Descrição de chapéu The New York Times

'Cobrem mais impostos de nós', pedem bilionários americanos

Grupo é formado por George Soros e herdeiros do império Hyatt, entre outros

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Patrick Cohen
Nova York | The New York Times

O entusiasmo por um imposto que incidiria sobre a estreita faixa dos multimilionários e bilionários dos Estados Unidos talvez não surpreenda. Afinal, a maioria dos americanos não estaria sujeita a um tributo sobre a riqueza. 

Mas agora a ideia está atraindo apoio de algumas das pessoas que estariam sujeitas à cobrança.

Uma carta divulgada online na segunda-feira (24) apela por um "imposto moderado sobre a riqueza que incidiria sobre as fortunas do um décimo mais rico dos 1% de americanos mais ricos —ou seja, sobre nós".

O "nós" inclui bilionários que ascenderam pelos próprios esforços, como o financista George Soros e Chris Hughes, cofundador do Facebook, e herdeiros de fortunas dinásticas como a cineasta Abigail Disney e Liesel Pritzker Simmons e Ian Simmons, criadores da Blue Haven Initiative, uma organização que promove investimento de impacto.

George Soros, investidor e filantropo norte-americano de origem húngara, discursa na reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF) em Davos, na Suíça - Fabrice Coffrini - 24.jan.2019

"Achamos que seria uma boa ideia", explicou Ian Simmons pelo telefone, de Boston. "Liesel e eu decidimos procurar outras pessoas e descobrir se elas consideravam a ideia boa."

A carta foi organizada nas duas últimas semanas. Dezoito pessoas, integrantes de 11 famílias, assinaram. Todas são ativas em organizações políticas e de pesquisa progressistas, algumas das quais têm como foco a disparidade cada vez maior de renda entre os americanos mais ricos e os demais cidadãos.

Uma análise recente de um relatório do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, constatou que, nas últimas três décadas, o 1% mais rico dos americanos viu alta de US$ 21 trilhões em seu patrimônio líquido, enquanto o patrimônio líquido dos 50% mais pobres da população caiu em US$ 900 bilhões.

A carta foi endereçada a todos os candidatos à Presidência e se refere especificamente a um plano proposto pela senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts. 

A proposta dela criaria um imposto que incidiria sobre domicílios com mais de US$ 50 milhões em ativos —incluindo ações, títulos, iates, carros e obras de arte. 

Ela estima que o imposto afetaria 75 mil famílias e arrecadaria US$ 2,75 trilhões em um prazo de dez anos.

O desejo de restringir a crescente concentração de riqueza sempre foi parte da mensagem básica do Partido Democrata, mas a reforma tributária promovida pelo Partido Republicano em 2017, que destinou seus maiores benefícios aos americanos com renda mais alta, revigorou o debate.

Nos últimos meses, democratas como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, e o senador Barry Sanders, de Vermont, apresentaram propostas tributárias ambiciosas e dirigidas aos contribuintes mais ricos. 

Ao mesmo tempo, eles colocaram em debate os problemas que as vantagens econômicas e políticas conferidas pelas grandes fortunas criam para a promoção dos valores democráticos.

Pesquisas conduzidas na época da apresentação dessas propostas demonstraram que cerca de 70% dos americanos apoiam impostos mais altos sobre os contribuintes mais ricos.

A atenção despertada pelo debate criou uma oportunidade de levar adiante o diálogo sobre desigualdade, responsabilidade social e impostos, disse Hughes.

"Uma coisa que desejamos, coletivamente, é ver novas pesquisas e mais ativismo na concepção de políticas públicas", acrescentou. Seu marido, Sean Eldridge, fundador da organização política progressista Stand Up America e ex-candidato ao Congresso, também é signatário da carta.

O texto declara inequivocamente que um imposto sobre o patrimônio "reforça a liberdade e democracia" dos Estados Unidos e é "patriótico" e aponta que pesquisas estimam que o 0,1% mais rico dos americanos pagará 3,2% de sua renda em impostos neste ano, ante os 7,2% pagos pelos 99% mais pobres. 

"O dinheiro da nova arrecadação tributária deveria vir das pessoas financeiramente afortunadas, e não dos americanos de renda média e baixa", afirmam na carta.

Liesel Simmons disse que um imposto sobre a riqueza poderia ajudar a enfrentar problemas como "a falta de atendimento às crianças, as dívidas educacionais, a crise dos opiáceos e a crise do clima".

Ela é parte da família Pritzker, fundadora de uma das maiores companhias de capital privado dos Estados Unidos, que inclui a cadeia de hotéis Hyatt. Outra integrante da família, Regan Pritzker, presidente da Libra Foundation, de San Francisco, também é signatária.

Membros do clube dos bilionários já haviam declarado que deveriam pagar mais impostos. Em 2011, o investidor Warren Buffett, do grupo Berkshire Hathaway, publicou artigo no qual afirmava que a alíquota real de impostos que pagava "na verdade é inferior à paga por qualquer das outras 20 pessoas em meu escritório". 

Os comentários dele levaram o ex-presidente Barack Obama e outros a pressionar por uma "regra Buffett", que faria com que bilionários pagassem pelo menos 30% de sua renda em impostos.

Em 2014, Nick Hanauer, empreendedor radicado em Seattle, publicou um memorando endereçado aos "meus colegas zilionários", apontando que "pessoas como vocês e eu estamos prosperando acima e além dos sonhos de qualquer plutocrata da história, mas o restante do país —os 99,99%— está ficando muito para trás".

Ele acrescentou que "se não fizermos alguma coisa para reparar a desigualdade gritante da economia, pagaremos por isso no futuro".

Hanauer é um dos signatários da carta divulgada na segunda-feira, assim como Molly Munger, advogada e filha de Charlie Munger, vice-presidente do conselho do Berkshire Hathaway. 

Ela e seu marido, Stephen English, outro dos signatários, são cofundadores do Advancement Project, uma organização de defesa dos direitos civis.

Outros signatários são Stephen Silberstein, cofundador da Innovative Interfaces, uma empresa de software; a filantropa e patrona das artes Agnes Gund e sua filha Catherine Gund, fundadora e diretora da Aubin Pictures; Arnold Hiatt, presidente do conselho da Stride Rite Charitable Foundation; Justin Rosenstein, cofundador da Asana, que produz software de gestão; Robert Bowditch Jr., fundador da incorporadora imobiliária MB Associates, e sua mulher, Louise; e o filho de Soros, Alexander, vice-presidente da Open Society Foundations.

O último dos signatários usou o nome "anônimo".

 
 

Tradução de Paulo Migliacci  

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