Japoneses temem que robôs tomarão empregos de seus filhos, diz estudo

Para entrevistados, automação reduzirá vagas e busca por trabalho ficará mais difícil

São Paulo

Para a maioria dos japoneses, a automação e o uso intensivo de robôs nas empresas levarão a um futuro com menos oportunidades de emprego e mais desigualdade; 76% acreditam que as novas gerações terão menos sucesso financeiro do que seus pais.

Robô recepcionista exibido em hotel no Japão - Shizuo Kambayashi - 12.nov.2015/AP

As conclusões são de um estudo divulgado pelo Centro de Pesquisas Pew nesta segunda-feira (12), que ouviu 1.016 pessoas no país entre 24 de maio e 19 de junho deste ano.

Entre os entrevistados, apenas 15% acreditam que as crianças de hoje terão uma situação financeira melhor que a de seus pais. O nível de otimismo está entre os mais baixos entre 27 nações pesquisadas pelo Pew em 2018.

A visão negativa sobre o futuro pode estar ligada à automação: 89% das pessoas ouvidas disseram acreditar que robôs e computadores assumirão boa parte do trabalho dos humanos nos próximos 50 anos. Para 83%, esta mudança levará a um aumento da desigualdade entre ricos e pobres; 74% acreditam que aumentará a dificuldade para encontrar emprego.

A maioria dos entrevistados (58%) não acredita que o avanço dos robôs vá gerar novas funções com melhores salários, mas 74% creem que a economia se tornará muito mais eficiente.

O pessimismo também se reflete em outras respostas: 41% dizem estar em situação financeira pior do que tinham há 20 anos. No entanto, a visão ruim vêm diminuindo. A insatisfação com a economia japonesa chegou a atingir 93% em 2012. Hoje, está em 55%.

O Japão vive uma década de baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), com crescimento anual em torno de 1%, percentual que deve se manter neste ano, segundo previsão do FMI.

Apesar disso, o país é a terceira maior economia do mundo, e registrou PIB de US$ 4,8 trilhões em 2017, segundo dados do Banco Mundial. O Brasil é o oitavo da lista, com PIB de aproximadamente US$ 2 trilhões em 2017.

A pesquisa também fez perguntas sobre imigração e política. Para a maioria (58%), o país deve manter o atual número de imigrantes, e 23% defendem que o Japão receba mais estrangeiros. Pessoas de menor renda tendem a ser menos favoráveis à abertura de espaço para imigrantes.

Apesar das respostas, a maioria dos japoneses descarta relacionar imigrantes a um possível aumento da criminalidade ou de atos de terrorismo.

A vinda de imigrantes é uma opção para ajudar a evitar o encolhimento da população. A expectativa é que o total de habitantes, hoje em 127 milhões, diminua 30% até 2065. 

A confiança na atuação do primeiro ministro Shinzo Abe em assuntos internacionais atingiu o menor nível registrado: 48% dizem ter confiança em suas decisões e 50%, não a ter.

A satisfação com a democracia também caiu. Apenas 40% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com a democracia. Em 2017, esse percentual era de 50%.

Entre as razões para o descrédito com o sistema estão opiniões como a de que as eleições não mudam as coisas (62% acreditam nisso), que os eleitos não se importam com o que as pessoas comuns pensam (62%)  e que a maioria dos políticos são corruptos (53%).

No plano internacional, os japoneses preferem que os Estados Unidos continuem sendo o país mais poderoso do mundo (81%) e possuem uma visão fortemente contrária à China: 78% disseram ter uma visão desfavorável do gigante asiático e 88% consideram que o país vizinho não respeita as liberdades individuais.

No entanto, o apego aos EUA não se reflete em apoio a Donald Trump. Apenas 30% dizem confiar nele. Ao deixar o cargo, Obama era bem-visto por 78% dos japoneses. Para o instituto, uma das razões para a falta de confiança em Trump é sua atuação nas negociações para conter o avanço nuclear da Coreia do Norte.  A premiê alemã Angela Merkel tem melhor imagem, com 65% de aprovação. 

O Pew também entrevistou moradores de outros países para saber como estrangeiros veem o Japão. Nos EUA e na Austrália, mais de dois terços das pessoas ouvidas disseram ter uma visão positiva. A exceção é a Coreia do Sul, onde 63% dizem ter uma imagem desfavorável de seu vizinho. O percentual de rejeição é ainda mais alto (72%) entre sul-coreanos com mais de 50 anos.

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