Índia anuncia ataque a campo de treinamento de jihadistas no Paquistão

Ataque é represália a atentado que matou 40 pessoas; país vizinho nega efetividade de ataque

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Manifestantes comemoram ataque ao Paquistão anunciado pelo governo indiano em Nova Déli - Adnan Abidi/Reuters
Nova Déli | AFP

A Índia anunciou nesta terça-feira (26) a realização de um "ataque preventivo", no qual teria matado uma grande quantidade de membros de um grupo islamita em uma área da Caxemira controlada pelo Paquistão. No entanto, o país vizinho negou que o ataque indiano tenha tido sucesso.

O ataque, de acordo com Nova Déli, teve como alvo um campo de treinamento do Jaish-e-Mohammed (JeM), grupo responsável pelo atentado suicida que matou 40 paramilitares indianos no último dia 14. 

"A Índia atacou o maior campo de treinamento do Jaish-e-Mohammed em Balakot. Na operação, muitos terroristas, treinadores, comandantes e jihadistas preparados para atentados suicidas foram eliminados", declarou Vijay Gokhale, alto funcionário do ministério indiano das Relações Exteriores. O governo do Paquistão nega que haja campos de treinamento de jihadistas em seu território.

Balakot fica a cerca de 60 km de Abottabad, no Paquistão, onde Osama Bin Laden foi encontrado e morto pelos EUA em 2011.

O ataque teria sido realizado perto das 4h, no horário local, momento em que os radares podem estar desativados ou operando de forma reduzida, disse um piloto veterano à agência Reuters. A Índia usou 12 aeronaves Mirage 2000, que levavam uma tonelada de explosivos.

De acordo com as autoridades indianas, o Jaish-e-Mohammed (JeM, Exército de Maomé), um dos grupos armados mais ativos da rebelião separatista na Caxemira, preparava novos atentados suicidas na Índia. "Diante do perigo iminente era necessário um ataque preventivo imediato", disse Gokhale.

No entanto, o Paquistão disse que o ataque indiano foi contido por sua força aérea. "Confrontados com a resposta oportuna e eficaz da Força Aérea paquistanesa, liberaram às pressas uma carga enquanto fugiam, que caiu perto de Balakot. Não há vítimas nem danos", escreveu o porta-voz das Forças Armadas paquistanesas, o general Asif Ghafoor, em uma rede social.

Ghafoor publicou fotos que mostram, segundo ele, o impacto da carga e pedaços de metal retorcido em uma parte da floresta. "A Índia violou a linha de controle" (que serve de fato como fronteira entre os dois países na Caxemira), acusou o general.

A última vez que aviões militares indianos cruzaram a fronteira do Paquistão para um ataque foi em 1971, durante a guerra ocorrida entre os dois países que teve como pano de fundo a independência de Bangladesh. 

As aeronaves indianas fizeram a incursão do lado do setor de Muzaffarabad, capital da Caxemira paquistanesa, indicou o militar em uma outra publicação no Twitter. "Entraram por três ou quatro milhas (4 a 6 km) no território."

"O Paquistão responderá no momento e no local de sua escolha", afirmou o governo paquistanês, em comunicado, publicado após uma reunião com vários ministros e representantes do Exército paquistanês. 

A Índia acusa o Paquistão de apoiar as incursões de rebeldes islamitas e a rebelião armada na Caxemira, o que o governo paquistanês nega. As duas potências nucleares do sul da Ásia disputam há sete décadas a região himalaia da Caxemira.

"A existência de infraestruturas de treinamento tão grandes, capazes de formar centenas de jihadistas, não pode funcionar sem que as autoridades percebam", afirmou o diplomata indiano.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, reuniu nesta terça-feira o comitê de segurança. À tarde, ele celebrou o ataque em um comício no oeste do país. "Posso garantir a vocês que a Índia está em boas mãos", discursou. 

O atentado de 14 de fevereiro provocou uma onda de indignação na Índia, com pedidos de represália. O primeiro-ministro cultiva uma imagem de político duro e aspira o segundo mandato.

O analista militar paquistanês Hasan Askari considera que "a iniciativa adotada pela Índia para satisfazer sua opinião pública é perigosa. "Se tais ações continuarem, podem virar um conflito maior que levará a região a uma grave crise", disse à AFP.

Islamabad, que nega facilitar as ações de militantes islamitas na Caxemira indiana assim como as atividades dos rebeldes separatistas armados, já ameaçou responder em caso de represália indiana.

Na sexta-feira o governo anunciou que assumiu o controle de um complexo suspeito de funcionar como a sede do grupo JeM em Bahawalpur (centro), frequentado por 600 estudantes e 70 professores, segundo o Ministério do Interior.

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