A cidade de Chicago fez história ao eleger a ex-promotora federal Lori Lightfoot sua primeira prefeita negra.
Ela, que também será a primeira líder abertamente gay da terceira maior cidade dos Estados Unidos, derrotou a presidente da Câmara do condado de Cook, Toni Preckwinkle, por 74% a 26%, segundo o conselho eleitoral da cidade.
Lightfoot nunca ocupou cargo público e substituirá Rahm Emanuel, que não concorreu a um terceiro mandato.
O resultado histórico da votação de terça-feira (2) veio depois de as duas negras superarem 12 adversários no primeiro turno, na campanha mais disputada que Chicago já teve.
“Juntos nós podemos e finalmente colocaremos os interesses de todo o nosso povo à frente dos de uns poucos poderosos”, disse a eleita à multidão que se reuniu num hotel. “Nós podemos e vamos romper o interminável ciclo de corrupção desta cidade.”
Lightfoot, 56, fez campanha como uma reformista independente, e Preckwinkle, 72, ressaltou seus anos de experiência em cargos eletivos.
Em um discurso de vitória que citou Martin Luther King Jr. e o primeiro prefeito negro de Chicago, Harold Washington (1922-1987), Lightfoot disse que sua vitória foi um “mandato para mudanças”.
Ela prometeu abraçar a diversidade, receber imigrantes, garantir que a cidade não encolha e combater sua infame corrupção política.
Referindo-se à política de imigração do presidente Donald Trump, Lightfoot lamentou o “clima de ódio e medo” que, segundo ela, assusta imigrantes de todo o mundo.
Ao admitir a derrota, Preckwinkle comentou a natureza histórica da noite. “Não muito tempo atrás, duas mulheres afroamericanas disputando esse cargo seria impensável.”
O pleito, embora apartidário, foi disputado entre democratas, em um local que o partido domina há décadas.
Lightfoot herda o controle de uma cidade afogada em uma dívida de aposentadorias de US$ 28 bilhões, população que encolhe e índice de assassinatos que supera os de Nova York e Los Angeles.
“Vai levar alguns meses para abraçar a situação fiscal, que é o que mais importa para os investidores”, disse Triet Nguyen, sócio-gerente da Axios Advisors, de pesquisa de investimentos. “Junto com otimismo, vem muita incerteza.”
Lightfoot se apresentou como a candidata que combateria a notória reputação de corrupção de Chicago, e a campanha destacou sua liderança de uma força-tarefa que fez ampla revisão do departamento de polícia depois da morte a tiros de um adolescente desarmado, Laquan McDonald, por um policial.
Antes favorita, Preckwinkle foi prejudicada por sua conexão com o vereador Ed Burke, acusado por promotores de corrupção em janeiro —ele se declarou inocente.
O processo afirma, entre outras acusações, que ele pressionou executivos de uma rede de fast food a doar US$ 10 mil a um político, mais tarde identificado como Preckwinkle. Ele também fez um evento para angariar fundos para ela em sua casa durante a campanha.
Nenhuma das favoritas deu muitos detalhes de como iriam cuidar dos problemas financeiros da cidade, mas a eleita ganhou o endosso da câmara de comércio e de dois jornais locais.
Sob Emanuel, a cidade terminou seu processo de pedir empréstimos para pagar dívidas a vencer e destrinchou sua carteira de dívidas com swaps de taxas de juros.
As três maiores companhias de classificação de crédito hoje têm previsão estável sobre a dívida de Chicago, mas os obstáculos financeiros permanecem.
Os fundos de aposentadoria da cidade só têm 27% de lastro. Emanuel colocou as pensões no caminho da solvência ao reforçar a contribuição da prefeitura e aumentar impostos. Quando ele deixar o cargo, porém, o pagamento de aposentadorias anual exigido duplicará para mais de US$ 2 bilhões.
A próxima prefeita, que tomará posse em maio, não terá tempo para desperdiçar, disse Dora Lee, diretora de pesquisas na Belle Haven Investments, que administra US$ 8,9 bilhões em títulos municipais.
“A situação financeira de Chicago não dá a nenhum candidato muito espaço de manobra”, disse Lee. “Vai ser uma lua de mel muito curta.”
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