Socialistas vencem eleição espanhola, e ultradireita retorna ao Parlamento

PSOE, do premiê Pedro Sánchez, terá de negociar maioria; Vox, da direita radical, leva 24 cadeiras

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O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, comemora vitória de seu partido, o PSOE, nas eleições parlamentares deste domingo  - Javier Soriano/AFP
Madri

Os socialistas venceram as eleições parlamentares da Espanha neste domingo (28), mas não conquistaram maioria para governar sozinhos. Já seu principal rival, o Partido Popular (PP, de direita), sofreu um revés histórico, vendo sua bancada encolher mais de 50%.

Os resultados também confirmam a entrada, no Congresso de Deputados, do Vox, a primeira legenda de ultradireita a chegar ali desde 1979.

Não se materializou, porém a onda de conservadorismo radical que, segundo analistas, poderia alçar a sigla novata ao terceiro lugar, à frente de Cidadãos (centro) e Podemos (ultraesquerda).

Outro destaque é o alto comparecimento do eleitorado, de quase 76%, o maior desde 1996 (houve seis pleitos desde então). Segundo analistas, altas taxas de participação costumam beneficiar a esquerda no país, já que o eleitor progressista é menos assíduo nas urnas. Ou seja, se mais gente compareceu, é provável que haja mais eleitores esquerdistas.

Com 99,8% das urnas apuradas, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) tinha conquistado 123 cadeiras, um crescimento expressivo em relação às 84 atuais e a melhor marca desde 2008.

O desempenho legitima Pedro Sánchez como líder partidário. Derrotado nas eleições gerais de 2015 e 2016, que não produziram maiorias claras para formar governo, ele queria um terceiro embate com o então premiê, Mariano Rajoy (PP).

Foi forçado por correligionários a recuar do plano e acabou deixando o comando da agremiação. Voltou no ano seguinte, impulsionado pela base, e conseguiu, em junho de 2018, fazer aprovar uma moção de desconfiança na gestão Rajoy que transformou ele, Sánchez, em premiê.

Dito isso, o economista vai precisar do apoio do Podemos e de outras legendas menores para governar pela segunda vez –o “número mágico” da maioria é 176.

Dependendo dos acordos feitos com pequenas siglas regionais que obtiveram assentos parlamentares no domingo, o atual premiê poderá prescindir de negociações com o separatismo catalão, que se mostrou volúvel na relação com o PSOE.

Os independentistas ajudaram a derrubar Rajoy, mas também forçaram Sánchez a adiantar eleições que só aconteceriam em 2020 ao rejeitar seu orçamento para 2019. Era uma resposta ao estremecimento do diálogo com Madri sobre o status da Catalunha.

Após o anúncio do resultado, o líder socialista discursou para a militância reunida diante da sede do PSOE, na capital. A multidão interrompeu em vários momentos o pronunciamento com gritos de “Com Rivera, não!”, referindo-se a Albert Rivera, chefe do Cidadãos, terceiro colocado (57 eleitos).

O partido de centro deu uma guinada à direita durante a campanha, e em muitos momentos foi mais virulento em críticas aos socialistas do que o próprio PP, oponente histórico do PSOE.

“Mandamos um recado à Europa e ao resto do mundo. É possível derrotar o autoritarismo e a ‘involução’”, afirmou Sánchez. “Não vamos estabelecer cordão sanitário, como eles [do Cidadãos].”

O socialismo deve acertar uma coalizão com o Podemos. A coligação liderada pelo partido de esquerda radical sofreu um baque, passando dos atuais 67 deputados para 42, e se enfraqueceu na disputa pela primazia no campo progressista.

“Gostaríamos de ter obtido um resultado melhor, mas foi o suficiente para frear a direita”, disse o líder Pablo Iglesias, antes de acenar para o diálogo com Sánchez.

Na seara da direita, o PP terá 66 assentos, contra 134 hoje. É o pior desempenho da história do establishment conservador espanhol e coloca em xeque a liderança de Pablo Casado, que substituiu Mariano Rajoy, escanteou a ala moderada da legenda e deu ao PP embocadura muito mais reacionária do que a cristalizada nos últimos anos.

“Não vou me furtar de responsabilidade. O resultado foi muito ruim”, afirmou ele. “Nosso desempenho vem piorando há várias eleições. Vamos começar a trabalhar agora [para identificar erros].”

Criado em 2013 por egressos do PP, o Vox ingressa no Legislativo nacional com 24 deputados, marca vigorosa, porém inferior à que as pesquisas mais recentes apontavam (entre 29 e 37).

Alguns analistas viam a formação chegar até a um patamar de 15%, por causa de sua fortíssima presença em redes sociais e de um possível fenômeno de “voto envergonhado”, não declarado a entrevistadores de institutos de pesquisas.

No centro, o Cidadãos, que buscou durante a campanha se posicionar como “o” partido para quem desejasse desalojar Sánchez do Palácio da Moncloa (sede do governo), passa de 32 cadeiras a 57, o que não será suficiente para defenestrar o tradicional PP.

Mas Albert Rivera não hesitou em se apresentar a simpatizantes reunidos em Madri como novo líder da oposição. “Hoje, o Cidadãos se ergue como futuro e esperança da Espanha”, disse. “Somos o refúgio da liberdade.”

Na Catalunha, que esteve no centro do debate eleitoral por causa de seu movimento secessionista, o maior representante dessa corrente na próxima legislatura será a Esquerda Republicana, que suavizou o tom de enfrentamento com Madri durante a campanha.

Seu líder, Oriol Junqueras, está preso por participar da organização do plebiscito ilegal sobre a independência, em outubro de 2017. O julgamento dele e de outros 11 líderes daquele movimento está em curso —a sentença deve ser conhecida em outubro.

O grupo passou de 9 para 15 cadeiras. Uma delas será ocupada pela sergipana Maria Dantas, 49, radicada há mais de 20 anos na Espanha. Será a primeira brasileira a ocupar uma vaga no Congresso do país ibérico.

Já a coligação Junts per Catalunya, mais hostil ao governo central, perdeu um assento, passando de 8 para 7. A figura mais conhecida desse grupo é Carles Puigdemont, presidente regional da Catalunha no momento do plebiscito e hoje auto exilado na Bélgica.

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