Hong Kong tem manifestação contra proposta de extradições para a China

Críticos dizem temer perseguição política do regime

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Hong Kong | Reuters e AFP

Milhares de pessoas foram às ruas de Hong Kong neste domingo (9) para protestar contra o domínio chinês e pedir mais democracia.

O principal alvo dos manifestantes é um novo projeto de lei de extradição feito pelo governo local que, segundo seus críticos, abriria a possibilidade de suspeitos serem enviados à China continental para serem julgados.

Protesto ocupa ruas de Hong Kong neste domingo (9); manifestantes criticam proposta que simplifica as extradições para a China
Protesto ocupa ruas de Hong Kong neste domingo (9); manifestantes criticam proposta que simplifica as extradições para a China - Dale de la Rey/AFP

A polícia disse que 240 mil pessoas participaram dos atos. Já os organizadores afirmaram ser mais de 1 milhão de pessoas nas ruas, o que faria dele o maior protesto já registrado desde que a antiga colônia britânica retornou para o controle chinês, em 1997 —manifestações por mais democracia em 2003 e 2014 ultrapassaram a marca de 500 mil pessoas. 

Embora oficialmente Hong Kong pertença à China, a região possui um sistema legal próprio e certa autonomia política em relação a Pequim, em um arranjo conhecido como "um país, dois sistemas".

Nos últimos anos, porém, a ditadura do Partido Comunista vem tentando aumentar seu poder sobre o território, levando a oposição pró-democracia a organizar grandes manifestações.

Um dos responsáveis por organizar o ato, o ex-congressista Martin Lee afirmou ao jornal britânico The Guardian que, se a lei for aprovada, a democracia corre risco no território.

"Se perdermos desta vez, Hong Kong não será mais Hong Kong, será apenas uma cidade chinesa", disse ele.

Aos gritos de "sem lei de extradição" e "sem leis malignas", os manifestantes ocuparam as principais ruas do território e as estações de metrô ficaram lotadas.

O principal alvo dos cartazes era executiva-chefe de Hong Kong (espécie de prefeita), Carrie Lam, defensora da lei de extradição e que conta com o apoio de Pequim. 

O protesto seguiu pacificamente na maior parte do dia, mas no final houve confronto entre as forças de segurança e os manifestantes. 

A confusão começou porque os organizadores só tinham autorização para protestar no domingo. Por isso, assim que o relógio deu meia-noite, os policiais passaram a usar bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para encerrar o ato. 

Os manifestantes, porém, responderam arremessando grades nos guardas, a quem chamaram de "cães comunistas".

Um grupo tentou ainda entrar no Parlamento. O objetivo era permanecer na Casa até a próxima quarta (12), quando está marcada a nova rodada de votação da lei, mas os manifestantes foram retirados pela polícia. Não foi divulgado o número de pessoas feridas ou de detidos. 

“Ela tem de desistir da lei e renunciar. Toda Hong Kong está contra ela”, disse o congressista James To à multidão reunida do lado de fora do Parlamento e da sede do governo no distrito comercial do Almirantado, na noite de domingo (manhã no Brasil). 

As mudanças simplificariam os processos de extradições de suspeitos procurados para a China, Macau e Taiwan. Mas é a probabilidade de que essas pessoas sejam mandadas para o continente o que assusta a população de Hong Kong. 

A oposição ao plano reuniu diversos setores da comunidade local, como pessoas do mundo dos negócios, advogados, estudantes, personalidades pró-democracia e grupos religiosos.

Desde 1997, o governo de Hong Kong não aceita nenhum dos pedidos de transferência feitos por Pequim, de acordo com o Guardian. 

Críticos da proposta questionam o sistema de Justiça chinês e demonstram preocupação com a possibilidade de que forças de segurança inventem acusações para embasar pedidos de extradição.

Governos estrangeiros alertaram ainda para os impactos na reputação de Hong Kong como um centro financeiro internacional, afirmando que estrangeiros procurados pela China poderiam ser presos no território e extraditados para Pequim.

Grupos de defesa dos direitos humanos também se manifestaram expressando preocupação com o uso de tortura, detenções arbitrárias e confissões forçadas.

Representantes do governo defenderam os planos, dizendo que as leis possuem garantias adequadas e que ninguém será extraditado se estiver enfrentando perseguição política e religiosa.

Na noite de domingo, o governo de Lam disse em comunicado que a nova lei é necessária para que o território não se transforme em um paraíso para criminosos. Ela prometeu ainda que "continuará ouvindo e acalmando as preocupações [sobre a legislação] por meio de discussões calmas e racionais". 

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