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Maduro ordena volta ao trabalho após uma semana de apagão na Venezuela

Aulas seguirão suspensas por mais um dia; venezuelanos enfrentam falta de água e comida

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Interior de supermercado que foi saqueado durante o apagão, em Maracaibo - Juan Barreto - 13.mar.2019/AFP
Caracas | AFP

O ditador Nicolás Maduro ordenou que os venezuelanos voltem ao trabalho nesta quinta-feira (14), uma semana após o início do pior apagão da história do país, que gerou milhões de dólares de prejuízo a um país que já estava arruinado.

A queda de energia começou na tarde de quinta-feira (7). A partir do dia seguinte, aulas e expediente foram suspensos. A situação de emergência atingiu Caracas e 22 dos 23 estados do país, que tem 30 milhões de habitantes. 

O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, assegurou que o serviço foi restabelecido praticamente em toda a Venezuela, ainda que com "pequenas falhas" em regiões onde, segundo ele, houve sabotagens em subestações depois do corte de energia. 

Algumas áreas do oeste do país seguiam no escuro nesta quarta (13). Por isso, Maduro manteve as aulas suspensas por mais 24 horas, disse Rodríguez.

Segundo a consultoria Ecoanálitica, as perdas geradas pelo apagão somam ao menos US$ 875 milhões (R$ 3,3 bilhões). A indústria está paralisada e, "para se recuperar, o país terá que buscar o apoio de [organismos] multilaterais e do setor petroleiro", opinou Asdrúbal Oliveros, diretor da Econálitica. 

"Há uma paralisação importante em muitas áreas críticas do setor petroleiro. Nesse ponto, poderíamos perder 700 mil barris diários", acrescentou o executivo. 

Com a empresa de petróleo PDVSA —responsável por da 95% arrecadação do país— operando no vermelho e minada pela corrupção, a já reduzida produção de petróleo havia caído de 3,2 milhões de barris em 2008 para 1 milhão antes do início do apagão. 

O ditador venezuelano acusa Washington de realizar ataques cibernéticos e eletromagnéticos contra a hidroelétrica de Guri, que abastece 80% da população do país.

O líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino, sustenta que o colapso se deve à negligência e corrupção do governo. "O desespero e a escuridão são provocados pela ditadura", disse.  "Maduro é o responsável pela tragédia", acusou.

"Sem água, sem luz, sem remédios, sem moeda corrente e transporte. Isto tem sido um pesadelo", declarou à AFP Victoria Milano, 40, que voltou a ter luz em casa, mas teme ficar às escuras outra vez.

Num país que sofre há anos com escassez de alimentos, a crise de energia gera perdas de US$ 5,5 milhões para os produtores de carne e laticínios, de acordo com a Federação Nacional de Pecuaristas.

Desespero por água

O problema maior agora é a água. Longas filas se formavam em torno de caminhões-pipa cedidos pelo governo e prefeituras para abastecer a população, inclusive em Caracas, onde o funcionamento das bombas de distribuição de água ainda não está normalizado e havia racionamento.

A ministra da Água, Evelyen Vásquez, disser ser complexo estabelecer em quanto tempo o serviço de distribuição voltará ao normal. "Começamos a bombear e vamos avançando progressivamente. Estamos enfrentando uma situação de ataque", afirmou.

Os hospitais têm enfrentado situações dramáticas. "Como é possível que a maternidade não tenha um gerador? Estamos usando lampiões de querosene", disse Milano, sobre as condições do hospital no qual trabalha, em Caracas.

Segundo Guaidó, 20 doentes renais morreram por falta de hemodiálise. Já a ONG Codevida denuncia que foram 15 mortos, enquanto as autoridades negam qualquer registro de mortes.

O país segue em ritmo lento. Muitos estabelecimentos comerciais e bancos seguiam fechados, enquanto o transporte público, já precário, está muito escasso.

"Desde sábado só fizemos uma refeição por dia. À noite, um mingau de aveia e só. Hoje não temos nada", disse Elena Espinoza, 38, residente em Maracaibo.

Nesta cidade, capital do estado de Zulia (noroeste), foram registrados saques em mais de 500 lojas, estimou a Câmara Nacional de Comércio e Serviços (Consecomércio).

"Das padarias roubaram tudo. De sacos de farinha a formas para fazer os pães", contou Espinoza.

Um diretor da Consecomercio, Felipe Capazzolo, advertiu que a "destruição de estabelecimentos comerciais diminui a possibilidade de abastecer com alimentos e remédios a população" em um país já castigado pela escassez.

O apagão provocou longas filas nos postos de gasolina, devido ao temor de escassez de combustível. Há também falhas nas telecomunicações. 

Apoio da China

Na quarta (13), a China, aliada de Maduro, ofereceu ajuda para restabelecer a eletricidade na Venezuela.

"A China espera que a Venezuela possa encontrar rapidamente as causas deste acidente (...) e quer oferecer assistência", afirmou o porta-voz da chancelaria chinesa, Lu Kang.

A oferta chinesa foi anunciada logo após Maduro declarar que pediria ajuda também à Rússia e ao Irã para investigar o que considera um ataque dos EUA.

O governo criou uma comissão para encontrar os responsáveis e disse ter "provas de que a sabotagem foi ordenada pelo Pentágono e o Comando Sul [do Exército dos Estados Unidos] e lançado a partir de Houston e Chicago".

Guaidó decretou estado de "emergência nacional" por 30 dias, para pedir ajuda internacional para superar a crise. A Espanha, um dos principais países a dar apoio à oposição venezuelana, ofereceu ajuda para recuperar o sistema elétrico, muito deteriorado.

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