Compra de arma antiaérea russa pela Índia é problema, dizem EUA

Nova Déli adquiriu o mesmo sistema que Turquia começou a receber, abrindo crise

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São Paulo

Após a crise aberta pela compra do sistema antiaéreo russo S-400 pela Turquia, agora é a vez de a Índia sofrer pressão dos Estados Unidos por ter encomendado a mesma arma de Moscou.​

 

"É um problema", admitiu o comandante do Pacífico das Forças Armadas dos EUA, almirante Philip Davidson, durante conferência em Aspen (EUA) no fim de semana.

No mês passado, o Departamento de Estado americano afirmou que a Índia correria o mesmo risco que a Turquia e outros compradores de sistemas de armas russos: o de ser sujeita a sanções comerciais sob uma legislação que entrou em vigor em 2017. 

Lançadores de mísseis do sistema antiaéreo S-400 em uma base militar perto de Kaliningrado (Rússia)
Lançadores de mísseis do sistema antiaéreo S-400 em uma base militar perto de Kaliningrado (Rússia) - Vitali Nevar - 11.mar.2019/Reuters

Em outubro de 2018, Nova Déli assinou um protocolo de aquisição de cinco batalhões do S-400 por US$ 5,43 bilhões (R$ 20,2 bilhões no câmbio desta segunda, 22). O país possui defesas antiaéreas antiquadas e precisa reforçar sua posição em relação à rival regional China, que por sinal já opera o S-400, um dos mais avançados modelos de sua categoria.

Na semana passada, os EUA começaram a punir a Turquia pelo recebimento dos S-400 que havia encomendado ao Kremlin por US$ 2,5 bilhões (R$ 9,3 bilhões). Suspendeu e começou o processo de exclusão de Ancara do projeto do caça de quinta geração F-35 e agora estuda a aplicação das sanções segundo a lei.

A questão turca é mais sensível porque o país é o único membro da Otan (aliança militar liderada pelos EUA) no estratégico Oriente Médio —há, inclusive, ogivas nucleares táticas guardadas na base da aliança em Incirlik.

Os americanos alegam que operar o F-35 e o S-400 no mesmo espaço aéreo permitirá ao sistema russo aprender o quão invisível ao radar é o caça americano, e temem que haja instrumentos para que esses dados cheguem a Moscou, seja por meios eletrônicos, seja por uma colaboração turca que Ancara nega ser possível.

No caso indiano, a complexidade é de outra ordem. Até pelo seu passado de luta anticolonial, a Índia tem uma política externa e de defesa não-alinhada. Isso dito, é grande cliente de armas russas: de 2013 a 2018, 60% das compras militares indianas vieram de Moscou.

Nova Déli fabrica sob licença caças russos Sukhoi-30 e tanques T-90S, e ambos os países desenvolvem juntos um caça de quinta geração e um míssil de cruzeiro. A Índia também acaba de fazer o leasing de um segundo submarino nuclear de ataque da Rússia.

Ao mesmo tempo, os indianos voam caças franceses e têm a maior frota dos cargueiros gigantes americanos C-17 fora dos EUA, além de navegar barcos de origem europeia. O país vive em tensão militar constante com os vizinhos do Paquistão, com quem já travaram quatro guerras.

A relação com os EUA, com altos e baixos, é considerada boa. Em 2005, os EUA assinaram um acordo de cooperação nuclear com os indianos, que têm a bomba, para o desenvolvimento de tecnologias civis.

Nova Déli também ganhou o status de parceiro estratégico de Washington na região, um movimento que empurrou de vez o Paquistão para a esfera de influência da China.

Assim, a administração de Donald Trump terá de medir a dosagem de punição que está disposta a aplicar no caso da compra indiana dos S-400. Na Turquia, é possível alegar risco ao F-35 e mesmo à conveniência de um membro da Otan ter tantos laços com a Rússia de Vladimir Putin.

O casamento indo-russo é bem mais estruturado e antigo, remontando ao fornecimento de material bélico já na Guerra Fria.

 
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