Ex-diretores da Ford são condenados por colaborar com a ditadura argentina

Réus foram considerados culpados de participar de sequestro de sindicalistas

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Pedro Muller, um dos ex-diretores condenados, deixa o tribunal em Buenos Aires - Bernardino Avila/Reuters
Buenos Aires | AFP e Reuters

Dois ex-diretores da Ford foram condenados à prisão nesta terça-feira (11) por terem participado do sequestro de funcionários da própria empresa durante a ditadura argentina (1976-1983).

Após um ano de processo, um tribunal argentino condenou Héctor Sibilla, 91, ex-diretor de segurança da empresa, a 12 anos de prisão e Pedro Muller, 86, ex-gerente de manufatura, a dez anos.

A sentença se refere à participação dos dois no sequestro de 24 pessoas em 1976 que trabalhavam em uma fábrica da Ford nos arredores de Buenos Aires.

Muller e Sibilla "forneceram os meios necessários" para agentes da ditadura identificarem membros importantes do sindicato que representava trabalhadores da fábrica "para que eles pudessem ser detidos", segundo uma nota da agência oficial de informações do Judiciário da Argentina.

Algumas das vítimas foram mantidas em cativeiro no próprio local de trabalho. 

Vários dos funcionários foram torturados em uma fábrica em General Pacheco, na periferia norte de Buenos Aires, antes de serem levados para centros clandestinos de detenção, segundo os depoimentos das vítimas.

Em 1976, quando houve o golpe de Estado que derrubou a presidente María Estela Martínez de Perón, a fábrica da Ford tinha quase 5.000 operários e 2.500 funcionários administrativos.

Casos similares foram denunciados em outras empresas, como Mercedes Benz, Renault e Fiat, mas até agora só o julgamento contra os ex-executivos da Ford pôde avançar. O julgamento se limita a determinar a responsabilidade dos acusados e não envolve a empresa.

A sentença de Muller e de Sibilla foi recebida com aplauso e choro por sobreviventes e familiares. Os dois estão atualmente em prisão domiciliar, mas terão de cumprir a pena em um presídio depois que a sentença for confirmada. 

Na mesma decisão, o general reformado Santiago Riveros foi condenado a 15 anos de prisão por dirigir o centro de detenção clandestino Campo de Mayo, ao norte de Buenos Aires e perto da sede da fábrica.

O militar, que cumpre pena por outras condenações por violações de direitos humanos durante a ditadura, foi considerado coautor de invasão ilegal de domicílio e privação ilegal de liberdade.

"Chegamos. Se não tivesse sido pela vontade e pelo apoio das pessoas, não teríamos chegado. Mas o tema dos direitos humanos está bem implantado (na Argentina), não se discute mais", afirmou Pedro Troaini, uma das vítimas.

Questionado sobre os próximos passos, Tomas Quintana, advogado das vítimas, disse que eles estão avaliando processar a Ford nos Estados Unidos.

"Está claro que a Ford Motor Company tinha controle da subsidiária argentina durante a década de 1970. Portanto, há uma responsabilidade direta da empresa e isso pode nos dar a possibilidade de levar o caso a tribunais dos EUA", disse.

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