Descrição de chapéu The New York Times

Trump contorna Congresso para vender armas a aliados no Oriente Médio

Comércio com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Jordânia estava bloqueado desde o ano passado

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Washington | The New York Times

O presidente Donald Trump contornou o Congresso nesta sexta-feira (24), declarando uma emergência em relação ao Irã e levando adiante venda de armas à Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Jordânia que estavam bloqueadas pelo Congresso desde o ano passado.

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante uma visita com parceiros comerciais em Tóquio
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante uma visita com parceiros comerciais em Tóquio - Brendan Smialowski/AFP

​Trump também anunciou na sexta que vai enviar 1.500 tropas adicionais ao Oriente Médio para reforçar a proteção das forças americanas que já estão ali.

O novo envio de tropas seria menor do que a linha dura na Casa Branca de Trump quer e bem abaixo do que estava sendo cogitado pelos comandantes na região.

Com as vendas de armas pendentes, Trump está de volta à sua zona de conforto, enxergando a diplomacia pela ótica das considerações econômicas e dos negócios.

A ação reforça o apoio da Casa Branca aos sauditas, ignorando a pressão do Congresso pela punição do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul, em outubro passado.

A decisão de levar adiante as vendas de armas atraiu críticas imediatas de legisladores, que também estão furiosos com o número de mortes civis na campanha de bombardeios aéreos liderada pelos sauditas no Iêmen.

Com as duas decisões, a administração Trump está recompensando aliados como a Arábia Saudita e armando-os para enfrentar o Irã e suas milícias árabes parceiras, embora o presidente continue a relutar em elevar significativamente o número de militares americanos em terra em zonas de conflito no Oriente Médio.

As duas iniciativas quase certamente serão vistas pelos líderes clericais iranianos como escaladas adicionais de Washington, um ano depois de Trump retirar os EUA de um acordo de contenção nuclear firmado em 2015 —que o Irã vinha respeitando— e voltar a impor sanções pesadas ao país.

O aumento de tropas é muito menor do que estava sendo previsto; comandantes americanos na região teriam proposto inicialmente pedir à Casa Branca um incremento de 20 mil soldados.

No final, o número real de tropas adicionais será 900, porque 600 já estão no Oriente Médio e simplesmente terão seus turnos de serviço estendidos.

“Queremos contar com proteção”, disse Trump a jornalistas quando deixou a Casa Branca para viajar ao Japão em visita de estado. “Veremos o que vai acontecer.”

A iniciativa de levar adiante a venda de armas foi fortemente condenada.

“Estou decepcionado, mas não surpreso pelo fato de a administração Trump ter deixado mais uma vez de priorizar nossos interesses de segurança nacional de longo prazo e defender os direitos humanos, e, em vez disso, prestar favores a países autoritários como Arábia Saudita”, comentou o senador Robert Menendez, de Nova Jersey, líder democrata no Comitê de Relações Exteriores do Senado.

O presidente do Comitê, senador republicano Jim Risch, do Idaho, foi mais circunspecto. Em comunicado breve, disse estar “revendo e analisando a justificativa legal desta ação e suas implicações associadas”.

Agora empresas americanas poderão vender US$ 8,1 bilhões em munições aos três países árabes, em 22 transferências que estavam pendentes.

Os dois países do Golfo travam uma guerra aérea no Iêmen que atrai críticas acirradas do Congresso e de organizações de defesa dos direitos humanos.

Algumas das munições levarão anos para ser produzidas e entregues, de modo que não é evidente como essas vendas condizem com o argumento de que as exportações visariam fazer frente a uma crise imediata com o Irã.


Segundo uma pessoa informada da decisão de Trump, parte do arranjo envolve uma transferência de munições dos EUA à Jordânia e não tem relação alguma com o Irã.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, fez forte pressão a favor das vendas, passando por cima das objeções de legisladores e funcionários de carreira do serviço diplomático dos EUA.

“Essas vendas vão apoiar nossos aliados, beneficiar a segurança no Oriente Médio e ajudar esses países a defender-se contra a República Islâmica do Irã”, disse Pompeo na tarde desta sexta-feira (24).

O secretário interino da Defesa, Patrick Shanahan, descreveu o envio de tropas como “uma medida defensiva prudente e que tem por objetivo reduzir a possibilidade de hostilidades futuras”.

Em comunicado à imprensa, ele disse que o envio vai consistir de um batalhão de mísseis de defesa Patriot —que já está no Oriente Médio e terá sua permanência estendida—, mais aeronaves adicionais de inteligência, vigilância e reconhecimento; um elemento de engenharia para aprimorar as medidas de proteção para o pessoal militar, e um esquadrão de aviões de combate. Estes podem realizar operações tanto ofensivas quanto defensivas.

O presidente tomou a decisão depois de uma reunião na quinta-feira (23) na Casa Branca com assessores seniores de segurança nacional. Ele concluiu que um aumento pequeno de tropas será suficiente.

Em briefing dado no Pentágono nesta sexta (24), funcionários do Departamento de Defesa pela primeira vez acusaram publicamente a Guarda Revolucionária iraniana de ataques contra quatro petroleiros no Golfo de Omã.

Michael Gilday, diretor do Estado-Maior Conjunto do Departamento de Defesa, disse que a inteligência americana atribuiu os ataques ao Irã. Mas não apresentou provas que fundamentem a alegação.

Autoridades disseram que Shanahan rejeitou um pedido do Comando Central militar por um envio de número maior de tropas porque receou que seria rejeitado por Trump.

Mas, em coletiva de imprensa, Gilday insistiu que 1.500 soldados foram tudo o que queria o general Kenneth McKenzie Jr., chefe do Comando Central.

O Departamento de Defesa notificou o Congresso do novo envio de tropas nesta sexta-feira (24), pouco antes de um funcionário do Departamento de Defesa ter informado legisladores sobre a declaração de emergência com o Irã e vendas de armas aos países do Golfo.

Tradução de Clara Allain 

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