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'Meu nome é DeeDay': o inglês batizado em homenagem ao Dia D

Comerciante nasceu no mesmo dia em que as tropas aliadas desembarcaram na Normandia

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Já passava das 3 da manhã de 6 de junho de 1944 quando Bert White recebeu a notícia de que sua mulher dera à luz um menino.

A família estava em um alojamento temporário para onde foi após forças alemãs terem bombardeado, dias antes, a casa onde vivia em Hastings, cidade costeira no sudeste da Inglaterra.

Passaporte de Deeday White
DeeDay nasceu há 75 anos no mesmo dia em que tropas aliadas ocuparam a França, em movimento decisivo na Segunda Guerra - Beverley White/BBC

Quando o pescador chegou ao cartório para registrar o filho, poucas horas depois, também chegava a notícia de que milhares de tropas do Reino Unido, dos Estados Unidos, do Canadá e da França haviam desembarcado simultaneamente em cinco praias da Normandia —em um ataque às forças alemãs que ficou conhecido como Dia D.

O episódio representou a maior operação militar já realizada e marcou o início da campanha para libertar o território noroeste da Europa ocupada pelos nazistas.

Foi daí que veio a inspiração, 75 anos atrás, para White decidisse o nome do bebê: DeeDay Rodney.

Crescendo com esse nome

DeeDay —cujo nome é a junção do som da letra "D" em inglês e da palavra "dia" escrita na mesma língua— é hoje comerciante de antiguidades e admite que teve problemas inicialmente com o nome incomum que recebeu, mas não pelo motivo que você pode estar pensando.

"Eu odiava (esse nome) quando era mais novo", disse ao programa de rádio Newsday da BBC World Service.

"Eu não podia mentir sobre a minha idade, porque todo mundo sabia quando foi o Dia D."

"Então, se eu estivesse num pub tentando conseguir uma bebida quando era menor, eles sabiam. E se eu estivesse tentando conversar com uma menina mais velha, saberiam da minha idade por causa do nome", acrescenta.

Mas o vendedor de antiguidades acabou se afeiçoando ao nome depois, a ponto de também batizar o filho com ele.

A grafia desse jeito —DeeDay— foi a solução encontrada quando o registrador em Hastings se recusou, inicialmente, a permitir que Bert White desse o nome D-Day ao filho.

"Disseram ao meu pai que D-Day era como uma senha, uma palavra secreta, e não um nome verdadeiro. Mas no dia seguinte ele voltou com um jornal e disse que o Dia D não era mais segredo. Também disse ao registrador que queria grafá-lo de modo diferente e, finalmente, conseguiu", lembra DeeDay.

Foto antiga de família
O pai de DeeDay (o segundo da direita para a esquerda) se inspirou nas notícias dos desembarques do Dia D para batizar o filho (no centro) - Deeday White/Arquivo pessoal/BBC

Tradição

O filho de DeeDay nasceu em 1964 e recebeu o mesmo nome por uma questão de tradição.

"Quando ele decidiu entrar no exército, eu tive medo de que o nome pudesse lhe causar alguma angústia. Eu disse a ele que ele poderia mudá-lo se quisesse."

"Mas meu filho serviu durante anos e sempre teve o respeito dos colegas", diz o comerciante.

"É um nome muito único e estamos orgulhosos dele, mesmo tendo de contar toda essa história sempre que somos apresentados a alguém."

Como pescador, Bert White participou da Operação Dynamo, a enorme retirada de tropas aliadas do porto francês de Dunquerque, em 1940, que envolveu tanto embarcações militares quanto civis.

DeeDay, o filho, posteriormente ajudaria a restaurar o Cyril e Lilian Bishop, um bote salva-vidas ancorado em Hastings que havia sido usado na retirada em que seu pai trabalhou.

Ele localizou o navio em uma área perto de Hastings em 2013 —na época, o agricultor que detinha a propriedade da embarcação estava prestes a transformá-la em um galinheiro.

Família em frente a barco
DeeDay também coordenou a restauração de uma embarcação que participou da retirada de Dunquerque - BBC

"Ela (a embarcação) deve ter salvado milhares de vidas em Dunquerque."

O interesse de DeeDay na Segunda Guerra Mundial o levou a viajar várias vezes para a Normandia —a região francesa onde os desembarques das tropas aliadas aconteceram em 1944— para participar das comemorações anuais do Dia D.

"Eu visitei a Normandia e Dunquerque tantas vezes e, mesmo depois de tanto tempo com os veteranos, ainda é impossível imaginar o que eles passaram", diz ele sobre o assustador número de mortos que a invasão deixou.

Estima-se que 4.400 soldados aliados tenham sido mortos apenas no Dia D —outros 9.000 ficaram feridos ou estão desaparecidos desde então. Houve ainda 9.000 baixas alemãs, assim como um número desconhecido de civis franceses mortos.

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