O nacionalismo, que parecia em marcha triunfal para se tornar a tendência dominante principalmente na Europa mas também em outras partes do mundo, sofreu nesta segunda-feira (10) sua primeira derrota.
Derrota parcial, é verdade, mas de todo modo significativa, porque se deu no país, o Reino Unido, que dera ao nacionalismo seu triunfo mais relevante.
O “brexit”, o codinome que se deu ao nacionalismo no Reino Unido, empacou. Empacou tanto que a primeira-ministra, Theresa May, não teve coragem de submeter à votação do Parlamento o acordo definido com a Europa para o chamado “brexit suave”. Sofreria um revés de atordoar ainda mais um governo que já caminha tropegamente para a saída da Europa.
Sair da Europa foi a maneira que uma parte dos britânicos achou para pôr o Reino Unido em primeiro lugar, antecipando-se em poucos meses ao “America First” que Donald Trump entronizaria em seguida.
Com uma diferença importante: Trump teve 3 milhões de votos a menos que sua adversária, Hillary Clinton, e só se elegeu pelo método aberrante do Colégio Eleitoral. Já o “brexit” teve, sim, maioria (51,9%), nada espetacular, mas maioria, em todo o caso.
O problema é que dois anos e meio depois, ficou evidente que sair da União Europeia não era a pomada maravilha que curaria todos os males, supostos ou reais, do Reino Unido.
Ao contrário: o próprio governo que tenta encaminhar a saída divulgou, há duas semanas, um relatório em que informa que, mesmo na variante de “brexit” que iria à votação nesta terça (11), a mais branda, a economia britânica sofreria uma queda de 3,9%, no longo prazo, se comparada com a situação de permanência na Europa.
Philip Hammond, o titular da Economia, disse à BBC na época que não há algum modo de saída da Europa que aumente a prosperidade britânica. Uma maneira tecnocrática de dizer que nacionalismo não é bom negócio.
O que piora as coisas para Theresa May é que o “brexit suave” não tem o apoio de número suficiente de parlamentares pró-saída para que seja aprovado.
Dá a impressão de que esse grupo duro acredita na velha piada de quando há nevoeiro no Canal da Mancha, que separa a Inglaterra do continente: os britânicos dizem, então, que o continente é que está isolado, não a ilha.
A primeira-ministra vai, agora, tentar renegociar o acordo com os europeus, que, no entanto, não parecem ter mais nada a oferecer para deixar a ilha ainda mais isolado do continente, como pedem os duros. Restaria um “brexit” sem acordo, com consequências econômicas ainda mais severas.
Ou, então, a alternativa que era impensável até muito pouco tempo: um novo referendo para ver se, desta vez, os britânicos aceitam que o nevoeiro cobrindo o Canal da Mancha isola mais a ilha que o continente.
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