Ao receber Nobel da Paz, dupla pede punição de violência sexual na guerra

Iraquiana Nadia Murad e congolês Denis Mukwege denunciaram indiferença em relação a vítimas

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Oslo | AFP

Ao receber o prêmio Nobel da Paz nesta segunda-feira (10), em Oslo, o médico congolês Denis Mukwege e a ​iraquiana Nadia Murad, ex-escrava do Estado Islâmico, pediram ao mundo o fim da indiferença em relação às vítimas de violência sexual.

O ginecologista, 63, e a jovem yazidi, 25, receberam o prêmio das mãos da presidente do comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, que se referiu a eles como "duas das vozes mais poderosas do mundo de hoje", contra a opressão das mulheres.

A ativista iraquiana Nadia Murad com o ginecologista congolês Denis Mukwege (centro) e o membro do comitê do Nobel Henrik Syse durante a cerimônia de entrega do prêmio em Oslo
A ativista iraquiana Nadia Murad com o ginecologista congolês Denis Mukwege (centro) e o membro do comitê do Nobel Henrik Syse durante a cerimônia de entrega do prêmio em Oslo - Tobias Schwarz/AFP

Durante a cerimônia, a dupla pediu à comunidade internacional que acabe a impunidade dos autores de agressões sexuais em áreas de guerra.

"Não são os autores da violência os únicos responsáveis por seus crimes, mas também os que decidem olhar para outro lado", disse Mukwege, em seu discurso. "Se temos que vencer uma guerra é a guerra contra a indiferença que corrói nossas sociedades”.

Há 20 anos, o ginecologista cura vítimas de violências sexuais em seu hospital em Panzi, no leste da República Democrática do Congo (RDC), região assolada pela violência crônica.

"Bebês, meninas, jovens, mães, avós, e também homens e garotos, são violentados de forma cruel, frequentemente em público e de forma coletiva, com a inserção de plástico fervente e objetos cortantes em suas áreas genitais”, denunciou.

Como milhares de mulheres yazidis, a outra premiada, Nadia Murad, foi sequestrada, torturada e violentada por jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) após uma ofensiva contra sua comunidade no norte do Iraque, em 2014.

A jovem conseguiu escapar - mas sua mãe e seis irmãos foram assassinados -, converteu-se em embaixadora da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico de Pessoas e atualmente luta para que as perseguições a seu povo sejam reconhecidas como genocídio.

"Se a comunidade internacional deseja realmente ajudar às vítimas deste genocídio (...) deve assegurar a eles uma proteção internacional", declarou a jovem em seu discurso de agradecimento, no qual considerou "inconcebível" que o mundo não tenha feito mais para libertar os mais de 3 mil yazidis que ainda estão em poder do EI.

A advogada líbano-britânica e militante dos direitos humanos Amal Clooney, que se somou à causa de Nádia, compareceu à cerimônia.

Apesar de 4.300 yazidis terem escapado ou sido “comprados” do EI, ainda estão desaparecidos cerca de 2.500, segundo a Federação Internacional de Direitos Humanos.

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