Descrição de chapéu

Bush pai, marcado pelas guerras

Um dos poucos presidentes dos EUA a não reeleger-se, teve mandato pontuado por crise econômica

Clóvis Rossi

George Herbert Walker Bush poderia ter passado à história como o vencedor da Guerra Fria: afinal, foi em seu período de governo (1989-1993) que acabou a União Soviética (1991), a confederação que havia sido a arqui-inimiga ideológica dos Estados Unidos durante toda a segunda metade do século 20.

Em um palanque com braços levantados, o ex-presidente George Herbert Walker Bush faz um discurso durante evento na Alemanha
O ex-presidente George Herbert Walker Bush durante evento na Alemanha - John Macdougall/AFP

Mas, por uma dessas ironias de que a história é prenhe, Bush acabou mais conhecido pela vitória em uma guerra quente (a chamada Guerra do Golfo, a primeira), que foi pírrica e apenas adubou o pântano em que os Estados Unidos estão metidos até hoje.

Ironia acentuada pelo fato de que coube a seu filho, George Walker Bush, conduzir a segunda Guerra do Golfo.

O próprio Bush pai havia previsto os problemas que adviriam de uma invasão do Iraque que se recusou a fazer mas que seu filho acabaria consumando.

O pai dizia: "Haveria custos humanos e políticos incalculáveis (...) Seríamos forçados a ocupar Bagdá e, na prática, comandar o Iraque".

Sua recusa a ordenar o que ele previa que seria "um desastre" permitiu que o ditador iraquiano Saddam Hussein continuasse no poder.

Bush pai desalojou os iraquianos do Kuait, que haviam invadido, o que motivou a primeira Guerra do Golfo.

Não foi a única guerra de George W. H.: os Estados Unidos também invadiram o Panamá para tirar do poder o general Manuel Noriega, um antigo aliado, agora acusado de narcotráfico.

Guerras não eram propriamente uma novidade no histórico de Bush: nascido a 12 de junho de 1924, no dia do seu aniversário de 18 anos alistou-se na Marinha, depois de adiar o ingresso na universidade, como reação ao ataque japonês a Pearl Harbor, o que provocaria a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial.

Ficou como piloto da Marinha até a guerra terminar. Só então ingressou em Yale, uma universidade de elite, da qual graduou-se em 1948.


Logo em seguida, mudou-se com a família para o Texas, entrou para indústria do petróleo, e tornou-se milionário com cerca de 40 anos de idade.

Seguindo a tradição familiar (o pai fora senador), passou para a política logo após fundar sua própria empresa petrolífera, elegendo-se para a Câmara dos Representantes.

Em 1980 elegeu-se vice-presidente na chapa de Ronald Reagan. Tornou-se o candidato natural a sucedê-lo depois que Reagan cumpriu os dois mandatos, o máximo permitido pela legislação norte-americana.

Mas Bush pai foi um dos poucos presidentes a não conseguir reeleger-se. Sua vitória na primeira Guerra do Golfo lhe deu popularidade, é verdade, mas a crise econômica que marcou seu mandato derrubou-o.

É sintomático que foi na campanha para a sucessão de Bush que James Carville, o então marqueteiro de seu adversário Bill Clinton, cunhou a expressão "é a economia, estúpido", para enfatizar que Clinton deveria bater sempre na tecla das dificuldades econômicas para ganhar votos, o que de fato aconteceu.

Não importa que, nos meses finais da gestão Bush, a economia já estivesse se recuperando. A plena recuperação só ocorreu com Clinton na Casa Branca.

A vingança dos Bush viria em 2000. George Walker Bush, o continuador da dinastia, derrotou o vice-presidente de Clinton, Al Gore, em uma disputa contestada por suspeita de fraude nos votos da Flórida.

A dinastia Bush só terminaria em 2016: Jeb Bush, um dos seis filhos do casal George H.W. e Barbara Bush, foi facilmente derrotado nas primárias do Partido Republicano pelo que viria a ser o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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