Manifestantes com coletes amarelos voltaram às ruas da França. Foi o 13º sábado consecutivo de manifestação desde o início do movimento, que começou como uma mobilização contra o aumento no preço dos combustíveis, mas se transformou numa revolta contra as políticas do governo Emmanuel Macron.
Contudo, após algumas medidas anunciadas pelo governo, como o aumento do salário mínimo, o movimento tem perdido força, após três meses desde que tomou as ruas.
Segundo o Ministério do Interior da França, 51,4 mil pessoas participaram dos atos neste sábado (9), sendo 4.000 deles em Paris. Número abaixo do que foi registrado no último dia 2, quando o governo contou 58.600 pessoas —nesse último, o movimento diz ter mobilizado 116 mil pessoas.
Em Paris, centenas de pessoas caminharam do Arco do Triunfo e da Champs-Elysées até a Torre Eiffel. "Não podemos nos render. Temos que ganhar para ter mais justiça social e fiscal neste país", disse Serge Mairesse, 63, um aposentado de Aubervilliers, próxima de Paris, que carregava um cartaz reivindicando o restabelecimento do imposto sobre fortunas —essa taxa foi reduzida por Macron.
Mairesse participava de sua 11ª manifestação desde o começo da onda de protestos, em novembro de 2018. "Este movimento expressa a autêntica raiva social neste país, as pessoas que nunca são ouvidas."
"Nós não somos crianças, somos adultos", disse Hugues Salone, engenheiro de computação de Paris, entre os manifestantes que cantavam e empunhavam cartazes. "Nós realmente queremos afirmar nossas escolhas, e não as escolhas dos políticos que não as cumprem."
Segundo uma pesquisa divulgada na quinta-feira (7), dois em cada três franceses (64%) apoiam o movimento.
Confrontos
Em Paris, manifestantes protestaram neste sábado ao lado de símbolos do poder, como a Assembleia Nacional e o Senado.
Houve confrontos com a polícia, ataques a carros e a residência oficial de político, destruição de vitrines de lojas e até de veículos policiais, o que deixou pessoas feridas, uma delas com gravidade.
A polícia efetuou 36 prisões na capital francesa.
Um dos ataques que mais chamaram a atenção foi o contra a casa de Richard Ferrand, aliado de Macron e que preside a Câmara na Assembleia Nacional francesa. Ele teve uma sala da casa queimada.
Políticos condenaram o ataque incendiário. Ferrand publicou fotos no Twitter da sala atingida e afirmou que a polícia encontrou materiais embebidos em combustível.
O presidente Emmanuel Macron reagiu ao ataque no Twitter: "Nada justifica intimidação e violência contra um representante eleito da República", escreveu.
Nas ruas, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra a polícia, e houve confronto. Os ativistas acusam os agentes de terem usado gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a multidão, deixando feridos.
Um deles foi um fotógrafo dos "coletes amarelos", que feriu gravemente a mão diante da Assembleia Nacional e foi socorrido por uma equipe de bombeiros.
Segundo Cyprien Royer, que filmou parte do acidente, o caso ocorreu quando a polícia tentava dispersar a multidão se aproximava da entrada da Assembleia e empurrava as grades que protegiam a entrada do local.
"Quando os policiais quiseram dispersar a multidão, o fotógrafo recebeu uma granada de dispersão na panturrilha. Ele quis dar um golpe com a mão para que ela não explodisse na perna, mas, quando a tocou, ela explodiu", contou Royer.
Houve manifestações também em Bordeaux, Toulouse, Nice, Marselha, Montpellier, Caen, Dijon e Lorient.
Diplomacia
O movimento está provocando um importante conflito diplomático entre França e Itália, depois que Luigi Di Magio, líder do Movimento 5 Estrelas e número 2 do governo italiano, reuniu-se na última terça-feira (5) com Christophe Chalençon, um dos líderes dos "coletes amarelos".
O encontro fez com a França, na quinta-feira (7) , convocasse para consultas seu embaixador na Itália. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a convocação se dá depois de uma série de "declarações desmedidas" e de "ataques sem fundamento" e "sem precedentes" de dirigentes italianos.
"Há vários meses, a França tem sido alvo de repetidas acusações, ataques infundados, declarações ultrajantes que todo mundo conhece e pode ter em mente", disse, em comunicado, a porta-voz do ministério, Agnès von der Mühll. "Isso é sem precedentes, desde o fim da guerra. A última interferência é uma provocação adicional e inaceitável", acrescentou ele, referindo-se à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No conflito, a França lutou ao lado dos Aliados, enquanto a Itália do ditador Benito Mussolini integrava o Eixo, com a Alemanha nazista e o Japão.
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