May sobrevive por margem pequena a voto de desconfiança do Parlamento

Primeira-ministra recebeu 325 votos de apoio e 306 contrários e seguirá no cargo

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A primeira-ministra britância Theresa May durante a votação no Parlamento britânico
A primeira-ministra britância Theresa May durante a votação no Parlamento britânico - Reprodução/AFP
Paris

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, sobreviveu a um voto de desconfiança no Parlamento britânico nesta quarta-feira (16), um dia depois de sofrer o maior revés de um chefe de governo naquele plenário, com a rejeição de seu plano para o “brexit”, a saída do país da União Europeia (UE), por 230 votos.

Na quarta, a margem foi bem mais estreita. Votaram a favor de May 325 parlamentares; 306 preferiam uma troca de comando –uma diferença de apenas 19 votos. A consulta havia sido requerida pelo líder oposicionista Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista.

O que as duas votações mostram é que, ainda que muitos conservadores rechacem os termos do “divórcio” com a Europa, isso não significa que estejam dispostos a colocar seu status governista em risco. Se May tivesse perdido na quarta, estaria aberto o caminho para eleições gerais.

A primeira-ministra tem agora até segunda-feira (21) para submeter ao Legislativo um “plano B” para o rompimento de Londres com a UE. A solução pode ser adiar a separação enquanto tenta obter concessões europeias –ou até abrir mão dela por inteiro. Na oposição, ganha musculatura o movimento por um novo plebiscito.

Após o anúncio do resultado, a líder conservadora afirmou que iniciaria uma série de encontros com parlamentares sêniores e líderes de bancadas a fim de “identificar um caminho que consiga assegurar o apoio” do plenário.

Corbyn, porém, disse que só aceitaria o convite se antes ela antes garantisse que não haverá “brexit” sem algum acordo, o que um porta-voz do Executivo informou que não ocorreria.

Mais cedo, o chefe trabalhista afirmara que a adversária capitaneia um “governo zumbi”. “Se uma gestão não consegue aprovar suas leis no Parlamento, deve consultar novamente o povo sobre o mandato que lhe foi dado”, observou, referindo-se à hipótese (agora afastada) da convocação de eleições gerais.

Do outro lado do canal da Mancha veio mais uma boia de salvamento para May. Com a anuência de Alemanha e França, burocratas europeus já desenham um plano para postergar até 2020 o desligamento britânico, por ora programado para 29 de março deste ano. A informação é do jornal inglês The Times.

​Além disso, o negociador-chefe pelo lado da UE, Michel Barnier, disse que, se May recuasse em algumas de suas “linhas vermelhas”, como a oposição à permanência do Reino Unido na união aduaneira do bloco após o “brexit”, os europeus poderiam “responder favoravelmente”.

Mas a primeira-ministra indicou, na abertura do debate sobre o voto de desconfiança, que não pretende voltar atrás nesse ponto.

“O povo britânico votou pelo fim da livre circulação de pessoas [indo e vindo da Europa] e por uma política comercial independente. Cabe a este Parlamento garantir que entreguemos isso a ele”, afirmou.

A união aduaneira impediria o governo britânico de fechar acordos comerciais por conta própria, comprometendo a independência preconizada por May.

Na Europa, a chanceler alemã, Angela Merkel, também acenou com uma nova rodada de conversas. “Ainda temos tempo para negociar. Queremos que as perdas –que existirão, em qualquer caso– sejam as menores possíveis. Então, temos de encontrar uma solução ordenada conjunta”, disse.

Mas os líderes da UE repetiram em uníssono: cabe agora a Londres apresentar um roteiro alternativo.

O acordo de quase 600 páginas selado em novembro passado em princípio não poderia ser alterado, mas há margem de manobra na declaração política que o acompanhou, na qual se esboçam diretrizes para a relação comercial futura entre o Reino Unido e a União Europeia.

É a isso que Michel Barnier se referiu quando falou em “resposta favorável” do bloco. Se May mostrar que deseja manter seu país muito próximo aos “ex-sócios” (traduzindo: com uma série de normas e legislações alinhadas), a Europa pode lhe sorrir de volta e agir mais assertivamente para ajudá-la a emplacar o acordo no Parlamento.   

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