidência com Trump

Ex-prefeito de Nova York, bilionário se filiou aos Democratas e doou US$ 100 milhões ao partido

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Nova York | Financial Times

Os americanos que se opõem ao bilionário nova-iorquino que ocupa a Casa Branca poderão em breve ter a possibilidade de optar por outro: Michael Bloomberg.

O ex-prefeito de Nova York e fundador da empresa de informações financeiras Bloomberg deu mais um passo esta semana na direção de lançar uma bem coreografada candidatura à Presidência, mudando seu registro partidário para democrata.

Bloomberg, que já flertou antes com a possibilidade de fazer campanha para a Casa Branca, já havia atiçado as expectativas ao prometer US$ 80 milhões a candidatos democratas nas eleições parlamentares de novembro, valor elevado mais tarde para US$ 100 milhões. “São muitas notas promissórias”, comentou um ex-membro de sua equipe, que, como outros do círculo de Bloomberg, acha que é certo que Bloomberg será candidato.

Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, em um fórum no dia 26 de setembro
Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, em um fórum no dia 26 de setembro - Shannon Stapleton/Reuters

Esta semana, Bloomberg esteve na Flórida, fazendo campanha ao lado de Andrew Gillum, o candidato a governador pelo Partido Democrata, a quem entregou um cheque de US$ 250 mil. Foi um passo em uma programação mundial de viagens que seus assessores preveem que passe a concentrar-se cada vez mais nos Estados Unidos.

Bloomberg terá 78 anos em 2020, e essa será quase certamente sua última chance de chegar à Casa Branca. A Presidência de Donald Trump intensificou o senso de urgência de um homem que se preocupa com o impacto do aquecimento global e já expressou repúdio pelo apoio de Trump a nacionalistas de direita.

“Precisamos que os democratas garantam os freios e contrapesos que nosso país tanto necessita”, disse Bloomberg na quarta-feira (10), descrevendo seu apoio ao partido como “um baluarte contra aqueles que ameaçam nossa Constituição”.

No entanto, apesar de todo o talento e os recursos financeiros de Bloomberg, sua candidatura ainda pode se tornar vítima do timing e da mudança de direção dos ventos políticos. Uma grande pergunta se impõe: um executivo bilionário é o candidato certo para a era do MeToo, cheia de veemência e urgência, quando os eleitores progressistas estão aderindo a socialistas democratas como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, a jovem ativista que chocou analistas em junho ao derrotar um deputado veterano no Bronx? Michael Bloomberg era republicano –de viés independente— quando governou o Estado de Nova York.

“Será que ele é centrista demais em um partido que está se deslocando mais e mais à esquerda?”, indagou Hank Sheinkopf, veterano estrategista de campanha que trabalhou para Bloomberg no passado.

Sheinkopf argumentou que a liderança anterior de Bloomberg nas questões do controle de armas e da mudança climática devem persuadir os progressistas de sua boa-fé. “Ele é um homem que usa seu dinheiro para lutar por causas que têm importância para a geração do milênio”, ele explicou.

Outros encaram Bloomberg com ceticismo. O cientista político David Jones, do Baruch College da City University, em Nova York, concluiu que um magnata corporativo com fama de ser “pragmático que resolve problemas” tem poucas chances de ser o nome escolhido por um partido cujos ativistas anseiam cada vez mais por um lutador.

Mesmo assim, Jones vê uma chance de Bloomberg se destacar em um campo de primárias cheio de candidatos que querem seguir o exemplo de Sanders. “É possível que haja uma pista à indicação pelo partido que não esteja ocupada e que ele possa ocupar”, ele aventou.

Embora tenha sido um prefeito eficaz e, segundo alguns, transformador, Bloomberg nunca foi visto como alguém muito hábil em fazer campanhas. Um assessor destacou que ele está mais acostumado a fazer seus funcionários do que os eleitores rirem de suas piadas.

Amigos e conselheiros dizem que uma possível candidatura de Bloomberg seria baseada numa leitura desapaixonada dos dados e na convicção da possibilidade de uma vitória. Devido às demandas do colégio eleitoral, eles concluíram que uma candidatura presidencial independente não seria viável.

Um assessor de Bloomberg admitiu que é difícil prever a forma que vai assumir a corrida democrata dentro de dois anos, mas contestou a visão de muitos de que a base do partido está se deslocando mais à esquerda, citando disputas recentes em Nova York e outros Estados.

Uma certeza é que Michael Bloomberg possui bolsos fundos que lhe permitiriam financiar uma campanha por boa parte das primárias. Enquanto isso, suas contribuições para candidatos democratas nas eleições parlamentares próximas devem consolidar a lealdade dos beneficiados e levar outros democratas que cogitam em se candidatar à indicação presidencial a pensar duas vezes.

Dois anos atrás Bloomberg traçou planos detalhados para se candidatar como independente, mas os abandonou depois de concluir que tal candidatura poderia dividir o voto e entregar a Presidência a Trump, candidato que ele acusou de “incentivar os preconceitos e medos das pessoas”. Trump venceu de qualquer maneira.

Essa vitória incentivou os apoiadores de Bloomberg, pelo fato de ter abalado as ideias preconcebidas sobre quem os eleitores americanos aceitariam como presidente. A visão convencional dizia que um judeu solteiro e bilionário de Nova York não teria chances. Mas talvez esse não seja mais o caso, dizem os defensores do ex-prefeito, apontando para os três casamentos e a bagagem considerável do presidente atual.

Os defensores de Bloomberg apreciam o contraste que ele formaria em uma disputa frontal com Trump: ele é um bilionário que enriqueceu por seus próprios esforços, que ergueu sua empresa sem precisar de presentes de um pai rico e que tem um histórico de realizações no governo, tendo sido prefeito de Nova York por três mandatos e iniciado um projeto de longo alcance de redesenvolvimento da cidade.

Bloomberg realmente tinha ares presenciais quando liderou o Fórum Bloomberg Empresarial Global, no Plaza Hotel de Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU no mês passado. Presidentes e primeiros-ministros de países da França ao Fiji elogiaram sua liderança nas questões que o preocupam como filantropo, doador político e formador de redes desde que deixou seu cargo eleito, cinco anos atrás.

Questionado sobre por que concordou em discursar no evento, um diretor de fundo de investimento privado respondeu simplesmente: “Porque Michael me convidou”.

Com Trump repisando o slogan da “América em primeiro lugar” e elevando as tarifas sobre os importados da China, Bloomberg falou com convicção sobre a paz que o multilateralismo trouxe ao mundo e de como a prosperidade é reforçada pelo comércio internacional.

“O comércio tornou o mundo mais pacífico e estável, interligando nossos países e alinhando nossos interesses, mas os benefícios do comércio não foram distribuídos tão amplamente quanto achamos que deveriam ser, e precisamos fazer mais para corrigir essa situação”, ele disse.

Soou como um ensaio de Bloomberg para debates nas primárias com democratas de esquerda como Bernie Sanders –possivelmente porque tenha sido justamente isso.

Tradução de Clara Alain

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