Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

'Associação com nazismo foi usada para denegrir direita', diz chanceler

Para Ernesto Araújo, as pessoas deveriam estudar melhor e ler mais história

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Jerusalém

O ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) afirmou nesta terça-feira (2) em Jerusalém que uma nova vertente de pesquisadores vê semelhanças entre o movimento nazista e a extrema esquerda e sugere que as pessoas “estudem” e “leiam a história de uma perspectiva mais profunda”.
 
No último dia da visita do presidente Jair Bolsonaro a Israel, Araújo também afirmou que não teme possíveis sanções de países árabes-muçulmanos contra o Brasil por causa da abertura de um escritório comercial brasileiro em Jerusalém —uma espécie de reconhecimento tácito da cidade como capital de Israel, mesmo que ainda não seja a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade.

O chanceler Ernesto Araújo, durante encontro com a comunidade de brasileiros estabelecida na cidade de Raanana, em Israel - Alan Santos/PR

Segundo ele, é perfeitamente possível melhorar a relação com Israel e com o mundo árabe paralelamente: “não tem porque ser um jogo de soma zero”.

E, caso não dê certo, o Brasil vai continuar a promover “uma maior diversificação” de parceiras econômicas e comerciais com países como a China.

O senhor acaba de voltar do Museu do Holocausto. O próprio site do museu define o movimento nazista como de direita. O senhor não concorda com isso?  - É como eu digo: tem que ser visto o que se entende por essas definições de esquerda e direita. Nesses dias, têm surgido várias publicações, artigos que procuram identificar um pouco isso, estudar um pouco isso sob a perspectiva que eu procurei apontar. Semelhanças, proximidades que esses movimentos nazistas da Europa da metade do século 20 e movimentos de extrema esquerda.

Acho importante que as pessoas discutam qual é o conteúdo de diferentes movimentos totalitários para ver o que eles têm em comum. Muitas vezes, a associação do nazismo com a direita foi usada para denegrir movimentos que são considerados de direita e que não têm nada a ver com o nazismo. Quero que as pessoas estudem, leiam a história de uma perspectiva mais profunda. 
 
Aqui em Israel, não há uma discussão se os nazistas eram de esquerda ou de direita. - Acho que são termos desgastados, temos que ver o que se entende por esquerda e direita. No nosso caso, a gente, o governo Bolsonaro, o Brasil, tem essa cara porque o povo brasileiro quis. Um país que luta pela liberdade, pela democracia e a mesmo tempo quer trocas econômicas com todos os países, sem que uma coisa afete a outra. Queremos levar nossos valores, por exemplo, de defesa da família, defesa da vida. Se quiserem chamar isso de direita, é direita.

O senhor disse a um grupo de brasileiros que mora em Israel que se emocionou com esta visita. Onde?
Sim, várias vezes, desde a chegada, no aeroporto. Depois, na nossa visita ao Santo Sepulcro, no encontro dele [o presidente Bolsonaro] com o primeiro-ministro [Binyamin] Netanyahu na casa dele. Foi um jantar muito íntimo, muito amigável. E hoje, no Yad Vashem, que foi realmente muito profundo. Nunca vi uma visita presencial com esse caráter tão emocional, de amizade, de família. É como se estivéssemos realmente numa peregrinação.
 
Em termos políticos e econômicos, foi também uma viagem com novidades. - Evidente. Acho que essa coisa da amizade é a base para muita coisa boa. Nós estamos muito entusiasmados com toda essa pauta de tecnologia, cooperação em saúde, cooperação em segurança, cooperação em defesa, energia. 
 
Isso inclui compra de equipamentos israelenses? - Inclui compra, inclui a ida de companhias israelenses para investir no Brasil, a vinda do companhias brasileiras. A Petrobras, por exemplo, vai tentar entrar no mercado de gás. Vai ter um leilão de um poço ou vários poços de gás aqui na costa de Israel, e a Petrobras vai entrar na concorrência. 
 
O senhor se surpreendeu com a reação dos palestinos ao anúncio da abertura de um escritório comercial brasileiro em Jerusalém? - A preocupação é deles, e eles expressaram. Está dentro do que a gente imaginava que poderia acontecer. Nós sempre dissemos que estávamos vindo aqui não para alimentar nenhum tipo de conflito, pelo contrário. Achamos que nossa melhor relação com Israel pode contribuir para todo o Oriente Médio, para toda essa questão.
 
Mas essa decisão não levou a uma frustração do lado palestino e também do lado israelense? Afinal, Israel queria que o Brasil cumprisse a promessa de transferir a embaixada para Jerusalém.
Eu acho que não houve frustração, não. O conjunto todo da visita foi muito intenso. Acho que a embaixada, a questão de Jerusalém, como um todo, pode ser vista como parte de uma nova relação. Antes da visita, falava-se muito da questão da embaixada como uma coisa central. Mas, depois desses três dias intensos de visita, fizemos com que a expectativa de muitas pessoas de que já fosse aberta a embaixada, se diluísse.
 
A liderança palestina pediu para que embaixadores árabes no Brasil procurem o senhor e o presidente Bolsonaro para tentar demovê-los da ideia de abrir um escritório em Jerusalém. O que o senhor dirá a eles? - Estamos prontos a recebê-los. Antes da vinda, já conversamos com alguns líderes de países árabes ou de países de maioria muçulmana. Estaremos sempre prontos a falar, saber as eventuais preocupações deles.
 
Não há um temor de sanções? - Não estamos pensando nisso, não. Temos todas as condições de mostrar que as nossas intenções são inteiramente construtivas e, como eu disse, que nossa melhor relação para Israel não significa de maneira nenhuma que queiramos ter menos relações com países árabes ou do mundo muçulmano. É perfeitamente possível as duas coisas juntas. Avançar nesses dois trilhos com  a mesma velocidade. Não tem porque ser um jogo de soma zero.
 
O senhor vê o Brasil assumindo um papel de moderador do conflito entre israelenses e palestinos, como o governo Lula pregava? -  Trata-se de um processo muito delicado, nós não temos a perspectiva de sermos moderadores. Mas achamos que uma maior presença nossa nessa região através de laços maiores com Israel e com países vizinhos, pode ser um bom fator.
 
Se houver um boicote econômico do mundo árabe, o Brasil pode começar a se voltar para outras regiões como China e Índia? -  Sempre procuramos uma maior diversificação das nossas parceiras econômicas e comerciais. Então, não é por causa dessa perspectiva de boicote. A gente quer que haja ainda mais diversificação de parceiros. Isso sempre é muito, muito bom. Temos toda uma estratégia comercial de conquista de novos mercados e isso continua. Queremos entrar mais, por exemplo, no agronegócio, ramo em que a China se destaca.

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